Por: Gabriela Gallo

Valdemar entrega Bolsonaro à própria sorte

Valdemar Costa Neto prestou depoimento em fevereiro | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Após o relator do inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) que investiga uma suposta tentativa de golpe de Estado, ministro Alexandre de Moraes, quebrar o sigilo dos 27 depoimentos dos envolvidos à Polícia Federal (PF), nesta sexta-feira (15), as atenções se voltaram para o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Porém, um dos depoimento chamou a atenção por seu conteúdo. O presidente do Partido Liberal, Valdemar Costa Neto, foi um dos depoentes que mais culpabilizaram Bolsonaro pelo ato. Ao tentar se isentar, Valdemar abandonou Bolsonaro à própria sorte.

O presidente do partido de Jair Bolsonaro prestou depoimento à Polícia Federal no dia 22 de fevereiro. E, de acordo com o relatório de transcrição da PF, Valdemar Costa Neto negou acreditar em qualquer irregularidade no sistema de votação eletrônico em 2022. Ou seja, qualquer suspeita que justificasse a ação que acabou movida pelo PL e os atos que, de acordo com outros depoimentos se discutiam dentro do governo, na sua cabeça, pelo menos, não existia. Assim, Valdemar afirma que os questionamentos às urnas eletrônicas que acabaram acontecendo eram um discurso do ex-presidente e não do partido. E que tudo o que acabou sendo feito ocorreu por pressão de Bolsonaro.

“Indagado se, na condição de presidente do Partido Liberal, anui com as palavras do então presidente Jair Bolsonaro de que haveria fraude nas urnas eletrônicas e consequentemente nas eleições presidenciais de 2022, respondeu que não concorda com a fala do presidente Bolsonaro, pois já participou de várias eleições e nunca presenciou nada que desabonasse o sistema eleitoral brasileiro. Inclusive, orientou a bancada do partido a votar contra a implementação do voto impresso”, escreveu o relatório da PF.

Responsabilidade

Valdemar buscou tirar a responsabilidade do partido nas acusações contra as urnas e disse que “nunca recebeu orientação do então presidente para questionar as urnas eletrônicas, mas apenas para fiscalizar”.

“Para isso, contrataram os serviços da empresa IVL - Institute Voto Legal para acompanhar o desenvolvimento da eleição e se havia segurança”, completou o documento.

Ele ainda reforçou que a ideia de contratar o Institute Voto Livre surgiu entre os deputados do Partido Liberal e do próprio Bolsonaro. O instituto foi recomendação do ex-ministro de Ciência e Tecnologia senador Marcos Pontes (PL-SP) e os serviços custaram aproximadamente, R$ 1 milhão, em cinco parcelas, com verbas do próprio partido.

Anulação

Apesar de Valdemar agora declarar acreditar no sistema eletrônico de votação, em novembro de 2022, o PL entrou com uma ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pedindo a anulação dos resultados do segundo turno das eleições – desconsiderando os resultados do primeiro turno e também das eleições para deputado federal e senador, que fizeram o partido eleger grande bancada. O ministro Alexandre de Moraes julgou que a ação não apresentava qualquer indício ou prova de fraude que justificasse a reavaliação de parte dos votos registrados pelas urnas e julgou a tentativa do PL como “litigância de má-fé”, condenando o partido a pagar uma multa de R$ 22,9 milhões. No final, a conta saiu muito mais cara para o PL do que a contratação do IVL.

Minutas

Questionado pela autoridades sobre as “minutas do golpe” – documentos que decretavam Estado de Sítio e Estado de Defesa para supostamente implementar um golpe de Estado com a derrota eleitoral do então presidente Bolsonaro – , Costa Neto disse que triturou os documentos. Ele justificou que os documentos não eram identificados como de autoria de uma pessoa conhecida e que sempre descartou os documentos recebidos na sede do PL, pois eram sem assinatura.

Questionado por não ter encaminhado os documentos para as autoridades responsáveis, o presidente do PL disse que "sempre desconsiderou tais documentos e pleitos apresentados, pois não considerava a ideia de qualquer tipo de 'golpe'".

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