Mauro Vieira contradiz Lula sobre China e Tik Tok

Chanceler também comentou sobre as polêmicas de fala de Janja no jantar com Xi Jinping

Por Karoline Cavalcante

Segundo Vieira, Lula é quem pediu que Janja falasse

Em contradição ao que foi dito anteriormente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afirmou nesta terça-feira (20) que o governo federal não fez nenhum convite formal para que representantes da China venham ao Brasil discutir a regulamentação do TikTok, plataforma originária do país asiático. A fala foi feita durante audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) do Senado Federal.

“Não houve nenhum convite para nenhuma autoridade vir”, afirmou. "Não há, de forma alguma, programa de visita de especialistas para tratar do que quer que seja. Isso pode haver no futuro. Acho que o Brasil tem que regulamentar a questão das plataformas e, depois, é uma questão de tratar com o governo chinês. Porque também é diferente a questão dos algoritmos utilizados na China e no resto do mundo”, emendou Vieira.

A declaração, no entanto, diverge do que disse o presidente Lula na última terça-feira (13). Na ocasião, o petista afirmou ter solicitado diretamente ao presidente chinês o envio de um representante do governo de Pequim para dialogar sobre a regulamentação do ambiente digital no Brasil, com o objetivo de coibir “absurdos”. Lula declarou, ainda, que o pedido havia sido aceito e que um assessor seria enviado para participar das discussões.

Janja

Ao ser questionado pelo senador Sergio Moro (União-PR) sobre o suposto “constrangimento” envolvendo a primeira-dama, Rosângela Lula da Silva, a Janja — que tomou a palavra durante um jantar com o presidente chinês Xi Jinping, na última semana —, o chanceler explicou que a participação dela foi, na verdade, um pedido direto de Lula para que a esposa abordasse o assunto.

“Eu estava presente, e foi uma menção que o presidente Lula fez, e ele pediu o auxílio, na hora, da primeira-dama. O fato específico que foi dito foi o seguinte: que não é possível que se deixe, em plataformas digitais, a divulgação de temas de pornografia, de pedofilia e dos famosos desafios que correm nas redes digitais e que levaram à morte de uma criança de 8 anos, há pouco tempo, em Brasília, em um desafio para inalar desodorante”, iniciou Vieira.

Rui Costa

A situação ganhou destaque após um integrante da comitiva presidencial revelar ao portal G1 que a Janja teria protagonizado uma saia-justa na reunião. Ao deparar com a matéria, Lula saiu em defesa de sua esposa e questionou veementemente a forma como a informação chegou à imprensa, já que o encontro era reservado e somente havia alguns de seus ministros no local. Interlocutores revelaram à Folha de S. Paulo que o ministro da Casa Civil, Rui Costa, seria o principal suspeito do vazamento.

Em meio a rumores de desgaste dentro do governo, o presidente Lula teceu elogios a Rui Costa durante discurso na Marcha dos Prefeitos, nesta terça-feira (20), em Brasília. Na ocasião, classificou o ex-governador como “o mais bem-sucedido da história da Bahia”.

“O Rui é tratado como se fosse um cara que não deixa as coisas acontecerem. Quando, na verdade, todos vocês, prefeitos, devem ter um secretário que tem o mesmo papel que o chefe da Casa Civil. É fazer com que as coisas funcionem corretamente e que todos os secretários se dirijam a ele para que as coisas possam dar certo. Quero aproveitar, na frente dos prefeitos, agradecer o papel importante e relevante do Rui Costa”, declarou o petista. A fala é vista como uma tentativa de minimizar o impacto das notícias.

Também sobre o caso, a primeira-dama rebateu as críticas durante um evento do Ministério dos Direitos Humanos, na segunda-feira (19). Disse não admitir “que alguém me dirija dizendo que eu tenho que ficar calada”.

"Em nenhum momento eu calarei a minha voz para falar sobre isso. Em nenhum momento, em nenhuma oportunidade. Não há protocolo que me faça calar se eu tiver uma oportunidade de falar sobre isso com qualquer pessoa que seja, do maior grau ao menor grau, do mais alto nível a qualquer cidadão comum", disse Janja.