O cenário para a disputa da prefeitura de São Paulo acirra-se e deverá provocar a defecção de um dos nomes mais conhecidos do bolsonarismo no estado. Fontes próximas a Jair Bolsonaro (PL) confirmaram ao Correio da Manhã o apoio do ex-presidente à reeleição do prefeito da capital paulista Ricardo Nunes (MDB). E, como consequência desse apoio, o deputado federal e ex-ministro do Meio Ambiente no governo Bolsonaro, Ricardo Salles, deverá ser expulso de seu partido, o PL.
Salles tinha pretensões de ser o candidato do partido à prefeitura, concorrendo com Ricardo Nunes. Diante da constatação de que sua pretensão não será alcançada, Salles publicou nas redes sociais um vídeo em que defende o voto nulo em São Paulo. Segundo os nomes próximos a Bolsonaro, o vídeo gerou uma ruptura incontornável no PL. Mesmo sem citar Nunes, o deputado estaria atacando a candidatura e comprometendo o apoio que o PL dará ao prefeito. A expulsão de Salles é dada, então, como certa, mas, somente depois do dia 6 de abril.
Pelo cronograma estabelecido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a partir de 5 de abril será proibido a troca de partido, — a janela partidária, quando pode ocorrer a troca, vai de 7 de março a 5 de abril. Ou seja, a estratégia é inviabilizar qualquer chance de Salles de mudar de legenda e se candidatar por outro partido. Por regra, qualquer candidato precisa estar filiado a um partido com, no mínimo, seis meses antes do pleito para concorrer.
Já no final de janeiro, Ricardo Salles chegou a declarar que não disputaria a prefeitura paulista por acreditar que não havia “espaço” para concorrer.
“A pedido de Bolsonaro, eu me comprometi a não sair do PL e, por outro lado, em função da decisão do Valdemar Costa Neto, presidente da legenda, o partido não abre mão de apoiar o Nunes. Então, fico fora”, disse. Apesar das declarações, nada estava confirmado sobre seu futuro na sigla do ex-presidente.
Salles nega
Ao Correio da Manhã, Salles declarou que “estará sempre ao lado do presidente Bolsonaro, e sempre defendendo o voto em candidatos de direita”. Salles, porém, evitou responder quando perguntado se lançaria uma campanha para o voto nulo nas eleições municipais.
Alguns minutos depois, o deputado publicou em seu X (antigo Twitter), críticas e também declarações de gratidão ao ex-presidente Bolsonaro, apesar de terem “opiniões diferentes”.
“Alguns poucos que não são homens o suficiente para mostrar a cara, estão querendo plantar notinhas da discórdia. Não conseguirão. Jair Bolsonaro sabe muito bem que estive, estou e estarei sempre ao seu lado, mesmo que às vezes tendo algumas opiniões diferentes que em nada alteram a gratidão e o reconhecimento por tudo que passamos juntos no governo e fora dele”, descreveu.
A reportagem entrou em contato com o Partido Liberal. Porém, até o fechamento dessa edição, não obteve respostas da Sigla.
Dentro da Lei
Mesmo se Salles realizar campanha pelo voto nulo, ele não deve sofrer consequências das instituições que vigiam o bom andamento das eleições. Segundo o coordenador-geral adjunto da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (ABRADEP), Bruno Andrade, não há regra expressa sobre a possibilidade de candidatos ou não candidatos, fazerem campanha eleitoral para adoção do voto nulo.
“O que pode ser questionado é a eventual propaganda pelo voto nulo que, de alguma forma, desvirtue recursos públicos, ou seja, se feitas no horário eleitoral gratuito com recursos do fundo especial ou do fundo eleitoral. Ainda assim, esse tipo de questionamento deve ser feito em âmbito judicial. Não há efetivamente uma regra clara proibitiva”, explica.
Polarização
A última pesquisa sobre as intenções de voto para a prefeitura de São Paulo, realizada pelo instituto Real Time Big Data, contratada pela TV Record, divulgada nesta segunda-feira (4), mostra um cenário polarizado na disputa municipal. O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) tem 34% das intenções de voto, já o prefeito Ricardo Nunes (MDB), aparece na sequência, com 29%.
Também foi realizada a pesquisa com o cenário em que Ricardo Salles poderia concorrer. O ex-ministro ficaria em terceiro lugar, com Boulos na frente com 34%, Com Salles na disputa, Nunes, cai nove pontos percentuais, ficando com 20% e Ricardo Salles obtém 12% das intenções de voto. Para a pesquisa, foram entrevistadas 2 mil, entre os dias 1 e 2 de março. A margem de erro da pesquisa é de três pontos percentuais, para mais ou para menos.
