Por: Gabriela Gallo

"Fé no Brasil": governo muda estratégia de comunicação com novo slogan

Fachada de templo evangélico: foco do governo | Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

O governo federal irá mudar as estratégias de comunicação e, ainda neste mês, irá alterar o slogan que representa o governo. “O Brasil Voltou”, slogan que buscava chamar a atenção para o retorno de projetos sociais como o ‘Bolsa-Família’ e ‘Minha Casa, Minha Vida’, sairá de cena, e será substituído por “Fé no Brasil”. A mudança buscar trazer uma aproximação do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com o segmento religioso da população, em especial, os evangélicos, maior ponto de fragilidade do governo junto à população. Já dando início a esse discurso, o presidente Lula citou Deus e “milagres” em seu discurso na inauguração de uma obra hídrica em Pernambuco, nesta quinta-feira (04).

As alterações acontecem pouco após o governo ter registrado uma queda na popularidade. A última pesquisa do Instituto Datafolha apontou que, após um ano e três meses depois de ter assumido a presidência pela terceira vez, a gestão de Lula foi avaliada como ótima ou boa por 35% dos entrevistados, ruim ou péssima por 33% e 30% dos entrevistados a consideraram regular. Outras pesquisas recentes também demonstraram queda na popularidade, e o próprio Lula chegou a reconhecer que realmente a população tinha motivos para estar insatisfeita, porque o governo estaria entregando menos do que prometeu. Depois, disso, Lula fez uma reunião ministerial e passou a promover ajustes nas estratégias do governo.

Dentre o segmento dos evangélicos, 43% avaliam o governo como ruim ou péssimo, enquanto 25% o consideram ótimo ou bom. Está nesse segmento o grande desafio que o governo coloca como foco para conquistar.

Segundo o Censo Demográfico 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 50% da população brasileira é católica. Mas esse número vem diminuindo a cada ano e a tendência é que diminua ainda mais. Os evangélicos representam hoje mais de 30% da população. O Censo ainda aponta que o Brasil tem mais templos religiosos do que a soma de instituições de ensino e unidades de saúde do país. Em 2022, o país registrou 579,8 mil estabelecimentos religiosos, enquanto havia 264,4 mil estabelecimentos de ensino e 247,5 mil de saúde.

A campanha foi elaborada pela Nacional Comunicação, um das agências de publicidade que atendem à Presidência da República. A proposta é que circulem em rádio, TV e redes sociais peças publicitárias que mostrem ações do governo para melhorar a qualidade de vida da população seguidas da frase: "É bom pra todo mundo", escolhida sob a estratégia de tentar acabar com a ideia de polarização. O modelo será, por exemplo: "Inflação controlada? É bom para todo mundo".

Vai gerar resultados?

Ao Correio da Manhã, o doutor em ciência política Leandro Gabiati avaliou os anúncios de mudanças como positivos, mostrando que “o governo está ciente dos problemas de comunicação que tem”.

“Seja na forma, no conceito ou conteúdo, a comunicação do governo não está funcionando bem, principalmente indicando as pesquisas. O governo entendeu que há problemas e que, se há problemas, tem que oferecer soluções – o que é positivo para um governo que está caindo nas pesquisas”, disse.

No entanto, ao ser questionado pela reportagem, Gabiati destacou que ainda é precipitado afirmar se as mudanças de slogan e foco da comunicação vão gerar resultados positivos para o governo federal.

“As pesquisas revelam que o eleitorado evangélico é o mais conservador, mas não necessariamente vota no [candidato Jair] Bolsonaro. Não é uma escolha inocente do governo escolher a palavra ‘fé’, que é muito presente nesse segmento evangélico. Então, só do governo atentar para uma série de questões e implementar mudanças pode ser considerado um ponto positivo”, completou.

O analista político ainda destacou que a mudança de estratégias de comunicação pode representar um discurso e posicionamento mais moderado na condução do governo Lula.

“Em uma análise um pouco da composição social eleitoral e política do Brasil, nós podemos, em grande escala, que 30% do eleitorado é conservador, 30% é progressista e 40% de centro. A questão é: parte desse eleitorado de centro foi para o Bolsonaro e uma parte um pouco maior foi para o Lula. Esses 40% votam mais contra um candidato do que a favor de outro. Então, esses pouco mais de 20% é o apoio que o Lula está perdendo por falar a favor do Maduro [Nicolás, presidente da Venezuela], a favor do Putin [Vladimir, presidente da Rússia], falar contra Israel. Esse eleitorado de centro mais moderado não gosta de escutar o presidente defendendo essas figuras”, explicou à reportagem.

Comunicação

Na avaliação do analista político, em comparação à gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a comunicação externa do atual governo vem se mostrando inferior e pecando em pontos para cativar o eleitor.

“Sem entrar na questão das ideias da direita e da esquerda, o governo Bolsonaro e a militância de direita mais conservadora está muito mais engajada e, portanto, obtinha melhores resultados durante a época do governo. E continuam de alguma forma, apesar da derrota eleitoral e uma série de eventos políticos que desarticularam um pouco a oposição, eles continuam comunicando melhor” afirmou à reportagem.

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