PL não consegue assinaturas necessárias para urgência de PL da Anistia

Requerimento teve 165 apoios. Oposição mira em outra estratégia para suspender julgamento

Por Gabriela Gallo

Nova estratégia visa sustar processo contra Ramagem

Como prometido, o líder do PL na Câmara dos Deputados, Sóstenes Cavalcante (RJ), apresentou na reunião de líderes desta quinta-feira (3) o requerimento de urgência para votar o projeto de lei que concede anistia aos presos envolvidos nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023 (PL 2858/2022). Mas, ao contrário dos cálculos da bancada, que afirmava uma previsão de mais de 300 assinaturas, o requerimento obteve somente o apoio de 165 deputados. De acordo com o regimento interno da Câmara, é necessário o apoio de ao menos 257 deputados para incluir uma urgência automaticamente em votação. Com isso, por enquanto, o destino do PL da Anistia segue incerto.

Prevendo a expectativa, o PL foi o partido com maior número de assinaturas para o pedido de urgência – quando um projeto vai para votação diretamente para o plenário da Casa, sem precisar passar por comissões permanentes. Contudo, apesar de toda a movimentação pela anistia dos réus acusados de depredar as sedes dos Três Poderes da República estar sendo organizada pelo partido, nem no PL houve unanimidade de apoio. A bancada do PL na Câmara, a maior da Casa, conta com 92 representantes, mas as adesões da sigla chegaram a apenas 85 assinaturas. O requerimento de urgência foi divulgado com os nomes dos deputados que aderiram ao pedido de urgência da medida, mas sem divulgar os partidos dos respectivos aliados. O Correio da Manhã fez o levantamento.

Após o PL, o União Brasil foi o segundo partido com o maior número de adesões, seguido pelo Republicanos, MDB e PSD (ambos os partidos tiveram onze representantes que assinaram o documento) e PP. Como fora adiantado, o projeto contou com todo o apoio do partido Novo, que tem somente quatro representantes. Além dessas siglas, também houve adesão de parlamentares do Podemos, Avante, PRD, Cidadania e PSDB.

Nas mãos de Motta

Como não houve o número de assinaturas necessárias para levar o projeto para votação no plenário, cabe ao presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), definir como se dará o tema do PL da Anistia. Mas enquanto isso não é definido, o PL segue em obstrução na Casa – ou seja, prometendo não comparecer às comissões e ao plenário da Casa, a fim de inviabilizar a aprovação dos temas em discussão e pressionar Motta a pautar o projeto. O presidente da Câmara cogitou instalar uma comissão especial para analisar o PL 2858/2022 para alcançar um meio termo. Porém, o partido do ex-presidente Jair Bolsonaro demonstra-se inflexível com a proposta. Atualmente o texto aguarda votação na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa.

Apesar da situação, em entrevista à imprensa nesta quinta-feira, o 1º vice-presidente da Câmara, Altineu Côrtes (PL-RJ), disse que o texto está amadurecendo e deve ser votado em breve. “Na política, existe o tempo da política, isso [o projeto] está sendo amadurecido a cada dia. O presidente Hugo Motta tem uma postura de que a Casa é uma Casa da maioria. Esse amadurecimento que o líder Sóstenes está construindo, junto com os demais partidos, isso tem o tempo da política e a hora [de votar a anistia] está chegando. O Hugo Mota, como respeita a maioria, não vai se furtar de avançar com o projeto da anistia”, destacou Côrtes.

Mudança estratégica

Para além dos presos pelos atos de 8 de janeiro, a tentativa em votar o projeto visa proteger o ex-presidente Jair Bolsonaro, que se tornou réu na última semana por tentativa de golpe de Estado junto com outros sete indiciados. E diante das dificuldades em votar o PL da anistia, nesta semana a oposição iniciou uma nova estratégia. O PL encaminhou um ofício para sustar (suspender) o processo contra o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), um dos réus. O pedido se baseia na emenda constitucional (EC) 35 da Constituição, que permite que partidos políticos peçam a interrupção de uma ação penal em andamento contra congressistas.

Nesta quinta-feira, Hugo Motta acatou o recurso contra o processo contra Ramagem e o encaminhou para a CCJ, que analisará o recurso. A Câmara tem 45 dias para votar e aprovar o recursos com maioria dos votos (257). Se aprovado, o recurso seguirá para o STF.

Apesar de Ramagem ser o alvo direto do pedido, a ação visa abranger os demais réus do caso, já que o procurador-geral da República, Paulo Gonet, não individualizou os processos e encaminhou uma única ação contra todos. Ou seja, se o processo contra Ramagem for sustado, sustaria também os demais.