Por: Ana Paula Marques

Jornalista do Twitter fala à Comissão do Senado

Shellenberger: ameaças de censura no mundo | Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

A novela da briga entre o bilionário Elon Musk e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes ganhou mais um capítulo. Dessa vez, o novo corte foi protagonizado pelo jornalista norte-americano Michael Shellenberger. Ele compareceu à Comissão de Comunicação e Direito Digital do Senado Federal para tratar de uma suposta interferência de autoridades brasileiras no X (antigo Twitter).

Logo no início de sua fala na sessão da Comissão, o jornalista criticou as ações de Moraes ao declarar que o ministro parece agir como legislador e não como um juiz. Ele complementa a fala ao afirmar que existe um “complexo industrial da censura” em curso em vários países.

“Muitas partes do complexo industrial da censura são semelhantes ao que a gente tem nos Estados Unidos e estão fazendo na Europa. Mas, aqui no Brasil, como em muitas outras coisas, é mais agressivo. As decisões de Alexandre de Moraes são muito fortes, muito sérias. A nós, nos Estados Unidos, definimos que ele parece agir como legislador, não somente como um juiz”, declarou.

O jornalista também mencionou a última eleição dos Estados Unidos para comparar as decisões do ministro do STF como uma espécie de limitação à liberdade de expressão no Brasil. “Eu não acho que a eleição de Joe Biden tenha sido fraudada, este não é meu ponto de vista. Mas defendo o direito das pessoas de dizerem isso. Caso houvesse um problema na eleição, como vão saber, se não tem liberdade de expressão?”, disse.

Sessão

Michael Shellenberger ficou conhecido após publicar reportagens sobre e-mails trocados entre representantes do X do Brasil e dos Estados Unidos de 2020 a 2022, o Twitter Files Brazil. Ele teve acesso aos conteúdos dos e-mails internos do X depois que o próprio Musk, dono do X, vazou os documentos assim que assumiu o controle da rede social. A denúncia dizia que o então Twitter colaborava com governos ao atender pedidos para remover conteúdo e bloquear usuários conservadores.

Nas reportagens, funcionários da plataforma teriam relatado internamente a pressão supostamente imposta pela Justiça brasileira para que a empresa divulgasse informações confidenciais de seus usuários, como mensagens privadas e dados de contatos. O convite para o comparecimento de Shellenberger e do jornalista brasileiro David Ágape, colaborador das reportagens, foi feito pelo senador Magno Malta (PL-ES), que presidiu a audiência pública.

Embate

Desde o último final de semana, o bilionário Elon Musk tem desferido ataques ao ministro brasileiro. O dono do X chegou a afirmar que o ministro da Suprema Corte brasileira está promovendo a “censura” no Brasil e ameaçou não mais cumprir medidas judiciais que restrinjam o acesso a perfis da rede social. Logo depois, Moraes incluiu o empresário no inquérito relatado por ele das milícias digitais. Porém, na última quarta-feira (10), Alexandre de Moraes falou sobre o caso ao abrir a sessão do Supremo, diferenciando “liberdade de expressão” de “liberdade de agressão”.

“Sabem que liberdade de expressão não é liberdade para a proliferação do ódio, do racismo, da misoginia, da homofobia. Sabem que liberdade de expressão não é liberdade de defesa da tirania. Talvez alguns alienígenas não saibam, mas passaram a aprender e tiveram conhecimento da coragem e da seriedade do Poder Judiciário brasileiro”, disse.

Com toda essa atenção para Musk e Moraes, um capítulo se desdobra com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que paralelamente tem criticado Elon Musk, sem o citar diretamente. Nesta semana, o petista disse que não se pode permitir que um empresário critique ministros do Supremo.

“O crescimento do extremismo de direita que se dá ao luxo de permitir que o empresário americano, que nunca produziu um pé de capim neste país, ouse falar mal da Corte brasileira, dos ministros brasileiros e do povo brasileiro. Não é possível”, afirmou Lula.

Lula também citou que o “bilionário fazendo foguete” teria que “aprender a viver aqui” em vez de buscar locais habitáveis fora do planeta Terra. Além do X, Musk também é dono da SpaceX, uma fabricante de sistemas aeroespaciais, transporte espacial e comunicações.

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