Por: Karoline Cavalcante

Nova crise na Venezuela preocupa governo Lula

Para Celso Amorim, Venezuela vive "escalada autoritária" | Foto: Roque de Sá/Agência Senado

O assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, afirmou nesta terça-feira (3) que a ordem de prisão da Justiça da Venezuela contra o opositor Edmundo González, do partido Mesa da Unidade Democrática, é "muito preocupante" e que há uma clara "escalada autoritária" no país. As declarações foram feitas em entrevista à agência Reuters.

"Seria uma prisão política, e não aceitamos (que haja) presos políticos”, iniciou Celso Amorim. "Não há como negar que há uma escalada autoritária na Venezuela. Não sentimos abertura para o diálogo, há uma reação muito forte a qualquer comentário", acrescentou sobre a relação com o Brasil.

A frase de Amorim mostra como vai ficando cada vez mais delicada a relação do Brasil com seu vizinho do Norte, com quem sempre teve boas relações. Aos poucos, o Brasil parece distanciar-se de Maduro à medida em que se agrava a crise na Venezuela.

González

Na segunda-feira (2), o Ministério Público da Venezuela entrou com um pedido na Justiça do país para a emissão de um mandado de prisão contra González, que ocupa o posto de principal opositor do presidente Nicolás Maduro, do Partido Socialista Unido da Venezuela, sob a acusação de “usurpar funções” ao publicar supostas atas eleitorais recolhidas no dia das eleições presidenciais pela oposição, função essa que pertence ao Conselho Nacional Eleitoral (CNE) do país.

O juiz da Suprema Corte, Edward Briceño, acatou a solicitação e assinou o mandado de prisão, que ordena que o diretor da Divisão de Captura do Corpo de Investigações Científicas, Criminais e Criminalísticas realize o procedimento. González responderá por usurpação de funções, falsificação de documentos públicos, instigação à desobediência às leis, associação para a prática de crime e formação de quadrilha.

Em resposta, González compartilhou em suas redes sociais uma nota feita pela página do partido oposicionista, do qual faz parte, considerando o mandado de prisão como “irracional”.

“Expressamos nossa forte condenação ao aprofundamento da perseguição política contra Edmundo González. Os venezuelanos e o mundo olham com indignação para um regime que não foi capaz de publicar no prazo legal permitido sequer um ato que apoiasse o resultado fraudulento anunciado pela CNE, mas que é capaz de construir um mandado de prisão contra ele, o vencedor das eleições presidenciais”, disse a mensagem.

Reações

Por meio de um comunicado conjunto, a Argentina, Costa Rica, Guatemala, Paraguai, Peru, República Dominicana e Uruguai, rejeitaram a decisão “inequívoca” da Justiça venezuelana.

“O referido mandado de prisão cita vários supostos crimes que nada mais são do que mais uma tentativa de silenciar o senhor González, ignorar a vontade popular venezuelana e constitui perseguição política. Num país onde não existe separação de poderes nem garantias judiciais mínimas e onde abundam as detenções arbitrárias, condenamos estas práticas ditatoriais e os nossos esforços serão firmes e contínuos para exigir que as autoridades venezuelanas garantam a vida, a integridade e a liberdade de Edmundo González Urrutia”, declararam os países.

“Complicada”

Diante da crise, o cientista político Kleber Carrilho, considerou a situação do governo brasileiro como “complicada” e ponderou que o resultado das eleições dos Estados Unidos da América poderão ser um fator determinante para a Venezuela.

“O governo brasileiro não quer se indispor com uma parte importante do eleitorado do presidente se mantiver o apoio ao regime do Maduro, mas também não quer romper com ele. Esse dilema não é só do Brasil, mas também da Colômbia e do Chile. E o maior problema é que Maduro está puxando a corda a cada dia, deixando os ‘amigos’ da esquerda sul-americana sem muitas alternativas. Porém, por enquanto, esse é o tom do governo: preocupante”, iniciou Carrilho

“Uma das esperas também se dá por causa da eleição nos EUA. Uma vitória de Donald Trump poderá trazer alguma ação militar contra Maduro, e então, para a esquerda (Lula; Gustavo Petros, presidente da Colômbia; Andrés Manuel López Obrador, presidente do México), vai ser importante apoiar a Venezuela. Se Kamala Harris ganhar, a tendência é que Maduro seja pressionado para uma saída negociada, sem que os militares e outros grupos deixem o poder” explicou.