Centro-direita pressiona Lula por mais espaço no governo

Em entrevista, presidente tenta demonstrar despreocupação com críticas

Por Karoline Cavalcante

Marcos Pereira segue Kassab nas críticas ao governo

Nos bastidores do governo federal, um clima de tensão se intensifica à medida que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enfrenta pressões de representantes da centro-direita por mais espaço na Esplanada. Após declarações recentes do presidente do PSD, Gilberto Kassab, que já vinha pressionando o governo, nesta quinta-feira (30), foi a vez de Marcos Pereira, presidente do Republicanos, apertar o cerco para 2026. Lula, porém, respondeu estar “despreocupado”, pois o pleito é daqui a dois anos.

Apesar de contar com um representante do partido no governo, Pereira indicou que a tendência do Republicanos é apoiar um candidato da centro-direita para a Presidência nas eleições de 2026. A declaração foi feita em entrevista ao jornal O Globo.

“Eu só debato 2026 em 2026. Não posso dizer se estaremos com o Lula, quem dirá é a Executiva do partido. A tendência do partido é caminhar com alguém de centro-direita nas eleições presidenciais, mas não podemos cravar agora. Podemos ir para cá ou para lá. Vamos decidir à frente”, afirmou o deputado.

Ao mencionar a última pesquisa do Instituto Quaest, divulgada na segunda-feira (27), que mostrou que, pela primeira vez, o índice de desaprovação (49%) do terceiro mandato do presidente Lula superou o de aprovação (47%), Marcos Pereira avaliou o governo como “sem rumo”.

“Eu acho que o governo está um pouco sem rumo, sem direção. Falta entrosamento interno. Os ministros se contradizem, portarias são revogadas. É preciso haver mais pragmatismo”, acrescentou.

Busca por espaço

Para o cientista político Isaac Jordão, Pereira percebeu a oportunidade de aumentar a força política de seu partido, especialmente diante da pressão crescente de Kassab sobre o governo.

"Kassab está desde o final do ano passado apertando o governo. Ele conseguiu coordenar com grandes nomes do PSD para organizar pressão sobre o governo entre o final de dezembro e agora. Eu vejo que o Marcos Pereira sentiu cheiro de sangue na água e decidiu apertar o governo também, para não perder força comparado com o Kassab e também aumentar o poder do Republicanos”, explicou o especialista.

Na análise de Jordão, a relação entre Kassab e Pereira não deve resultar em uma aliança estratégica. "Não vejo uma composição dos dois nesta situação. Eu vejo que estão os dois tentando aumentar sua participação no governo e ganhar espaço” finalizou o cientista político.

Despreocupado

Em entrevista à imprensa concedida no Planalto nesta quinta-feira, Lula respondeu a fala de Pereira. “Se o Republicanos vai me apoiar ou não em 2026, deixa chegar em 2026. Não vamos tentar antecipar dois anos. O meu problema agora é fazer com que 2025 seja o ano da melhor colheita política deste país para o meu governo”, afirmou o presidente.

O petista ironizou, ainda, a declaração de Kassab da última quarta-feira (39) no Latin America Investment Conference (Laic), quando afirmou que, embora Lula seja um candidato forte, perderia as eleições caso fossem hoje. Segundo o presidente, não há preocupação, já que o pleito é daqui a dois anos. “Quando eu vi a história do companheiro Kassab, eu comecei a rir. Eu olhei no calendário e vi que a eleição vai ser só daqui a dois anos eu fiquei muito despreocupado, porque hoje não tem eleição”, rebateu Lula.

“Eu acho que ele foi injusto com o companheiro Haddad. Eu posso não gostar de uma pessoa e ter crítica pessoal a uma pessoa, mas não reconhecer que ele começou nosso governo coordenando a PEC da Transição. Porque nós não tínhamos dinheiro para governar em 2023. A gente conseguiu aprovar a PEC da Transição”, prosseguiu o petista. No Laic, Kassab também havia afirmado que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, é “fraco” e tem dificuldades em conduzir a política econômica do país.