Semipresidencialismo: quais as chances da mudança?

PEC foi protocolada esta semana, ao Correio, autor revela otimismo com aprovação da proposta

Por Gabriela Gallo

Rapidez nos apoios animou Hauly com PEC

Autor da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que propõe instituir o semipresidencialismo como sistema de governo, o deputado Luiz Carlos Hauly (Podemos-PR) revelou ao Correio da Manhã seu otimismo com a forma como o projeto rapidamente ganhou adesão. Após alcançar o número mínimo de assinaturas para ser protocolado (171 assinaturas), o deputado federal Luiz Carlos Hauly (Podemos-PR) confirmou que a PEC foi protocolada, nesta quinta-feira (6), na Câmara dos Deputados e, consequentemente, já começou a tramitar. Na quinta, ela já contava com 178 assinaturas.

Hauly acredita que agora a PEC será em algum momento pautada e, eventualmente, aprovada na Câmara dos Deputados. Com o texto protocolado, a proposta agora, como etapa inicial, precisa ser votada e aprovada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Depois, ser avaliada por uma comissão especial para, finalmente, seguir para votação no plenário.

“Eu estou otimista porque o novo presidente da Câmara de Deputados na campanha assumiu o compromisso de pôr em debate a matéria e na posse também reassumiu o compromisso, na primeira entrevista coletiva, reiterando que vai abrir o debate”, afirmou Hauly, referindo-se ao deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), que foi eleito para o comando da Câmara no sábado (1o). “Eu acho que nós agora temos uma nova perspectiva de discutir a reforma política tão ansiada, tão desejada ao longo desses últimos 40 anos. Começou uma nova etapa de modernização das instituições e do regime do sistema de governo do Brasil”, reiterou o parlamentar.

Parlamentarismo

Na prática, a proposta visa a adoção de um modelo de parlamentarismo, com o poder de governar dividido entre o presidente da República e o primeiro-ministro. No modelo, o presidente exerce as funções de chefe de Estado, e a tarefa de governar, o poder Executivo, de fato, passa a ser de um primeiro-ministro junto com um gabinete de parlamentares – que, no caso da PEC, é chamado de Conselho de Ministros.

Não se trata de uma mudança fácil. O parlamentarismo foi adotado no tempo do império. Na República, houve algumas tentativas. O Brasil já chegou a adotar o sistema parlamentarista, entre 1961 e 1963, durante a gestão de João Goulart (Partido Trabalhista Brasileiro). Um plebiscito retornou à época o sistema para o presidencialismo. Depois, novo plebiscito, em 1993, manteve o presidencialismo, derrotando as outras duas possibilidades, o parlamentarismo e a monarquia.

Novo cenário

Todavia, ao Correio da Manhã, o cientista político Felipe Rodrigues ponderou que o atual cenário nacional apresenta novos elementos que podem favorecer uma eventual mudança no sistema. “Nas últimas duas décadas, o país enfrentou graves crises institucionais, incluindo dois processos de impeachment. O sistema presidencialista demonstrou fragilidades em momentos críticos, com dificuldade para resolver impasses políticos sem rupturas institucionais. Além disso, o Congresso já concentra, na prática, significativo poder através do orçamento impositivo e das emendas parlamentares”, disse Rodrigues.

Apesar disso, ele considera que ainda é cedo para julgar uma possível vitória já que avalia que não “parece haver ainda um consenso suficiente sobre esta solução”.

“Também é importante lembrar que a população brasileira historicamente prefere votar diretamente para o chefe de governo”, completou, lembrando dos dois plebiscitos já ocorridos.

A PEC

A PEC do semipresidencialismo determina um meio-termo entre o regime presidencialista e o parlamentarista. Se aprovada, a proposta determina que o presidente dividiria suas funções com um primeiro-ministro, que será escolhido pelo Congresso Nacional.

Questionado pela reportagem, o cientista político explicou que, diferentemente do parlamentarismo puro, no qual o chefe de Estado tem funções “principalmente cerimoniais”, a PEC mantém para o presidente poderes significativos. “Por exemplo, ele continua sendo comandante supremo das Forças Armadas e mantém atribuições importantes como a possibilidade de dissolver a Câmara em caso de crise política grave. O primeiro-ministro seria responsável pela ‘direção superior da administração federal’, mas vários de seus atos precisariam ser referendados pelo presidente. É um sistema de poder compartilhado, não de transferência total como no parlamentarismo”, explicou.

De qualquer modo, a medida esvaziaria os poderes do presidente da República, de forma que ele perderia o controle direto da administração federal e de interlocução com o Congresso. “Segundo o texto, caberia ao presidente nomear o primeiro-ministro após consulta aos partidos que compõem a maioria da Câmara dos Deputados. Na prática, isso significa que o presidente precisaria indicar alguém que tenha apoio parlamentar para governar”, afirmou.

“Esta redistribuição de poder reflete uma tendência já existente de fortalecimento do Congresso, especialmente diante do orçamento federal, mas a formaliza e a organiza de maneira mais clara, criando também mecanismos de responsabilização do Parlamento pelo sucesso ou fracasso do governo”, completou o cientista político.