Congresso prepara reação a aumento do IOF
Apesar de Executivo ter recuado parcialmente, Câmara já tem projetos para frear medida
Após forte repercussão nacional acerca do anúncio da equipe econômica do governo federal em aumentar a alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre operações de crédito, o Congresso Nacional apresentou 18 Projetos de Decreto Legislativo (PDL) para derrubar as medidas. Apesar do poder Executivo ainda não ter definido se, de fato, manterá as mudanças, parlamentares e confederações reagiram negativamente.
Dentre os projetos, o líder da oposição na Câmara dos Deputados, Luciano Zucco (PL-RS) apresentou o PDL 214/25 que determina a sustação dos efeitos do aumento do imposto. A proposta conta com apoio das grandes confederações empresariais do país, dentre elas CNI (Confederação Nacional da Indústria), CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) e CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo). “Vamos conversar com o presidente da Câmara para barrar essa medida irresponsável o quanto antes”, disse Zucco.
Em meio às repercussões negativas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) almoçou no último domingo (25) em um compromisso fora da agenda com os presidentes da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Acolumbre (União Brasil-AP), para discutirem sobre o tema. Os presidentes se manifestaram abertos para diálogo, mas não firmaram compromisso em não pautarem PDLs sobre o tema. Tanto que, no dia seguinte após o encontro, Hugo Motta manifestou que “quem gasta mais do que arrecada não é vítima, é autor”.
“O Executivo não pode gastar sem freio e depois passar o volante para o Congresso segurar. O Brasil não precisa de mais imposto”, escreveu Motta em suas redes sociais.
Entenda
Na última quinta-feira (22) o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, realizaram uma coletiva de imprensa para anunciar um corte de R$ 31,3 bilhões ao Orçamento. Como forma de evitar um corte maior, anunciaram um aumento no IOF, padronizando as alíquotas do imposto em 3,5%. Para planos de previdência privada VGBL (Vida Gerador de Benefício Livre) e previdência com aportes mensais acima de R$ 50 mil, a cobrança será de 5%. Antes, o imposto tinha uma alíquota 3,38% para compras com cartão de crédito, débito e pré-pagos internacionais e 1,1% na compra de moeda estrangeira em espécie.
Contudo, após forte repercussão negativa – inclusive do próprio Banco Central (BC) – Haddad recuou e anunciou que o IOF para transferências em investimentos de fundos no exterior voltará a ser de 1,1%, para evitar especulações de mercado. A medida, porém, ainda vale para operações de crédito. Nesta segunda-feira (27), o ministro da Fazenda informou que a equipe econômica do governo federal definirá até o final desta semana as compensações do que deixará de ser arrecadado em investimentos de fundos no exterior. Segundo o ministro, a Fazenda estuda se compensará “com mais contingenciamento ou com alguma substituição”.
O Imposto sobre Operações Financeiras tem como função regular o mercado, controlar o crédito, influenciar o câmbio e conter a inflação. Ele é pago por pessoas físicas e jurídicas que realizam operações de crédito (empréstimos, câmbio e seguros) ou em casos de operações relativas a títulos ou valores mobiliários.
Impactos
Ao Correio da Manhã, o sócio-fundador do Meirelles Costa Advogados Morvan Meirelles Costa Junior destacou que caso o governo defina manter as novas alíquotas, a medida irá gerar “um efeito cascata”.
“O aumento do custo do crédito e câmbio desestimula novos investimentos e a expansão de negócios, impactando diretamente o crescimento da capacidade produtiva das empresas. Consequentemente, o consumo também é afetado, uma vez que o crédito ao consumidor se torna mais oneroso, reduzindo o poder de compra e a demanda interna”, explicou Costa Junior.
Ele ainda completou que “embora o aumento do IOF seja uma ferramenta para o governo buscar um incremento imediato na arrecadação fiscal”, o governo precisa ficar atento ao chamado “efeito Lafer”. A “curva de Laffer” é um termo econômico popularizado pela economista Jude Wanniski a partir do trabalho do também economista Arthur Laffer.
“Ou seja, efeitos contracionistas sobre a atividade econômica do aumento de carga tributária. No longo prazo, pode representar, paradoxalmente, uma base tributária menor e, consequentemente, uma arrecadação inferior ao esperado, evidenciando um trade-off [decisão em que a escolha de uma opção implica a renúncia de outras] entre o ganho fiscal de curto prazo e o crescimento econômico sustentável”, ele completou.
A reportagem também conversou com o consultor e executivo de Gestão de Riscos Rodrigo Provazzi que destacou que, do ponto de vista das empresas do setor industrial, haverá “um aumento em seus custos, “especificamente sobre o custo de empréstimo”.
“Esse é um aumento que não estava previsto no planejamento financeiro das empresas. E se for pensar que já estamos com a taxa de juros em um nível bastante elevado, ou seja, já se paga um juros alto para o empréstimo tomado, o aumento no Imposto sobre Operação Financeira deixa ainda mais alto esse custo para as empresas que são tomadoras de empréstimo”, disse ao Correio.