Em carta aberta, aliado de Lula diz que presidente está isolado
Ao Correio, especialista diz que recado é para o núcleo duro do presidente
O advogado criminalista Antonio Carlos de Almeida Castro, conhecido como Kakay, enviou uma carta aberta para diversos grupos do governo federal, além de ministros, petistas e aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O documentou foi publicado neste domingo (16). Kakay é próximo de Lula e compõe o grupo “Prerrogativas” (o “Prerrô”), formado por juristas, advogados e acadêmicos do ramo do direito com orientação progressista. Na carta, ele comparou a gestão Lula 3 com a dos outros dois mandatos do atual presidente. E, de acordo com o criminalista, o presidente mudou e está isolado.
“O Lula do 3º mandato, por circunstâncias diversas, políticas e principalmente pessoais, é outro. Não faz política. Está isolado. Capturado. Não tem ao seu lado pessoas com capacidade de falar o que ele teria que ouvir”, afirmou Kakay.
Nesta segunda-feira (17), o coordenador do Prerrogativas, Marco Aurélio Carvalho, declarou que considerou a carta aberta injusta com os movimentos nos últimos dias do presidente Lula. Em resposta, em entrevista à Globonews, Kakay destacou que se manifestou por “medo de ver a extrema direita crescer no Brasil”.
Sucessão
A carta foi publicada dois dias após a Pesquisa Datafolha apontar que 41% da população reprovam o governo Lula, enquanto 24% aprovam. É o pior índice de aprovação experimentado por Lula em todos os seus três mandatos. Os dados revelam uma considerável queda na popularidade do governo federal – em dezembro de 2024, a pesquisa apontou uma aprovação de 35% contra 34% de desaprovação. Porém, na avaliação de Kakay, a pesquisa mais preocupante para o governo federal foi um levantamento do Instituto Ipec, divulgado neste sábado (15), que apontou que 62% da população acha que Lula não deveria concorrer à reeleição em 2026.
“A pergunta é: quem é seu sucessor natural? Não foi feito um grupo ao redor do presidente, que se identifique com ele e de onde sairia o sucessor político natural, o ‘grupo’ do Lula a gente sabe quem é. E certamente não vai tirá-lo do isolamento. Ele hoje é um político preso à memória do seu passado. E isolado”, reforçou o documento.
Núcleo duro
Ao Correio da Manhã, o cientista político Isaac Jordão avaliou que a carta está voltada para a primeira-dama, Janja da Silva, e outros ministros, como o ministro da Casa Civil, Rui Costa, e o Chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Márcio Macêdo. Ele ainda explicou que, na época em que foi eleito presidente da República pela primeira vez (em 2003), o núcleo duro que compunha o governo era diferente: eles não tinham receios de apontar erros do presidente.
“A época do primeiro mandato, esse grupo era formado por medalhões do PT. Gente antiga do partido que estava com o Lula no começo, que tinha uma noção realista de quem era o Lula sindicalista, o Lula deputado, o Lula derrotado em três eleições presidenciais seguidas, essas pessoas compunham o núcleo duro do governo. E essas pessoas foram sendo ceifadas pelo Mensalão, pela Lava-Jato. [Isso] fez com que o núcleo duro que foi ascendendo e chegou ao governo com o Lula na posse em 2023, é um núcleo político que conhece um Lula vitorioso. Então, são pessoas que têm mais dedos para falar com o Lula do que essa velha guarda do PT”, avaliou Jordão.
“O político quando ele está em um mandato, ele tem que ouvir principalmente os aliados que falam as verdades inconvenientes para ele”, completou para a reportagem.
Protagonismo
Questionado pela reportagem sobre o que falta para o governo federal sair da situação em que se encontra, Isaac Jordão classifica que o Executivo não precisa necessariamente melhorar sua comunicação – tema reiterado pelo Correio da Manhã com a chegada de Sidônio Palmeira na Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Secom – mas, sim, “assumir o protagonismo da comunicação”.
“O governo precisa assumir isso e precisa entender que isso é uma estratégia de campanha constante. Não tem como parar, tem que sempre ter uma pauta, tem que sempre empurrar um novo assunto”, reiterou.