Por: Gabriela Gallo

Embate na Câmara pode ser racha no Centrão? Analistas explicam

Lira no comando do Centrão. O bloco rachou na disputa pela Câmara? | Foto: Lula Marques/ Agência Brasil

As negociações para a disputa das eleições no Congresso Nacional seguem a todo vapor. Enquanto no Senado, o nome do senador Davi Alcolumbre (União-AP) prevalece na disputa interna, na Câmara dos Deputados já não há tanta certeza.

Desde que o candidato Marcos Pereira (Republicanos-SP) desistiu de sua candidatura para apoiar o colega de partido, o líder na Câmara, Hugo Motta (PB), a situação mudou na Casa. Isso porque em pouco tempo Motta passou de esquecido para favorito, avaliado como um candidato mais conciliador e moderado que seus adversários. Mas ele não conquistou o consenso pretendido. Outros dois nomes na disputa, os candidatos pelo União Brasil, Elmar Nascimento (BA), e pelo PSD, Antonio Brito (BA), se mantiveram na disputa e uniram forças para tentar enfraquecer Motta na disputa pelo comando hoje de Arthur Lira (PP-AL).

Diante disso, os partidos que compõem o Centrão se encontram divididos. De um lado, estão os partidos PP, PL e Republicanos apoiando Hugo Motta. Do outro, está o União Brasil e o PSD com a aliança entre Elmar Nascimento e Antônio Brito. Como o PT e os partidos de esquerda não têm forças para lançar um candidato próprio, o embate ficará entre esses três.

Racha?

Essa divisão quanto aos candidatos à presidência da Câmara leva ao questionamento se a candidatura de Hugo Motta levou a um rompimento e um racha no Centrão dentro da Câmara – tese defendida pelo cientista político Isaac Jordão, em conversa com o Correio da Manhã.

“O racha é dado. A saída antecipada de Marcos Pereira e a entrada de Hugo Motta embolou o meio de campo completamente, principalmente porque ambos os candidatos anteriores (Elmar e Brito) estavam com dificuldades de agregar os votos dos pares. Isso ajuda a mostrar o quanto o Centrão não é uma força monolítica como costuma se colocar”, disse o cientista político.

No entanto, o professor de Ciência Política no Centro Universitário UDF André Rosa, avalia que é um exagero se referir a situação da Câmara como um racha no Centrão.

“Houve uma fragmentação, mas não quer dizer que existiu uma rota de colisão. Na realidade, essas candidaturas que, de início têm uma articulação para que se formem, estão dispostas para romper a qualquer momento. Então, não é necessariamente um racha central, mas um jogo de interesses que, após as eleições, tende a se normalizar”, destacou o cientista político.

Na mesma linha de análise, o analista político Leandro Gabiati afirma que o que está acontecendo na Câmara não se trata de um racha, mas uma cisão (divisão) entre os partidos em decorrência da mudança de postura de Lira – que sinalizou apoio a Elmar Nascimento ao longo do último ano, mas mudou o apoio para Hugo Motta por uma questão de estratégia.

“Essa cisão que envolve a disputa pela Câmara é algo que será permanente. Tudo é dinâmico na política e as partes vão se movimentando. Inclusive o cenário sobre a sucessão na Câmara está totalmente aberto e há composições em andamento que vão mudar várias vezes até a eleição em fevereiro”, disse Gabiati.

Governo

Independentemente se o embate entre os partidos na Câmara se trata de um racha ou não, esse embate gera consequências para o próprio Centrão e para o governo federal, considerando que o sucessor de Lira negociará com o Executivo nos próximos dois anos de mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Informações de bastidores apontam que o presidente deve evitar se posicionar oficialmente sobre os candidatos da Câmara para evitar um eventual desgaste. Embora se movimente nos bastidores.

“Para o governo, é importante ficar fora dessa disputa porque o risco que corre ao apoiar alguém que eventualmente perca é muito alto. Por outro lado, o governo ter sido procurado por todos os lados para prestar apoio, e isso é um sinal de que existe a visão por parte dos candidatos de que o governo vai ter papel decisivo nesse processo. Por ora, o embate ainda está muito interno à Câmara e é importante que o governo deixe os deputados decidirem”, avalia Isaac Jordão.

Já Leandro Gabiati reiterou que é importe esperar as cenas dos próximos capítulos. “A postura do Elmar inicialmente significava um pouco a continuidade da gestão de Lira, ou seja, de uma posição mais dura na hora de negociar com o governo. Enquanto Hugo Motta, ainda que também represente continuidade da gestão de Lira, tem uma postura um pouco menos de confronto no estilo de conduzir as negociações. Então, eventualmente, esse projeto de Motta pode representar alguma novidade na relação entre os poderes Executivo e Legislativo”, disse.