Por: Ana Paula Marques

Depoimentos de ex-comandantes agravam situação de Bolsonaro

Depoimentos agravam situação de Bolsonaro | Foto: Tânia Rego/Agência Brasil

O ex-comandante da Aeronáutica, Carlos Baptista Júnior, também confirmou à Polícia Federal (PF) a sua participação em uma reunião convocada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro para discutir a chamada “minuta de golpe”. A informação sobre a confirmação do brigadeiro vem depois de se saber que o ex-comandante do Exército Freire Gomes também relatou que a reunião existiu, no seu depoimento à PF na sexta-feira (1), que durou mais de oito horas.

Na condição de testemunha, o tenente-brigadeiro Baptista foi ouvido pela investigação no último dia 16 de fevereiro, quatorze dias antes de Freire Gomes confirmar à PF ter presenciado as supostas reuniões. Os depoimentos corroboraram as suspeitas iniciais da investigação. Os dois depoimentos corroboram o que disse o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que fechou uma delação premiada com a PF.

O ajudante de ordens Mauro Cid contou aos investigadores que o ex-assessor Filipe Martins apresentou a minuta a Bolsonaro. O texto previa a decretação de Estado de Defesa, para que houvesse uma intervenção no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), anulando o resultado das eleições e convocando novo pleito. Também discutiu-se a possibilidade de prisão de autoridades como o presidente do TSE, Alexandre de Moraes. Segundo o relato de Mauro Cid, Bolsonaro então consultou os chefes das Forças Armadas, em busca de apoio. De acordo com Cid, o então comandante da Marinha, Almir Garnier, manifestou apoio à iniciativa e colocou suas tropas à disposição de Bolsonaro. Porém, Freire Gomes e Baptista Júnior rejeitaram o plano.

Repercussão

A atuação da PF é vista como perseguição para os apoiadores de Bolsonaro, e assim confirmou o segundo vice-presidente da Câmara dos Deputados, Sostenes Cavalcante (PL-RJ), ao Correio da Manhã. Para o deputado, os militares que estão dando declarações sobre um “suposto golpe, que nunca aconteceu, estão envergonhando as Forças Armadas”, defendeu.

Já a presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR) defende que as operações são a conclusão do inquérito da PF. “Não é perseguição, é a conclusão de um detalhado trabalho que desvendou a trama e seus novelos sujos”, declarou Gleisi em seu perfil no X (ex-Twitter). Para ela, o tempo agora é de julgar e punir os “comandantes do golpe”, a começar por Bolsonaro.

Discurso

Em uma manifestação convocada na Avenida Paulista no último dia 25, Bolsonaro chegou a mencionar a minuta. A fala foi interpretada por investigadores como uma admissão do seu envolvimento nas tratativas. A defesa do ex-presidente negou que a declaração seja uma confirmação. Porém, logo depois, um de seus advogados, Paulo Cunha Bueno confirmou que Bolsonaro teria recebido o documento, mas, somente após sair da Presidência, em 2023.

Para o advogado criminalista Gabriel Castro, os depoimentos dos ex-comandantes e a fala do ex-presidente na manifestação “são provas robustas do envolvimento de Bolsonaro no plano, por implicá-lo diretamente na tentativa de subverter a ordem democrática”, disse. Entretanto, ele ainda é investigado e a consequência direta dos inquéritos, até o momento, é a medida cautelar de apreensão de passaporte, em razão da possibilidade de impedir a aplicação da lei penal em caso de eventual fuga do país.

É o que lembra o especialista: “É importante ressaltar é que Bolsonaro se encontra na condição de investigado. Ele ainda não responde a um processo judicial. Mas, se acaso se tornar réu, e seja condenado, a pena pode ser em torno de 12 a 18 anos”, explica “O parâmetro para esse cálculo, são as pessoas processadas e condenadas no âmbito dos atos de 8 de janeiro”, disse.

O tenente-coronel Mauro Cid ainda deve ser chamado para prestar esclarecimentos complementares, já que parte das informações encontradas pela PF em seu celular não foram abordadas por ele em sua delação premiada. A meta dos investigadores é concluir as investigações nos próximos quatro meses.

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