Após o candidato à prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal (PRTB), dizer que foi barrado ao tentar subir no trio elétrico na manifestação da oposição ao atual governo no último sábado, dia 7 de setembro, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) respondeu que Marçal quis “fazer palanque às custas do trabalho e risco dos outros”.
O racha explícito entre Marçal e Bolsonaro foi o grande ponto negativo do ato marcado para o dia da Independência. Segundo estimativas, entre 45 mil e 50 mil pessoas estiveram na Avenida Paulista, um número menor que de outras manifestações. Bolsonaro fez críticas pesadas ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Mas o que acabou ficando foi a troca de disparos entre Bolsonaro e Marçal.
“O único e lamentável incidente ocorreu após o término do meu discurso (com o evento já encerrado) quando então surgiu o candidato Pablo Marçal que queria subir no carro de som e acenar para o público (fazer palanque às custas do trabalho e risco dos outros), e não foi permitido por questões óbvias”, disse Bolsonaro, admitindo o revés político.
Já Marçal foi a público dizer que foi “barrado” no palanque. O candidato do PRTB responsabilizou o pastor Silas Malafaia, por não permitir que ele subisse no carro de som junto a autoridades da direita. “Quem barrou foi o Malafaia”, iniciou o influenciador. “Se eu soubesse disso teria ficado mais um dia em El Salvador. Eu aprendi muito lá a lidar com os criminosos”, acrescentou. Antes do ato, Marçal esteve em San Salvador, capital de El Salvador. Tentara um encontro com o presidente Nayib Bukele, mas não foi bem sucedido no seu intento.
Saul e Davi
Questionado por um seguidor no Instagram sobre o motivo pelo qual o ex-coach ainda apoia o retorno de Bolsonaro ao Palácio do Planalto, considerando que o ex-presidente declarou apoio ao seu adversário, o atual prefeito de São Paulo e candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB), Marçal comparou sua relação com Bolsonaro a um trecho bíblico. “Quem conhece a Bíblia sabe que a minha relação com Bolsonaro é a mesma de Saul e Davi. Davi precisa ter paciência até que o reinado de Saul chegue ao fim. Enquanto ele tiver chances, eu vou apoiá-lo, pois sei que foi Deus quem o levantou”, respondeu. Ou seja, Marçal considera-se um sucessor de Bolsonaro, a quem, como Davi em relação a Saul, irá superar.
Nesta segunda-feira (9), em reação às declarações feitas pelo influenciador, Malafaia afirmou que Pablo Marçal quis subir no trio quando o ato já tinha acabado e não economizou nas críticas ao candidato. O pastor insinua que o ex-coach não quis correr o risco de entrar na pauta do impeachment de Alexandre de Moraes para não criar conflitos. Além dessa reivindicação, a mobilização de manifestantes aliados à direita pediu anistia para os presos políticos condenados pelos ataques às sedes dos Três Poderes no dia 8 de janeiro de 2023.
“Olha o que esse cara utiliza, ele utiliza uma coisa chamada sofisma, verdades não conclusivas com o objetivo de confundir e enganar. Por que esse cara não chegou e não falou a verdade total? ‘Eu cheguei depois que o evento foi encerrado, por isso fui impedido de subir no trio elétrico’, acabou”, disse o líder religioso.
"Mas esse cara é narcísico, ele é megalomaníaco, ele é soberbo; ele quer tirar proveito de tudo, ele é lacrador e queria fazer cortes para sua campanha. Ele queria tirar proveito daquilo que não ajudou e não correu o risco. E eu repito aqui: por que Pablo Marçal só chegou depois do encerramento do evento? Sabe por quê? Das duas, uma: ou medo ou acordo com o Alexandre de Moraes", finalizou.
Instabilidade
Para o cientista político Bernardo Livramento, as rusgas entre Marçal e Bolsonaro estão diretamente relacionadas aos resultados das pesquisas em São Paulo. Quando Marçal cresceu, Bolsonaro procurou aproximação. Quando os números pareceram indicar que Marçal poderia ter um teto no seu crescimento, as rusgas reapareceram. Para Livramento, porém, as diferenças vão além das eleições de São Paulo.
“O grande receio de Bolsonaro é que Marçal tivesse uma continuidade de crescimento. E, dado que as últimas pesquisas mostraram uma pequena evidência de que ele pode estar estagnado, apesar de já estar num patamar bastante competitivo, Bolsonaro aproveitou para dar essa batida e também tentar a briga”, iniciou. “Mas essa briga acaba sendo um pouco mais ampla do que apenas a eleição em São Paulo; é uma disputa pela hegemonia do campo da direita, do campo mais conservador, que Marçal representou como uma ameaça significativa. E, sendo prefeito de São Paulo, ele eventualmente pode ter mais poder para dar continuidade nessa disputa entre Bolsonaro e Pablo Marçal”, finalizou o especialista.
O cientista político Isaac Jordão, destacou pontos chaves da disputa eleitoral, e, segundo ele, o candidato da esquerda à prefeitura de SP, Guilherme Boulos (Psol), poderá ser beneficiado pelo atual cenário.
“Bolsonaro virou refém da própria fragilidade política: foi obrigado a cumprir um acordo a contragosto e que enfraquece ainda mais a posição dele na liderança da extrema-direita; Nunes está cada vez mais desesperado para achar um tronco que o segure na enxurrada; Marçal quer cada vez menos ser um aliado e já entendeu que os votos do Bolsonaro estão prontos para ele tomar”, avalia. “Boulos sai fortalecido, mas numa posição que vai demandar dele muita sabedoria política para conseguir se equilibrar. Isso porque a rejeição de Boulos é menor que a de Marçal e menor que a de Nunes. Ou seja, para Boulos é melhor ter um segundo turno contra Pablo Marçal. Considerando o quadro de intenções de voto, mesmo que apertado, Boulos pode ter para si um cenário bastante favorável”, analisou Jordão.