Manutenção da prisão de Braga Netto reforça tendência do STF

Por unanimidade, recurso do general julgado por golpe de Estado foi negado pela Primeira Turma

Por Karoline Cavalcante

Pedido de liberdade de Braga Netto foi negado pelo STF

A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, na última sexta-feira (14), manter a prisão do general Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O militar é investigado no âmbito do inquérito sobre a tentativa de golpe de Estado em 2022 e está preso preventivamente desde 14 de dezembro do ano anterior. A decisão, por unanimidade, reforça a tendência da turma que irá julgar o caso de condenação dos envolvidos.

Os advogados de Braga Netto solicitaram a revogação da prisão, com substituição por medidas cautelares, e negaram qualquer envolvimento do ex-ministro com iniciativas golpistas. A defesa argumentou que a fundamentação apresentada pela acusação era insuficiente, “carecendo de elementos concretos que demonstrem a prática de atos que, de fato, tenham causado embaraço ou interferência no andamento das investigações”.

Em plenário virtual, os cinco ministros da Turma votaram por rejeitar o recurso apresentado pela defesa. O relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, foi o primeiro a votar, afirmando que o general não apresentou argumentos “minimamente aptos a desconstituir os fundamentos da decisão que decretou a prisão preventiva”. Moraes foi acompanhado pelos demais ministros: Flávio Dino, Cármen Lúcia, Luiz Fux e Cristiano Zanin, que preside a Turma.

Articulador

O relator destacou que as apurações indicaram Braga Netto como um dos principais articuladores na organização e financiamento do golpe planejado. Ele também ressaltou que há fortes indícios de que o ex-ministro tentou, reiteradamente, embaraçar as investigações. “A permanência em liberdade do investigado atenta contra a garantia da ordem pública, devido ao risco considerável de reiteração das ações ilícitas, na medida em que não há como garantir que as condutas criminosas tenham sido cessadas”, afirmou Moraes.

O parecer do procurador-geral da República, Paulo Gonet, já se posicionava contra a soltura do general, defendendo que a fundamentação da prisão preventiva se mantinha válida. Segundo o PGR, “as tentativas do investigado de embaraçar a investigação em curso denotam a imprescindibilidade da medida extrema, dado que somente a segregação do agravante poderá garantir a cessação da prática de obstrução”.

Julgamento

Em relação ao julgamento da tentativa de golpe, o ministro Cristiano Zanin marcou para o dia 25 de março o início da análise sobre o "núcleo um", que envolve membros do alto escalão do governo e das Forças Armadas responsáveis pelas decisões mais importantes sobre o suposto golpe. A Primeira Turma do STF passará a decidir, nesta data, se aceita ou não a denúncia contra os acusados. Se a denúncia for aceita, os réus se tornarão formalmente processados. Caso o STF entenda que não há elementos suficientes para dar continuidade ao processo, o caso será arquivado.

Entre os acusados desse grupo estão o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Braga Netto e outras seis pessoas. Se condenados, serão responsabilizados por liderar uma organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, danos qualificados com violência e grave ameaça ao patrimônio da União, e com considerável prejuízo para a vítima, e, por fim, deterioração de patrimônio tombado.

A decisão sobre o julgamento gerou especulação sobre os próximos passos do STF. O advogado e cientista político Melillo Dinis comentou ao Correio da Manhã que, embora não seja possível prever o rumo do julgamento, chamou a atenção para a demora na análise dos demais núcleos. “Qual é a estratégia do relator? Até agora, somente três núcleos de seis foram analisados”, questionou Dinis.

Ainda que não haja um prazo definido para o desfecho final do caso, a expectativa é que o STF busque evitar que o processo se estenda até 2026, ano eleitoral. Os diferentes núcleos de investigação, no entanto, estão sendo analisados de forma gradual.