Governo analisará tarifaço de Trump com cautela, diz Haddad

Após mais de três meses de atraso, Lula sanciona LOA 2025 com dois vetos

Por Gabriela Gallo

Ministro Fernando Haddad falou com o Correio da Manhã sobre o tarifaço.

Em meio à repercussões globais sobre o tarifaço aplicado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (partido Republicano), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o governo federal está acompanhando os desdobramentos do tarifaço dos Estados Unidos com atenção. Ele ainda disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) orientou a equipe econômica do governo a agir com cautela. “Os canais diplomáticos estão abertos, e as conversas com o governo dos Estados Unidos estão acontecendo”, declarou Haddad em conversa com jornalistas no Ministério da Fazenda, nesta quinta-feira (10).

Questionado pela imprensa, o ministro disse que ainda é cedo para eventuais previsões sobre o impacto da política econômica protecionista americana. “Como as coisas mudam a cada 24 horas no plano internacional, não há uma diretriz clara, e as pessoas estão com muita insegurança sobre o que está acontecendo com o governo dos Estados Unidos. Não é possível, nesses poucos dias transcorridos, de fazer uma avaliação criteriosa. Então, qualquer coisa que eu falasse aqui pode ser desmentida amanhã, a depender dos desdobramentos do que vai acontecer”, ponderou o chefe da Fazenda.

No dia 2 de abril, Trump anunciou uma série de tarifas para diversos países, que variavam dependendo do país. No caso do Brasil, foi estabelecida a tarifa de 10% sobre produtos brasileiros, mais os 25% aplicados anteriormente sobre aço e alumínio brasileiro. Nesta quarta-feira (9), o presidente dos Estados Unidos unificou, por 90 dias, todas as taxas a 10%, com exceção da China. A medida, contudo, não faz diferença para o Brasil, que já tinha essa taxa preestabelecida.

Mesmo diante das incertezas com o comércio estadunidense, o ministro da Fazenda reforçou que o Brasil mantém canais de diálogo abertos com os Estados Unidos e destacou que o Brasil vem ampliando, de maneira estratégica e equilibrada, sua presença no comércio internacional. “O Brasil está aumentando o comércio exterior com todos os três grandes blocos, e não um só. Estamos ampliando os mercados abertos dos produtos brasileiros desde o primeiro dia do governo Lula. Isso não vale apenas para commodities, mas também para outros bens e serviços”, ele reiterou.
Pesquisa

Um levantamento da Pesquisa Genial/Quaest aponta que a maioria da população brasileira concorda com o posicionamento do presidente da República em buscar negociar com o governo americano pela diplomacia. A pesquisa ouviu 2.004 pessoas com 16 anos ou mais, entre os dias 27 a 31 de março. Do total de entrevistados, 53% acredita que o Brasil deveria tentar reverter a situação das taxações dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros pela diplomacia e 33% avaliam que o Brasil deveria taxar os produtos norte-americanos de volta. A pesquisa tem um nível de confiança de 95% e margem de erro de dois pontos percentuais.

Questionados sobre qual a opinião referente ao presidente norte americano Donald Trump, 43% têm uma imagem negativa de Trump, 22% têm uma imagem positiva e 23% uma imagem regular do republicano. Quanto ao país Estados Unidos, as opiniões ficam divididas, mas com uma pequena maioria que tem uma imagem boa do país. Isso porque 44% das pessoas ouvidas têm uma imagem positiva dos Estados Unidos, 41% uma imagem negativa e 15% não souberam responder.

LOA

Apesar da imprevisibilidade econômica diante dessas decisões internacionais, a economia interna brasileira tornou-se mais previsível na quinta-feira (10). O presidente Lula sancionou a Lei nº 15.121/2025, que estima a receita e fixa a despesa da União para o exercício financeiro de 2025 – a Lei Orçamentária Anual (LOA) 2025. A medida é sancionada após mais de três meses de atraso por falta de acordo entre poderes Executivo e Legislativo, o que limitou os gastos do governo federal e da iniciativa pública enquanto não era aprovado.

O texto prevê um superávit primário, após compensações, de R$ 14,5 bilhões, respeitando a meta de resultado primário neutro estabelecida na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2025. O salário-mínimo está firmado em R$ 1.518, um aumento real (acima da inflação) de 2,5% em comparação com o valor do ano passado.

Lula sancionou o orçamento com dois vetos pontuais. Um de R$ 40,2 milhões que cancelou trechos do orçamento de recursos para locais específicos (cidades ou estados), mesmo que por emendas parlamentares. Segundo o Ministério do Planejamento e Orçamento, essas emendas afetavam despesas discricionárias do Poder Executivo, além de violar regras do arcabouço fiscal. Outro veto é de R$ 2,97 bilhões que seriam destinados em empréstimos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). A equipe econômica do governo aponta que o valor extrapola o limite legal no máximo (50%) dos recursos do fundo para esse tipo de operação.