Por: Ana Paula Marques

Governo terá que escolher suas batalhas diante dos vetos

Governo de Lula enfrenta resistência no Congresso Nacional | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Apesar do Planalto garantir vitória ao conseguir adiar a sessão de análise dos vetos presidenciais que iria acontecer na última quarta-feira (24), a base governista agora deve enfrentar intensas semanas de negociações no Congresso Nacional para conseguir reverter o cenário de expectativas de grandes perdas.

Mesmo com o adiamento, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), afirmou que atualmente a tendência é de que sejam derrubados os vetos presidenciais ao projeto das “saidinhas” e alguns vetos à Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Para Lira, o adiamento não ajuda a resolver os problemas. “Foi feito o terceiro adiamento seguido em sessões que foram convocadas. Isso não é normal”, declarou. “Quando o problema existe, ou a gente resolve, ou a gente resolve”, declarou.

Até mesmo o líder do governo no Senado Federal, senador Jaques Wagner (PT-BA), chegou a afirmar, nesta quinta-feira (25), que não adianta ficar protelando a sessão. O senador também afirmou que os líderes partidários fizeram um acordo para que a sessão de análise dos vetos presidenciais ficasse para o dia 9 de maio.

Articulação

Um dos impasses para garantir uma vitória mais consistente seria a articulação do governo. Desde o início do terceiro mandado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que o parlamento se queixa da articulação, principalmente, o Lira, que já demonstrou publicamente seu desafeto pelo ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha.

Ainda nesta quinta, Lira defendeu ser preciso maior envolvimento de Lula (PT) na articulação política do governo. “É imprescindível que o presidente se envolva mais nas agendas de recebimento de parlamentares. É importante que Lula participe, quanto mais ele se envolver no processo, mais ele sente a temperatura de como estão as coisas com o seu governo, o que está certo e o que está errado”, afirmou.

Lira também afirmou que as emendas parlamentares “são um instrumento digno, correto, um recurso para você fazer com que as políticas públicas, que podem e devem melhorar a vida da população nesse país, sejam implementadas”.

Negociações

Para o coordenador de Análise Política da BMJ Consultores Associados, Lucas Fernandes, o adiamento é positivo para o governo, mas é uma vitória parcial. “O governo, na prática, está ganhando uns 15 dias para conseguir reestruturar, rearranjar a articulação política e tentar minimizar essas derrotas. Dado o cenário atual, é muito difícil que o governo consiga reverter completamente a situação. Então, a tendência é que o Congresso fique mandando alguns recados para o governo quando essa sessão for finalmente realizada, mas é uma possibilidade do governo tentar diminuir os espaços onde vai ser derrotado”, explica.

Para o especialista em política, um impasse que deve ‘dar trabalho’ para o governo na articulação, são os muitos deputados impacientes com as questões que rondam as emendas de comissão. Nos últimos dias, o governo fez liberações recordes de emendas parlamentares para o Congresso. Nesta segunda-feira (22), nas vésperas da sessão de vetos, o governo federal liberou R$ 2,7 bilhões em emendas a congressistas aliados. Esse valor, somado aos R$ 2,4 bilhões entre liberados em 15 e 19 de abril, totalizam R$ 5,1 bilhões.

“Veremos agora agentes políticos entrando para essa frente de articulação do governo. Devemos ver mais presentes o ministro da Fazenda, Fernando Haddad e o vice-presidente, Geraldo Alckmin, nessa frente. Deve começar crescer com isso a pressão para o Alckmin assumir uma posição mais forte dentro da articulação política, principalmente, por ele ser uma pessoa que conseguiria abrir mais portas onde existem segmentos que são resistentes ao PT”, disse.

Para Fernandes, o governo não irá conseguir tempo para evitar todas as derrotas, “o Executivo vai precisar entender como endereçar algumas agendas prioritárias para o restante desse ano, que também é o ano do fim do mandato do Lira e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Então, esse ano tende a ser um ano muito desafiador, especialmente na medida em que as eleições se aproximam, já que a tendência é que alguns deputados do centrão irão fazer frente ao governo, fazer oposição por conta da dinâmica eleitoral”.

Pautas conservadoras

Para o analista político Mellilo Dinis, o governo irá priorizar as pautas que considera executável algum grau de mudança, como deve ser o caso do PL das “saidinhas”. “O Executivo deve abrir negociações com os governadores, até porque a maioria dos presídios onde terá pressão está nos estados, a União só tem cinco presídios federais. Então, se abre um espaço aí para negociações”, explica. Com a entrada dos governadores, os parlamentares do Congresso devem se voltar para essa pauta.