Por Gabriela Gallo
Após ser questionado em agenda no exterior, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pediu transparência no processo eleitoral da Venezuela. A declaração foi feita nesta segunda-feira (5) em Santiago, capital do Chile, após os dois países assinarem 19 acordos e outros atos bilaterais em diversas áreas, como relações comerciais e de investimentos. O presidente chileno Gabriel Boric evitou comentar sobre as eleições venezuelanas no mesmo evento, mas já tinha se manifestado contrário ao resultado nos últimos dias.
Após uma conversa privada com Gabriel Boric, Lula disse a imprensa local que expôs ao presidente chileno "as iniciativas" que ele tem empreendido com os presidentes da Colômbia, Gustavo Petro, e do México, Lopez Obrador, sobre o caso. Na última semana, os três presidentes emitiram uma nota conjunta afirmando que eles não reconheceriam o resultado as eleições venezuelanas até que as atas - boletins que registram os votos em cada urna - fossem publicamente divulgadas.
"O respeito pela tolerância, o respeito pela soberania popular é o que nos move a defender a transparência dos resultados. O compromisso com a paz é que nos leva a conclamar as partes aos diálogos e promover o entendimento entre governo e oposição", afirmou Lula.
Carta
Também nesta segunda-feira o presidente brasileiro recebeu uma carta com a assinatura de 30 ex-chefes de Estado, de treze países - dentre eles a Espanha e demais países da América Latina - que pediram que Lula assegure o compromisso com a democracia na Venezuela. A carta foi divulgada pela Iniciativa Democrática da Espanha e das Américas (Idea).
"Exortamos a Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República Federativa do Brasil, a reafirmar seu inquestionável compromisso com a democracia e a liberdade, as mesmas de que gozam seu povo, e a fazê-la prevalecer também na Venezuela. […] Não exigimos nada diferente do que o próprio presidente Lula da Silva preserva em seu país", afirma o documento.
Segundo o Itamaraty, o que a carta pede já está sendo feito pelo governo brasileiro em relação à Venezuela, inclusive com o reconhecimento da oposição.
Em contrapartida ao posicionamento dos membros do Idea, o presidente da França, Emmanuel Macron, telefonou para Lula a fim de parabenizar a posição do governo brasileiro pelo estímulo ao diálogo entre o presidente da Venezuela Nicolás Maduro e a oposição. A informação foi divulgada pelo Palácio do Planalto.
Venezuela
Toda a crise nacional e internacional envolvendo a Venezuela acontece desde o dia 28 de julho, nas eleições presidenciais. O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela declara que o atual presidente Nicolás Maduro foi reeleito com 51,95% dos votos contra 43,18% de seu adversário Edmundo González Urrutia.
Porém, a oposição acusa o governo de fraudar os resultados eleitorais, já que as atas eleitorais não foram divulgadas. Segundo a oposição, as atas as quais eles tiveram acesso apontavam a vitória do candidato da oposição.
O CNE disse que entregará nesta semana as atas eleitorais por mesa de votação do pleito presidencial ao Judiciário.
González
Nesta segunda-feira, o candidato da oposição à Presidência da Venezuela, Edmundo González Urrutia, assinou uma nota pública se autoproclamando presidente do país.
A nota foi escrita em conjunto com a líder da oposição venezuelana, María Corina Machado.
O texto é um apelo aos militares e pede que eles parem de reprimir os protestos espalhados pelo país, que seguem desde a última semana.
"Membros das Forças Armadas e policiais atendam aos seus deveres constitucionais e não reprimam o povo. [...] O novo governo, eleito democraticamente pelo povo venezuelano, oferece garantias a quem cumprir o seu dever. Da mesma forma, destaca que não haverá impunidade", afirma a carta divulgada pelo candidato da oposição.