Por: Gabriela Gallo

Ao chamar Bolsonaro de covarde, Lula reforça polarização política

Jorge Seif acusa fala de Lula de ser "cortina de fumaça" | Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

Durante a reunião ministerial nesta segunda-feira (18), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teceu diversas críticas à antiga gestão e principalmente ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Em seu discurso no encontro, Lula citou os desdobramentos na operação da Polícia Federal (PF) que investigam o envolvimento do ex-presidente em uma tentativa de golpe de Estado para reverter o resultado eleitoral.
Na sexta-feira (15), o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes derrubou o sigilo dos depoimentos de militares e políticos envolvidos nas investigações. E os depoimentos daqueles que não usaram do direito de permanecer calados trouxeram Bolsonaro para o centro da narrativa, alegando que ele estava envolvido em todos os processos para derrubar o resultado das urnas de 2022. Os depoimentos apontam que foram elaborados dois documentos: um que decretava Estado de Sítio e outro que decretava Estado de Defesa para proporcionar uma intervenção no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O caso segue em apuração.

“Se há três meses quando nós falávamos de golpe [de Estado] parecia insinuação, hoje nós temos certeza que esse país correu sério risco de ter um golpe em função das eleições de 2022”, disse o presidente. “Quem tinha dúvida agora pode ter certeza de que por pouco a gente não voltou aos tempos tenebrosos neste país que as pessoas achavam que apenas com golpe, com a participação de alguns militares, poderiam ganhar o poder neste país. O povo foi mais sábio, foi mais corajoso", ele completou.

O presidente disse que “só não teve golpe porque algumas pessoas que estavam no comando das Forças Armadas não quiseram aceitar a ideia do presidente”, se referindo ao ex-comandante do Exército general Marco Antônio Freire Gomes. Mirando nas críticas a seu principal opositor político, Lula ainda disse que o golpe não foi executado “porque o então presidente é um covardão”.

“Ele [Bolsonaro] não teve coragem de executar aquilo que ele planejou. Ele ficou dentro de casa, aqui dentro do palácio, chorando quase um mês. E preferiu fugir para os Estados Unidos do que fazer o que ele tinha prometido, na expectativa de que fora do país o golpe poderia acontecer porque eles financiaram as pessoas nas portas dos quartéis para tentar estimular a sequência do golpe", acusou Lula.

Após o resultado das eleições presidenciais de 2022, Bolsonaro foi diagnosticado com erisipela, uma infecção na pele que pode atingir a gordura do tecido celular. A infecção afeta diretamente a camada intermediária da pele (derme). O ex-presidente ficou semanas sem aparições públicas e recebia somente um grupo restrito de assessores e aliados no Palácio da Alvorada.

Em resposta, o deputado Evair de Melo (PP-ES), que acompanhou Bolsonaro durante parte do tratamento, classificou a fala de Lula como desrespeitosa e afirmou que Bolsonaro passou por dores intensas.

Oposição

Além de Evair de Melo, a fala de Lula gerou repercussão entre a oposição do governo, que saiu em defesa do ex-presidente. O senador Jorge Seif (PL-SC) acusou as falas de Lula como uma cortina de fumaça para desviar a atenção para os problemas do país. “"A baixa popularidade de Lula e a má governança do país são desfocadas e maquiadas com ataques e narrativas que não encontram respaldo na realidade", criticou o senador.

Na mesma linha, o senador Cleitinho (Republicanos-MG) classificou a declaração de Lula como desnecessária e lembrou que Bolsonaro não é presidente há mais de um ano. O senador ainda reforçou que Lula prometeu pacificar o país, mas investe na polarização.

"Em vez de contribuir para o debate político de forma construtiva, Lula prefere partir para a ofensa gratuita", criticou o deputado federal Rodolfo Nogueira (PL-MS).

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