Por: Gabriela Gallo

Reeleito, Ricardo Nunes pede união "de todos"

Ricardo Nunes comandará a cidade de São Paulo por mais quatro anos | Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Cumprindo o que estava previsto nas pesquisas eleitorais, Ricardo Nunes (MDB) foi reeleito prefeito de São Paulo por 59,35% dos votos. Ele venceu o segundo turno das eleições municipais, neste domingo (27), na disputa contra o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), que teve 40,65% dos votos. A diferença entre os candidatos quase chegou a um milhão e 70 mil votos.

Em seu discurso após eleito, Nunes declarou que “os próximos quatro anos serão os melhores da história da cidade de São Paulo”. E fez uma sinalização contrária à polarização política, num apelo de união a partir de agora.

“A campanha terminou. Não é hora de olhar para trás, é olhar de seguir em frente. A hora das diferenças passou, vamos governar para todos”, disse.

Eleito, Nunes tentou descolar de sua candidatura qualquer extremismo. “O arco da minha campanha reuniu o centro e a direita, os extremos nunca”, afirmou. “O equilíbrio venceu todos os extremismos. São Paulo falou e a voz de São Paulo precisa ser ouvida. O nosso povo enviou um recado para o Brasil inteiro: política sim, mas com resultado”, afirmou o prefeito reeleito.

“Líder maior”

Em seu discurso após eleito, Nunes agradeceu ao apoio do governador do estado, Tarcísio de Freitas (Republicanos), o qual o prefeito se referiu a ele como “líder maior”. Foi interpretado como um recado ao ex-presidente Jair Bolsonaro, que apoiava Nunes mas sem demonstrar entusiasmo. Em um almoço ao final da campanha, chegou a dizer que o candidato à Presidência em 2026 era ele, constrangendo Tarcísio.

PCC

Porém, uma declaração do governador pode causar problemas ao mandato dele e de Nunes. Durante uma coletiva de imprensa na manhã de domingo (27), ao lado de Ricardo Nunes, Tarcísio de Freitas (Republicanos) foi questionado sobre um “salve” da organização criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) para que não se votasse na candidata à Prefeitura de Santos, Rosana Valle (PL).

Sem apresentar evidências, o governador disse que o mesmo aconteceu na capital paulista, alegando que as autoridades de inteligência paulistas encontraram um comunicado entre os membros da organização criminosa para que votassem em Guilherme Boulos. “Salve” é uma expressão adotada pelos membros do PCC para se referir a comunicados internos da organização.

“A gente vem alertando isso há um tempo sobre o crime organizado na política. Então, nós fizemos um trabalho grande de inteligência, temos trocado informações com Tribunal Regional Eleitoral para que providências sejam tomadas”, afirmou Tarcísio.

Boulos negou as acusações de Tarcísio, alegando que se tratam de mentiras para tentar associá-lo ao crime organizado. A campanha do candidato encaminhou ao Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) uma Ação de Investigação Judicial Eleitoral por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação por Tarcísio e Nunes. Na ação, o candidato do Psol solicita a inelegibilidade do governador e do prefeito reeleito de São Paulo. O TRE-SP recebeu a ação ainda neste domingo.

“Esse é o laudo falso do segundo turno. Eu tive, às vésperas do primeiro turno, um laudo falso tentando me atribuir o uso de drogas, foi desmascarado pela Polícia Civil, pela Polícia Federal, pela imprensa. Agora, no dia da eleição, na boca do governador do estado, vem mais um ataque, uma mentira inacreditável, ao lado do meu aniversário”, afirmou Boulos, lembrando que o então candidato Pablo Marçal (PRTB) divulgou um laudo médico falso para acusá-lo de uso de cocaína e demais drogas.
Horas depois da coletiva de Tarcísio, ainda no domingo, o secretário Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça, Mário Luiz Sarrubbo, informou que a equipe de inteligência do governo federal não recebeu nenhuma informação sobre a suposta orientação do PCC para votar em Boulos.

“Salves”

Os “salves” se tratam de três bilhetes supostamente atribuídos aos membros do PCC. Dois bilhetes foram apreendidos em 12 de setembro e o terceiro foi apreendido em 30 de setembro. Os bilhetes, escritos à mão, foram anexados a um relatório de inteligência do governo do Estado de São Paulo e serão encaminhados à Justiça para análise.

O primeiro manuscrito, encontrado durante um procedimento de revista geral na penitenciária de Riolândia, solicita que os membros orientem suas famílias a votarem em Guilherme Boulos e Marta Suplicy. No segundo, encontrado no Centro de Detenção Provisória IV de Pinheiros, os presos afirmavam que tinham uma “sintonia” para que os detentos votassem no candidato do PSOL.

O terceiro foi encontrado num carrinho de distribuição de alimentos na penitenciária de Guareí e reforça o mesmo pedido. Não há evidência em nenhum dos três salves de que o candidato do PSOL tenha solicitado apoio ou oferecido alguma coisa em troca. Todas as informações sobre os bilhetes são do portal UOL.