Prisão de fugitivos de Mossoró é uma vitória para Lewandowski?

Criminosos foram presos somente após 51 dias de operação. Para especialistas, não deveria ser comemorado

Por Ana Paula Marques

Lewandowski comemorou a prisão dos fugitivos

Com 51 dias de uma operação que envolveu a Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Militar, Polícia Penal e até mesmo a Força Nacional de Segurança Pública, os dois homens que fugiram da penitenciária federal de Mossoró, em Rio Grande do Norte, foram encontrados e presos na última quinta-feira (4).

Os fugitivos Rogério da Silva Mendonça, de 35 anos, e Deibson Cabral Nascimento, de 33, foram encontrados em outro estado, no Pará, a cerca de 1.600 km de Mossoró. Junto com eles, foram apreendidos um fuzil AR-15, dois carregadores de munições cheios e oito celulares.

Os esforços do Ministério da Justiça e da Segurança Pública levaram à montagem de uma força-tarefa de cerca de 500 agentes. Assim, apesar da declaração do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, de que a recaptura foi “uma vitória do Estado brasileiro”, especialistas avaliam que os parabéns, se cabem, devem ser direcionados para a polícia e não ao chefe da pasta.

Presente de grego

Para o especialista em Segurança Pública, Leonardo Sant’Anna esse “não é o momento em que deve haver qualquer tipo de entendimento de vitória e de comemoração”. Ele defende que a prisão deve ser vista como um resultado oferecido pelas forças de segurança pública, em especial as federais. Contudo, os 51 dias para a captura de fugitivos de um presídio de segurança máxima é um prazo “muito longo”.

“São quase dois meses. Isso demonstra que o ministro Lewandowski recebeu um presente de grego, um desafio que é muito maior do que ele imaginava. Desafio não apenas de reformulação dos presídios federais, mas também de uma reformulação dos procedimentos operacionais para que se tenha montado uma atividade eficiente de busca e captura”, explica.

Desde que Lewandowski assumiu o Ministério da Justiça que se questionam a competência do chefe da Pasta na segurança pública. Apesar de ser reconhecido como um ministro de grande experiência no Judiciário, ele carrega o mesmo fardo de seu antecessor, Flávio Dino, um ministério que é mirado pela oposição que usa as falhas do governo como um grande argumento para minar a reputação do Executivo. O argumento é que um governo de esquerda não tem um projeto de segurança pública.

Sem plano

Para Leonardo Sant’Anna, não havia logística adequada ou um plano que estabelecia o que deveria ser feito caso houvesse uma fuga. “O que devemos louvar é o que os agentes de segurança pública fizeram sem nenhum desses componentes. Temos um resultado a partir dessas falhas, ações quase individuais das polícias que trabalharam sem um plano geral estabelecido pelo ministério”, explica.


Agora, a Polícia Federal investiga se houve facilitação na fuga. Já se sabe, por exemplo, que uma obra que vinha sendo realizada no presídio pode ter contribuído para a empreitada da dupla, e que, possivelmente, a facção criminosa Comando Vermelho (CV) estaria envolvida, já que os criminosos são integrantes do grupo.

Para o advogado especialista em segurança pública Berlinque Cantelmo, a fuga demonstra três vertentes preocupantes. “Em primeiro lugar, a ação foi bem planejada por facções criminosas sem que houvesse uma monitoração e antecipação das forças de segurança pública. Em segundo, a tão sonhada integração entre forças policiais ainda não se materializou ou não atingiu níveis de excelência que proporcionem efetividade em ações de combate ao crime organizado”, explica.

Para ele, em terceiro lugar, o que preocupa é a composição atual trazida pela gestão Lewandowski ao ministério. “A composição precisa ser mais bem testada em termos de empoderamento repressivo qualificado e capacidade de operacionalização de recursos, pois, até então, o que percebemos é a alocação de muitos membros oriundos do Ministério Público em funções que passam longe de suas experiências, incluindo aquelas que demandam expertise operacional e inteligência de campo”, avalia.