Na campanha eleitoral para a prefeitura de São Paulo, um nome chama a atenção pelo destaque que vem apresentando. De acordo com a última Pesquisa Datafolha, divulgada na quinta-feira (22), o empresário e ex-coach Pablo Marçal (PRTB) tem 21% das intenções de voto, ficando atrás apenas do candidato de esquerdar Guilherme Boulos (Psol), com 23% das intenções de voto. Apesar de ser um novato na política brasileira, Marçal revela um protagonismo que vem mostrando uma preferência da direita nele em detrimento do candidato apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Ricardo Nunes (MDB).
E o crescimento de Marçal pode significar uma ameaça ao ex-presidente, que teme perder eleitores para o empresário. Bolsonaro e sua família trocam farpas com Marçal nas redes sociais, a fim de se afastarem do candidato que rebateu alguns dos comentários, evidenciando um possível fim da aliança. Na última quinta-feira (22), o ex-coach comentou em uma publicação do ex-presidente,após Bolsonaro e seus filhos tentarem se desvincular do candidato.
Em resposta, Marçal retrucou a indiferença: “Coloquei 100 mil na sua campanha, te ajudei com os influenciadores, te ajudei no digital, fiz você gravar mais de 800 vídeos. Por te ajudar, entrei para a lista de investigados da PF. Se não existe o ‘nós’, seja mais claro", escreveu em resposta a Bolsonaro.
Eleito?
Na avaliação do Coordenador de Relações Governamentais de Estados e Municípios da BMJ. Aryell Calmon. as chances de Pablo Marçal ser eleito são baixas, visto que a candidatura dele “enfrenta desafios significativos na Justiça e uma oposição disposta a criar mais dificuldades”. Ele ainda destacou que, quando começar a campanha eleitoral em rádio e TV, Marçal será “mais atacado pelos opositores e não terá o mesmo espaço para se defender”, lhe restando apenas o meio digital, já que ele terá muito pouco tempo de propaganda gratuita na TV. “Seu sucesso depende da migração de eleitores de Ricardo Nunes, apoiado oficialmente por Bolsonaro, e Datena para sua candidatura”, comentou Calmon ao Correio da Manhã.
Em contrapartida, o cientista político Isaac Jordão disse a reportagem que há chances de o empresário ser eleito. “Ainda há bastante tempo até as eleições e as campanhas vão se adaptar às estratégias que o Marçal adotou”, afirmou Jordão.
O especialista em Ciências Criminais Berlinque Cantelmo ainda completou que, certamente, “o cenário de polarização será mantido entre esquerda e direita” e o desfecho dependerá dos demais candidatos e líderes partidários em uma eventual articulação para o segundo turno, “inclusive considerando a grande força política do presidente Lula e a noviça possível ruptura entre Bolsonaro e Marçal”.
Influência
Questionado pela reportagem sobre os motivos do destaque de Marçal, figura antes conhecida no meio digital, Berlinque Cantelmo disse que diversos fatores determinam a alavancagem de Marçal, “dentre eles somam-se a pouca expressão da campanha de Nunes e um forte movimento virtual criado por ele e o empresariado que o apóia”.
“O posicionamento digital de Marçal tem suprido a carência popular por discursos mais beligerantes e posturas mais incisivas, fatores esses que têm feito com que as redes sociais passem a ser mais relevantes do que doutrinas sociais, culturais e políticas. Pablo Marçal tem demonstrado que sua candidatura é o reflexo de um movimento provocado pelo empoderamento que as redes sociais têm exercido sobre a sociedade”, afirmou.
Ele ainda completou que o “fenômeno Marçal” tem raízes “na falta de educação política brasileira e na ausência de lideranças que de fato pensem, criem e resolvam verdadeiramente os problemas de políticas públicas”.
Antipolítica
Na mesma linha, o cientista político Isaac Jordão completou que o ex-coach é “um reflexo do período mais crítico da antipolítica que varreu o Brasil nos últimos 10 anos”. Ele não considera Marçal como um fenômeno novo, mas sim um novo agente que “busca chamar a atenção do público através do choque” – e até o momento vem tendo sucesso a estratégia. “Resta saber se isso não vai ser somente um pico em uma única pesquisa, ou se vai ser um evento constante de crescimento que pode levá-lo a um segundo turno. Mas por ora entendo que são as últimas experiências da antipolítica e não acredito que este será o novo paradigma eleitoral dos próximos anos”, avaliou Isaac.
“Diferente do bolsonarismo, Marçal apresenta um discurso que atrai o eleitorado de direita mais jovem, graças à sua relação com o empreendedorismo, redes sociais e marketing digital. Isso pode atrair eleitores insatisfeitos com o estilo confrontador de Bolsonaro, criando uma base independente que diluiria a força política do bolsonarismo na sociedade. Se conseguir apoio de partidos ou políticos de direita que se distanciam do bolsonarismo, Marçal pode fragmentar ainda mais o voto conservador”, completou à reportagem o analista político Aryell Calmon.
E considerando uma eventual vitória do empresário, Calmon avalia que isso gerará um cenário de incertezas para o município de São Paulo. “Marçal tem sido pouco propositivo em suas falas públicas, o que sugere um conhecimento técnico limitado sobre as propostas apresentadas em seu plano de governo. Além disso, a entrada de um nome sem tradição pública e política no Edifício Matarazzo [sede da prefeitura de São Paulo] pode fazer com que lideranças públicas e privadas recuem em negociações com o município, aguardando um cenário de maior previsibilidade, muito em função da postura adotada pelo candidato durante a campanha”, destacou.