Sem solução, greve da Receita contribuiu para cortes no Orçamento

Categorias novamente se reuniram com governo, sem aceno positivo. Haddad reconheceu problemas

Por Gabriela Gallo

Haddad reconheceu os impactos da greve da Receita no desempenho do governo

Ao anunciar nesta quinta-feira (22) R$ 31,3 bilhões de cortes no orçamento, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reconheceu o impacto negativa que o país está sofrendo com a greve dos servidores da Receita Federal, que já dura quase 180 dias. Apesar do impacto, que levou o governo ao anúncio do corte, a situação dos analistas e auditores continua indefinida.

Os sindicatos dos Analistas Fiscais da Receita Federal (Sindifisco Nacional) e dos Analistas Tributários da Receita Federal (Sindireceita) se reuniram novamente com o Ministério de Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI), nesta quinta-feira (22). A categoria reivindica reestrutura de carreira e reajuste salarial, tanto para servidores ativos quanto aposentados. Segundo o Sindireceita, a categoria solicitou um reajuste de 9% para junho deste ano e 9,2% para abril de 2026.

Porém, de acordo com o presidente do Sindireceita, Thales Freitas, a reunião entre o governo e os sindicatos “começou tensa” porque, segundo o analista tributário, o MGI apresentou uma “proposta inaceitável”. Até o fechamento da edição, a negociação não avançara para um ponto satisfatório.

“A proposta inicialmente apresentada pelo governo foge das próprias premissas que foram apresentadas na reunião anterior porque oferecem um reajuste de apenas 4,5% para abril de 2026. E para os aposentados, tira apenas um degrau da escada de saída dos aposentados. Então, não fala da escada de entrada dos recém empossados, não reestrutura nem a escada e nem a forma de cálculo da escada de saída”, ele disse.

No funcionalismo público, a “escada de saída” se refere a um tipo de carreira onde um cargo inicial, geralmente mais acessível, serve como trampolim para funções mais bem remuneradas ou com maior responsabilidade.

“A gente está pedindo o bônus integral entre ativos e aposentados, mas que, no mínimo, colocasse uma escada de saída da AGU [Advocacia-Geral da União], que hoje está em 52% o piso. Então está totalmente inaceitável, muito aquém daquilo que se esperava”, completou Thales.

A reunião começou por volta das 16h, mas diante da falta de acordo e o “clima tenso” entre os presentes, obrigou uma pausa de no mínimo 15 minutos para as categorias se reorganizarem. Até o fechamento desta reportagem, não foram confirmadas novas negociações entre os sindicatos e o MGI.

Contingenciamento

Horas antes da reunião entre governo e servidores da Receita Federal, os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, anunciaram um bloqueio de R$ 31,3 bilhões ao Orçamento da União. Em entrevista coletiva, Simone Tebet alegou que a medida foi necessária porque os gastos previdenciários, especialmente após a Polícia Federal descobrir o esquema de fraudes contra aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), superaram as projeções. O corte de gastos será feito nos gastos não obrigatórios dos ministérios.

Mas, para além da crise previdenciária, Fernando Haddad destacou que outros pontos reforçaram a necessidade da equipe econômica do governo anunciar o corte de gastos. E como já havia sido adiantado pelo Correio da Manhã, o ministro reconheceu o impacto da paralisação de servidores da Receita Federal também influencia no bloqueio do orçamento, já que está afetando o desempenho da arrecadação federal. Diante disso, a expectativa é que o governo federal chegue a um acordo com a categoria para tentar amenizar a situação e tentar concluir a meta fiscal de deficit zero.

Reestruturação

A negociação da categoria com o Ministério da Gestão ocorreu no dia seguinte após o plenário da Câmara dos Deputados aprovar o Projeto de Lei (PL) nº 1466/25 que determina a reestruturação de carreira e reajuste salarial de algumas categorias do funcionalismo público. O PL 1466/2025 substitui a Medida Provisória (MP) nº 1286/24, publicada no final do ano passado. Como o projeto substituía a MP, ele foi encaminhado pelo Poder Executivo ao Congresso Nacional em regime de urgência, com o mesmo prazo para ser aprovado. Com isso, a Câmara teve pressa em aprovar o projeto porque ele trancava a pauta de votações da Casa. O texto segue para o Senado. O Congresso tem até o dia 2 de junho para concluir.

Porém, o projeto não abranger algumas categorias do funcionalismo público que participaram de mesas negociadoras com o MGI (como médicos e médicos veterinários). Além disso, o projeto deixou de fora questões como progressão funcional, reenquadramento e criação de carreiras que não estão previstas na proposta original.

Diante disso, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), anunciou a criação de um Grupo de Trabalho (GT) que discutirá a reforma administrativa e definirá esses pontos que ficaram de fora. Motta indicou nesta quinta-feira o deputado Pedro Paulo (PSD-RJ) para coordenar o grupo. O colegiado será formado por ao menos um representante de cada partido da Casa e terá 45 dias para apresentar uma proposta. Em meio a essas negociações, os servidores da Receita Federal esperam serem incluídos na reestruturação de carreira.