Lula diz que Brasil pode taxar EUA, se assim fizer Trump
Em entrevista, presidente reforçou que adotar princípios de reciprocidade se o país vier a ser prejudicado
Em meio a taxações que o presidente dos Estados Unidos Donald Trump (partido Republicano) está impondo na importação de produtos de diversos países, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que, caso os EUA taxem o Brasil, o contrário também será feito. A declaração do presidente foi dada ao vivo, nesta quarta-feira (5), em entrevista coletiva a rádios de Minas Gerais.
“O mínimo de decência que merece um governo é utilizar a lei da reciprocidade. Na Organização Mundial do Comércio você tem uma permissão para taxar qualquer produto em até 35%. Para nós, o que seria interessante era os EUA baixar a taxação e nós baixarmos a taxação. Mas, se eles ou qualquer país aumentar a taxação do Brasil, nós iremos utilizar a reciprocidade e taxar eles também, ou seja, é simples e democrático”, declarou Lula.
Promessa de campanha de Trump, os Estados Unidos estão aplicando tarifas abrangentes a países que registraram um superávit comercial com os Estados Unidos – que é um saldo positivo na balança comercial, ou seja, países que estão vendendo mais produtos para os Estados Unidos do que estão comprando dos norte-americanos.
Taxação
Na última sexta-feira (31), Trump anunciou a taxação de 10% para produtos chineses. Em resposta, o governo da China declarou que, à partir de segunda-feira (10), produtos oriundos dos Estados Unidos – carvão e gás natural liquefeito – terão uma tarifa adicional de 15%. Também foi anunciada uma tarifa adicional de 10% sobre petróleo, máquinas agrícolas, carros de grande cilindrada e caminhonetes.
O presidente norte-americano chegou a anunciar anteriormente uma taxação de 25% sobre importações de produtos do México e do Canadá, além de uma tarifa adicional de 10% sobre a energia canadense. Os países chegaram a um acordo e Trump decretou, nesta segunda-feira (3), que iria suspender a taxação de produtos dos países vizinhos na América do Norte durante o período de um mês – mas após o período, produtos desses países voltariam a ter uma tarifa adicional.
Diante desse quadro, o governo brasileiro adotou um posicionamento semelhante à China, caso venha a ser taxado. Por enquanto, não há expectativas para o Brasil ser taxado já que, ao contrário da China, Canadá e México, o país registrou um déficit comercial – ou seja, o Brasil comprou mais do que vendeu aos norte-americanos.
Brics
Todavia, Donald Trump declarou que aplicará tarifas adicionais de 100% caso o bloco do Brics buscasse uma alternativa ao dólar para trocas comerciais.
O Brics é um bloco de cooperação formado por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e outros países que, em conjunto, buscam alternativas para avançar no desenvolvimento socioeconômico e garantir o crescimento de suas economias.
Desde o ano passado, os países que englobam o bloco discutem a alternativa de adotarem uma moeda em comum para realizar o comércio em si, que não seja o dólar. Previsões do Fundo Monetário Internacional estimam que, em 2027, estes países serão responsáveis por 33,9% do PIB (Produto Interno Bruto) mundial, deixando para trás o G7 (grupo dos sete países mais desenvolvidos e industrializados do mundo), que cairá para 28,26%.
“Nenhum país, por mais importante que seja, pode brigar com todo mundo a todo termpo. Os Brics significam praticamente metade de população mundial, quase metade do comércio exterior do mundo. E nós [do Brics] temos o direito de discutir a criação de uma forma de comercialização que a gente não dependa só do dólar”, destacou o presidente durante a entrevista.
Questionado, Lula disse que espera manter uma boa relação diplomática com os Estados Unidos, mas completou que o país está se isolando do restante do mundo. “Os Estados Unidos também precisam do mundo”, afirmou o brasileiro à imprensa.