A ascensão do centro no primeiro turno das eleições municipais, especialmente o PSD, pode alterar o cenário político para 2026. É o que avalia ao Correio da Manhã o cientista político Rócio Barreto. Para Barreto, ao contrário do que aconteceu desde 2018, partidos como o PSD, o MDB, o PP e o União Brasil retornam agora ao centro político, saindo dos extremos para os quais tinham sido empurrados nas eleições anteriores.
“Uma análise que podemos fazer em relação ao sucesso dos partidos como PSD, MDB, PP e o próprio União é que, no espectro ideológico, eles foram empurrados dos extremos para o centro, diferentemente de 2018, 2020 e até 2022, quando observamos uma polarização nas eleições”, observou Rócio Barreto.
Com essa nova conformação, o cientista político acredita que a polarização não mais será o foco do debate político na próxima eleição nacional em 2026. E isso poderá acabar provocando mudanças no debate, que antes ficou concentrado na disputa que colocava de um lado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do outro o ex-presidente Jair Bolsonaro. Em princípio, Lula será candidato à reeleição. Mas Bolsonaro está inelegível, por determinação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
“Creio que não haverá polarização na presidência da República, e a valorização dos candidatos de centro-direita e também de centro-esquerda será um pouco maior, sendo mais reconhecidos pela sociedade como opções viáveis”, avaliou o especialista.
Kassab
A avaliação feita por Rócio Barreto ao Correio da Manhã encontra eco nas declarações dadas pelo presidente do PSD, Gilberto Kassab, secretário estadual de Governo de São Paulo, desde domingo (6). O PSD foi o grande vitorioso das eleições. Fez 878 prefeitos, sendo três de capitais.
O PSD tem três ministérios no governo Lula. Mas tem também a principal secretaria do governo de São Paulo, administrado por Tarcísio de Freitas, do Republicanos, nome cogitado pela direita para disputar a presidência em 2026.
Assim, Kassab declarou que não há alinhamento automático do PSD à reeleição de Lula. E não há também apoio automático à pretensão de Tarcísio de Freitas. Ele chegou mesmo a afirmar que o próprio PSD teria opções de nomes para a disputa. E citou o governador do Paraná, Ratinho Júnior, e mesmo o prefeito reeleito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes.
Em entrevista ao jornal O Globo, Kassab admitiu que vencer Lula em uma corrida eleitoral é uma tarefa desafiadora.
“Se o PSD tiver um candidato à presidência, hoje o nome é o do governador do Paraná, Ratinho Jr. No entanto, isso também pode não acontecer. Em 2022, tínhamos nomes posicionados com alianças mais à direita, como o próprio Ratinho, e outros mais à esquerda, o que nos impediu de lançar uma candidatura. Se o Tarcísio concorrer, vou ponderar com o partido que o melhor seria apoiá-lo”, explicou.
Reeleição
No entanto, ele ponderou que vê uma possibilidade maior na reeleição de Tarcísio para o Estado de São Paulo. Na avaliação de alguns, no fundo esse é que seria mesmo o desejo de Kassab. Neste caso, a informação é que ele cogitaria o cargo de vice-governador na chapa.
“Lula não pode ser menosprezado nunca. É um dos motivos para eu achar que o Tarcísio não deveria concorrer à Presidência. Enfrentar o Lula nunca é fácil. E a avaliação dele não é ruim, é regular — o que não é nada mal para alguém que há alguns anos estava numa situação muito difícil. Tenho certeza de que ele será candidato”, disse Kassab. “Se ele (Tarcísio) perder a eleição presidencial em 2026, São Paulo perde também um grande governador”, acrescentou.
2030
Nas eleições de 2030, em um cenário em que Lula não poderá se candidatar, Kassab avaliou que Tarcísio poderá "chegar com mais musculatura", uma vez que ele representa uma versão da direita que dialoga, diferentemente do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Assim, caso os dois sejam adversários, o candidato do Republicanos terá grandes chances de sair vitorioso.
“Se tiver, que saia o melhor. Se for o Bolsonaro, aí Tarcísio pode ser vice. Mas não sei, acho que ele (Tarcísio) estará muito bem. Tarcísio é uma liderança inconteste da direita. Se houver dois líderes da direita no Brasil, são Tarcísio e Bolsonaro. Os partidos de centro vão preferir caminhar num diálogo com o Tarcísio, já que o Bolsonaro nunca quis dialogar”.