Por: Gabriela Gallo

Debates no Congresso e sociedade alertam para riscos das apostas bet

CPI dos Jogos Esportivos retornará neste semestre | Foto: Lula Marques/ Agência Brasil

Na próxima semana, o Congresso Nacional retorna do recesso parlamentar. E para o segundo semestre deste ano os senadores irão avaliar, tanto no plenário do Senado como em uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), o mesmo assunto: jogos e apostas. Aprovada na véspera do recesso parlamentar na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), o plenário da Casa julgará o Projeto de Lei (PL) n° 2234/2022 que regulariza jogos de azar no país. Além disso, segue no Senado a CPI que trata da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas. A comissão foi instalada em abril do ano passado após uma série de denúncias acerca de fraudes envolvendo jogadores de futebol, dirigentes, presidentes de clubes e empresas de apostas esportivas online, conhecidas como “bets”, e deve seguir os trabalhos até o final do ano.

Fenômeno no meio esportivo e de apostas, as bets viraram uma febre entre os fãs de futebol. Dados do Banco Central (BC), estimam que, entre janeiro e dezembro de 2023, os gastos de brasileiros com as bets chegaram a R$ 54 bilhões de reais.

Vício

Esses dados geram preocupação para um tópico que pode atingir qualquer um: o vício nas apostas esportivas que envolvem dinheiro. Nos últimos dias, o Exército brasileiro divulgou uma cartilha sobre prevenção ao vício em apostas. As informações estão disponíveis no site da Diretoria de Assistência ao Pessoal do Exército. Apesar de não apresentar dados estatísticos para ilustrar o problema, o documento destaca a preocupação dos impactos de jogatina online caso chegue a extremos entre os militares.

Por exemplo, que o vício infle as estatísticas de suicídio entre os militares, já que gera problemas físicos e mentais (como ansiedade e depressão), ou um efeito cascata financeiro que leve ao endividamento dos envolvidos, que possam levá-los a cometer crimes – um exemplo citado no documento é um possível furto de arma de fogo nos quartéis para ser usada como pagamento para agiotas. O documento conta com o apoio da Marinha e da Aeronáutica.

“A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica o vício como uma doença de impactos físicos e psicoemocionais. […] O Transtorno de Jogos é definido pela OMS no CID-11 como um transtorno de comportamento que envolve vícios de comportamento e descontrole de impulsos, assim, o vício em jogos de azar trata-se de uma adicção, da mesma forma que o alcoolismo, ou a dependência de drogas”, pontua o documento.

Dependência

Ao Correio da Manhã, o médico psiquiatra Fábio Aurélio Costa Leite pontuou que qualquer dependência “é um ato compulsivo”.

“O indivíduo passa a ter uma compulsão, e isso o deixa sem conseguir ter controle sobre aquilo”, explica.

E, por se tratar de apostas, o principal impacto na vida do dependente é o financeiro. “A pessoa vai acabar gastando muito em relação a isso, acaba desviando dinheiro de outras áreas, às vezes de casa, de compromissos, prestações que já foram feitas de outros bens que foram adquiridos, e isso acaba trazendo endividamento ou prejuízo de padrão de vida”, pontuou.

E além dos prejuízos ligados aos bens materiais, o viciado passa a dedicar muito tempo e energia no vício para sentir o rápido prazer momentâneo que o objeto de vício pode gerar, que só será aliviado quando o indivíduo jogar. “Toda vez que esse indivíduo joga, ele tem um alívio por ter jogado. Depois, vem a preocupação, a culpa, o arrependimento por ter gasto. Esse tende a ser o ciclo do jogo compulsivo”, explicou o psiquiatra.

Além disso, o vício pode levar a comorbidades, especialmente psicológicas, e a um isolamento do dependente, já que este passará a gastar muito tempo de sua vida pessoal, familiar, profissional e amorosa jogando, na expectativa do resultado. Nesse caso, é necessário tratar tanto a compulsão causada pelo vício – no caso de jogos, pelo tratamento psicológico – quanto tratar a própria comorbidade. Mas vale destacar que o tratamento será eficiente quando o próprio viciado querer ser tratado, do contrário, pode virar um “cabo de guerra” sem vencedor.

Para evitar a dependência, o psiquiatra destacou a importância de monitorar pessoas que já têm histórico de dependência, ou algum tipo de vício, e adolescentes, já que estes tendem a ser mais influenciados ou impulsivos. “Nós já tivemos casos de pacientes que se envolveram com isso e até foram chantageados por pessoas que mexem com agiotagem. Porque ele estava gastando muito, precisava do dinheiro mas não tinha coragem de pedir para o pai nem para a mãe e foi pedir para o agiota. Ele se endividou e os agiotas começaram a ameaçar, então, existem até situações que podem ser bem complicadas para adquirir o dinheiro o para manter o vício. Então, é sempre bom a família ficar de olho observando e tendo essa atenção maior”, contou Fábio Leite à reportagem.