Por: Gabriela Gallo

Enchentes no RS viraram disputa política entre governos?

Governos federal e estadual disputam protagonismo | Foto: Ricardo Stuckert/PR

Devido às enchentes e fortes chuvas que assolam o Rio Grande do Sul, o governador do estado Eduardo Leite (PSDB) anunciou um auxílio de R$ 2,5 mil para famílias em situação ide pobreza e extrema pobreza atingidas pelas chuvas. A medida, intitulada como programa Volta por cima, foi anunciada nesta sexta-feira (17), dois dias após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciar um auxílio do governo federal de R$ 5,1 mil para famílias que perderam tudo em decorrência das fortes chuvas.

Segundo Eduardo Leite, a expectativa é que até a próxima sexta-feira (24) 40 mil famílias sejam contempladas com o valor oferecido pelo programa. “Elas [famílias] têm que ter a disponibilidade para comprar o que quiserem. É para o que elas precisarem com esses recursos, seja comida, eletrodomésticos, material de construção. Essas ações, a partir do que vivenciamos no ano passado, estão nos ajudando a ser mais ágeis", disse o governador.

Após o programa Volta por cima, também será distribuído outro auxílio de R$ 2 mil para as famílias atingidas, com os recursos arrecadados pela campanha SOS Rio Grande do Sul. No total, serão transferidos R$ 100 milhões que foram recebidos via PIX. O governo local identificou ao menos 23 mil famílias que recebem até três salários mínimos e terão acesso a esse valor. O programa vale para pessoas cadastradas no CadÚnico, mas que não estão necessariamente em situação de pobreza e extrema pobreza.

Segundo a Defesa Civil do Rio Grande do Sul, até o sábado (18), foram contabilizados 155 mortos, 98 desaparecidos e 806 feridos. As chuvas atingiram 461 municípios, totalizando 78.165 pessoas desabrigadas e 617.390 desalojadas. E a situação do estado chama atenção para outros desastres ambientais, já que o Rio Grande do Sul pode voltar a sofrer com fortes temporais. Na sexta-feira (17), o ministro extraordinário para Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul, Paulo Pimenta, alertou que o estado pode voltar a ser atingido por fortes temporais nas próximas terça (21), quarta (22) e quinta-feiras (23).

Disputa eleitoral

A proximidade dos anúncios de ajuda aos municípios gaúchos chama a atenção sobre a possibilidade de uma disputa política e uma eventual polarização na reconstrução do estado, especialmente porque o presidente da República e o governador são de partidos opositores.

Na avaliação do cientista político Isaac Jordão, essa disputa não se trata de algo imediato, mas um embate a longo prazo, especialmente vindo do governo gaúcho. “Eduardo Leite governa um estado onde há muita rejeição ao nome de Lula. Por isso, Leite tem tentado ao máximo se manter afastado da imagem do presidente, mesmo sabendo que hoje o Rio Grande do Sul depende muito do auxílio do governo federal”, disse ao Correio da Manhã.

Ele ainda destacou que essa resistência gera ações descoordenadas, de forma que haja uma diferenciação entre a "ajuda de Lula" e a "ajuda do governador".

“Adiciona-se a isso o fato de que o governo do estado está muito mais ocupado diariamente com a administração da crise, o que acaba dificultando a comunicação eficiente deste programa, que só foi anunciado depois do anúncio do governo federal, o que criou esse clima de reação”, completou Jordão.

A reportagem ainda conversou com o analista e doutor em Ciência Política Leandro Gambiati que destacou que, devido à gravidade das enchentes do estado – que registraram o maior desastre ambiental da história do RS –, os governantes não podem cometer erros neste momento.

“Eles têm que atuar, ser eficientes e dar respostas rápidas. Primeiro, logicamente, para salvar a vida das pessoas e até de empresas locais, mas também para evitar críticas. Porque as críticas vêm com a perda de votos. Ou seja, estamos falando de sobrevivência política. Não errar para sobreviver politicamente. Eles estão trabalhando juntos porque não podem errar, as urnas vão julgá-los, a história vai julgá-los”, destacou o analista político.

Gambiati pontuou que, até o momento, o fator que causou maior polêmica entre governo do estado e federal foi realocar Paulo Pimenta como principal responsável para monitorar o Rio Grande do Sul, visto que ele não descarta a possibilidade do ex-secretário de comunicação da Presidência concorrer a um cargo político em 2026.

“Ainda que o Eduardo Leite não possa ser candidato a reeleição, certamente ele vai trabalhar para fazer seu sucessor. A entrada do Pimenta contamina um pouco o ambiente em que a política partidária passa a interferir naquilo que deveria ser uma oportunidade para que todos trabalhem juntos. Eu não estou dizendo que todo mundo vai deixar de trabalhar, mas agora tem esse fator político que não é o ideal”, afirmou à reportagem.