Por: Ána Paula Marques

Para se contrapor a Lula, Caiado e Tarcísio vão a Israel

Tarcísio quer fazer parcerias com Israel em segurança | Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Em meio à tensão diplomática causada pela fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), quando ele comparou as ações de Israel contra palestinos na Faixa de Gaza ao que Adolf Hitler fez com os judeus na Segunda Guerra Mundial, os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e de Goiás, Ronaldo Caiado (União), chegaram no domingo a Israel para dar início a uma agenda de cinco dias no país.

A viagem foi a convite do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, com o qual os governadores irão se encontrar nesta terça-feira (19), em Jerusalém. A expectativa é de que eles também se encontrem com o presidente israelense, Isaac Herzog, e, ao longo da semana, com o ministro das Relações Exteriores, Israel Katz. Além de visitar locais históricos como o Museu do Holocausto, o Monte das Oliveiras, a Biblioteca Nacional Israelense e a Cidade Antiga de Jerusalém. A viagem é claramente um contraponto dos dois governadores às críticas de Lula.

Na segunda (18), os políticos brasileiros foram ao local dos atentados do Hamas no dia 7 de outubro, onde visitaram um memorial e encontraram alguns sobreviventes, incluindo um brasileiro.

Persona non grata

O governo de Netanyahu tem sido criticado tanto por Lula quanto pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. Em audiência na Comissão de Relações Exteriores (CRE) do Senado Federal, o chanceler brasileiro afirmou que as falas do presidente foram uma reação direta aos milhares de mortos vítimas das ações militares israelenses comandadas por Netanyahu.

O ministro também criticou o governo israelense ao acusar a reação do primeiro-ministro de Israel de ser desproporcional ao ataque que o país sofreu do Hamas. "Israel tem o direito de defender a sua população, mas isso tem que ser feito dentro das regras do direito internacional. A reação de Israel não tem como alvo apenas os responsáveis pelo ataque, mas todo o povo palestino. Trata-se de punição coletiva”, afirmou.

O presidente Lula foi declarado “persona non grata” em Israel. O termo diplomático significa que o chefe de Estado brasileiro não é bem-vindo no país.

Contraponto 

Tanto Tarcisio quanto Caiado são da base opositora ao governo Lula e procuram um lugar ao sol na futura disputa pela Presidência da República em 2026. Por isso, a visita é vista como um apelo à base eleitoral bolsonarista, que tem usado a fala polêmica de Lula para desgastar a imagem do presidente. Apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro acusam, principalmente nas redes sociais, o Executivo brasileiro de defender o grupo terrorista Hamas.

Além disso, Israel ganhou nos últimos tempos um forte apoio do eleitorado bolsonarista, em especial da comunidade evangélica. Como Bolsonaro está inelegível até 2030, nomes procuram se estabelecer como alternativa para conseguir o apoio da base construída pelo ex-presidente.

Ronaldo Caiado, por exemplo, foi o governador mais bem avaliado pela recente pesquisa AtlasIntel e, segundo o advogado internacionalista e membro permanente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/SP) Frederico Afonso, os números positivos são decorrentes da “postura mais firme que o governador de Goiás possui na área de segurança pública, que pela primeira vez é o tema que mais preocupa a população, passando a saúde”, explica

Para o especialista, Israel é uma referência na área de tecnologia de segurança e inteligência. Desta forma, o recado que os governadores conservadores querem deixar é para a própria base eleitoral, a direita brasileira.

A troca de tecnologia foi confirmada pela assessoria de Tarcisio, que afirmou que a viagem acontece para estreitar as relações com Israel e “trocar experiências para o desenvolvimento de novas tecnologias no Estado”. Os governadores devem cumprir agenda no país até a próxima sexta-feira (22).

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