Oposição tenta emplacar CPMI do INSS nesta semana

Especialista avalia que Alcolumbre pode postergar o requerimento por um tempo

Por Gabriela Gallo

Lula tenta conseguir com Alcolumbre adiamento da CPMI do INSS

Em decorrência da polêmica quanto ao esquema de fraudes que desviou recursos de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), a oposição do governo no Congresso Nacional está cada vez mais próxima de instalar uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigar o caso. Com as assinaturas necessárias (33 de senadores e 209 de deputados federais, superando o mínimo de 27 senadores e 171 deputados, a expectativa é que a sendora Damares Alves (Republicanos-DF) protocole o pedido de criação da comissão nesta semana, com o retorno do presidente do Senado Federal, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), ao Brasil nesta quarta-feira (14).

Inicialmente, o pedido seria protocolado na semana passada. Porém, com a viagem de Alcolumbre para a Rússia e a China, a convite do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a entrega do pedido para apurar as denúncias de fraudes cometidas contra aposentados e pensionistas do INSS foi adiada.

Convite intencional

O convite do presidente da República para Alcolumbre acompanhá-lo em sua comitiva presidencial foi intencional. Assim como as negociações com o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), para não pautar a urgência do PL que concede anistia aos presos de 8 de janeiro de 2023, o presidente Lula usa a viagem para negociar agora Alcolumbre, para que o amapaense adie a implementação da comissão.

Ao Correio da Manhã, a Diretora de Relações Governamentais da BMJ Consultores Associados Ana Paula Abritta avalia que, “dada a proximidade entre Lula e Alcolumbre”, é possível que o presidente do Senado adie a leitura do requerimento que pede a criação da CPMI por um tempo. Ele, porém, “não poderá fazê-lo indefinidamente”.

Ela ainda pontuou que, independentemente do tempo que Alcolumbre consiga postergar a sessão, ele “enfrentará constrangimentos por parte da oposição, que provocará obstruções e comprometerá votações tanto no Senado quanto na Câmara, onde não tem controle".

STF

A especialista cogita uma hipótese que pode parecer inusitada. A mesma oposição que o tempo critica o Supremo Tribunal Federal (STF) poderia recorrer à Corte exigindo o direito de instalar a comissão de inquérito. A Constituição e os regimentos da Câmara e do Senado determinam que comissões são um direito das minorias. Assim, obtidas as assinaturas necessárias, elas deveriam ser instaladas.

“Há alguns pontos a serem considerados. Primeiro, existe um entendimento entre os líderes e um interesse do governo em analisar as dezenas de vetos que estão parados, aguardando decisão. Portanto, mais cedo ou mais tarde, será necessário convocar e abrir uma sessão conjunta. Além disso, se a demora for excessiva, a oposição poderá recorrer ao STF [Supremo Tribunal Federal] para reivindicar o direito constitucional de realizar CPIs. A jurisprudência atual é favorável às minorias nesse aspecto”, explicou Ana Paula Abritta.

Como exemplo, a CPI da Covid, no Senado, que investigou eventuais omissões do governo Jair Bolsonaro na pandemia, só foi instalada por determinação do Supremo. Antes disso, o então presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), postergava a instalação.

Estratégia

Assim,a analista política avalia que, para além de evitar a instalação, governo terá que adotar outras estratégias para minimizar um eventual desgaste. “A presidência deve ficar com a oposição autora do requerimento. Com isso, o governo terá que negociar um aliado do Centrão na relatoria. Tentar garantir o controle sobre as narrativas, trabalhando para que o esquema seja reconhecido como da gestão Bolsonaro e a investigação e ressarcimento dos idosos, fruto da gestão Lula”, ela pontuou.

No campo da investigação em si sobre o caso, o governo precisará convencer os partidos aliados “a indicar membros que estejam dispostos a apoiar a convocação de pessoas ligadas ao governo anterior”. E, para isso, ela avalia que é necessário liberar emendas parlamentares e cargos como moeda de troca – o que pode desencadear novas mudanças ministeriais.

Bets

Enquanto os parlamentares articulam uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito do INSS, a CPI das Bets segue com os trabalhos e ouvirá novos depoimentos nesta semana. Nesta terça-feira (13), a comissão ouvirá o depoimento da influenciadora digital e apresentadora Virgínia Pimenta da Fonseca Serrão Costa. O requerimento do depoimento foi solicitado pela relatora da comissão, senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS). Ela alega que o depoimento é necessário devido à alta popularidade da apresentadora e seu vasto alcance virtual, que conta com mais de 53 milhões de seguidores em seu instagram e demais redes sociais.

“Como uma das maiores personalidades da internet no Brasil, Virgínia desempenha um papel central na promoção de marcas e serviços, incluindo campanhas publicitárias relacionadas a jogos de azar e apostas on-line”, disse a parlamentar.

Por se tratar de uma convocação, e não um convite, Virgínia é obrigada a comparecer na sessão e prestar depoimento, no qual ela deve responder questionamentos sobre as cláusulas de seus contratos com casas de apostas esportivas.