Por: Gabriela Gallo

Após críticas de Zelensky, Lula diz que conflito é "diplomático"

Lula disse que Zelensky não está sendo "esperto" | Foto: Ricardo Stuckert/PR

Durante a 79ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York (EUA), o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, criticou, nesta quarta-feira (25), a proposta de paz que vem sendo elaborada pelo Brasil e pela China. A articulação sino-brasileira começou a ser elaborada quando o chefe da Assessoria Especial do Presidente da República, Celso Amorim, visitou Pequim (capital da China), em maio. Os países emitiram uma proposta de nome: "Entendimentos Comuns entre a China e o Brasil sobre a Solução Política da Crise na Ucrânia", onde defendem uma solução política para a crise.

"Quando a dupla China e Brasil tenta convencer outros a apoiá-los, na Europa, na África, propondo uma alternativa a uma paz plena e justa, surge a pergunta: qual é o verdadeiro interesse deles? Todos precisam entender que não terão mais poder às custas da Ucrânia", disse Zelensky que, nos bastidores, vem atuando para que seu próprio plano seja o único a ser considerado como uma saída para a guerra.

O documento desenvolvido pelo Brasil e China apresenta seis pontos para tentar dar um fim à guerra entre Rússia e Ucrânia. São eles: (1) não escalada de ambos os lados; (2) a realização de uma conferência internacional de paz; (3) assistência humanitária e troca de prisioneiros de guerra; (4) não utilização de armas de destruição em massa; (5) não atacar alvos nucleares, e (6) garantir a estabilidade das cadeias industriais e abastecimentos globais.

Nesta sexta-feira (27), os países agendaram uma reunião com 20 países emergentes na intenção de lançar as bases para uma conferência de paz.

“Esperto”

Após as críticas do presidente ucraniano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse, ainda nesta quarta-feira, que se Zelensky fosse “esperto”, ele perceberia que a solução do conflito entre Rússia e Ucrânia é “diplomática, não militar”.

“E isso depende de capacidade de sentar e conversar. Ouvir o contrário e tentar chegar a um acordo para que o povo ucraniano tenha sossego na vida”, retrucou.

O brasileiro ainda reconheceu que era “óbvio” que o presidente ucraniano iria defender a soberania de seu país. “Ele tem que ser contra ocupação territorial, é a obrigação dele. O que ele não está conseguindo fazer é a paz. E o que nós estamos propondo fazer não é a paz por ele. Nós estamos é chamando a atenção para que eles levem em consideração que somente a paz vai garantir que a Ucrânia sobreviva enquanto país soberano e a Rússia sobreviva. É isso que nós estamos falando”, reiterou.

Líbano

Ainda falando sobre guerras, o presidente Lula usou seu espaço de fala em seu último compromisso na assembleia da ONU para condenar o conflito entre Israel e o Hezbollah no Líbano. Em uma coletiva de imprensa, ele chamou atenção para o número de mortos: 620 mortes no Líbano, dentre elas 94 mulheres e 50 crianças, além de 2.058 feridos e 10 mil pessoas forçadas a recuar e esvaziar suas casas. “É o maior número de mortos desde a guerra civil que durou entre 1975 e 1990”, completou Lula.

O presidente ainda afirmou que países que dão sustentação ao discurso do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, precisam se esforçar mais para que as mortes de inocentes parem.

“Eu condeno de forma veemente esse comportamento do governo de Israel que eu tenho certeza que a maioria do povo de Israel não concorda com esse genocídio. Também estamos brigando para libertar os reféns do Hamas. Não tem sentido fazer de reféns pessoas inocentes. É importante que o Hamas contribua para que haja mais eloquência para liberar os reféns. Eu acho que a humanidade não pode conviver e aceitar como normalidade o que está acontecendo em Israel, na Faixa de Gaza, no Líbano, na Cisjordânia”, completou o brasileiro.

O presidente Lula ainda reforçou que, para se resolver da melhor forma possível os conflitos globais, é necessário reestruturar os membros das Nações Unidas, trazendo maior representatividade de outros continentes.

“A geopolítica de hoje é diferente da de 1945, a importância dos países também é diferente para mais ou para menos. Então o que estamos defendendo é que haja uma nova geopolítica para que a gente possa ter a totalidade dos continentes representados na ONU, inclusive no Conselho de Segurança acabando com o direito de veto e aumentando o poder de comando das Nações Unidas”, destacou.