Por: Ana Paula Marques

Ato de Bolsonaro não para investigações do 8 de janeiro

Força do ato, que reuniu uma multidão na Avenida Paulista, não parou investigações | Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Por Ana Paula Marques

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) mandou o aviso que queria dar às autoridades com o ato na Avenida Paulista em São Paulo no último domingo (25): demonstrar sua força politica ao reunir milhares de pessoas em apoio à sua causa.

O ato foi convocado no encalço das investigações da Polícia Federal (PF) que apura o suposto plano de golpe de Estado depois das eleições de 2022. Apesar da demonstração de peso político do ex-presidente, as investigações não pararam. Na quinta-feira (29), três empresários suspeitos de terem financiado ações que culminaram nos ataques golpistas do 8 de janeiro foram presos na nova fase da Operação Lesa Pátria.

Dois deles são sócios da rede de supermercados Melhor Atacadista, em Goiás: Joveci Xavier de Andrade e Adauto Lúcio de Mesquita. O outro nome não foi divulgado, mas a PF confirmou que os dois mandatos foram cumpridos no Distrito Federal e um em São Paulo. Os dois nomes foram ouvidos na CPI dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa do DF. Joveci negou ter participado dos ataques — mas, ao mesmo tempo, admitiu ter estado no local no momento dos atos de vandalismo.

Já Adauto confirmou ter ajudado a "pechinchar" o aluguel de um trio elétrico. Mas disse que fez apenas três doações quando esteve no acampamento dos manifestantes bolsonaristas em Brasília, duas de R$ 100 e uma de R$ 1.000.

Primeiro ato

Bolsonaro conseguiu tirar a foto que queria no domingo e sua demonstração de força política reverberou até no seu principal adversário, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). "Eles fizeram uma manifestação grande em São Paulo. Mesmo quem não quiser acreditar, é só ver a imagem. Como as pessoas chegaram lá, é outros 500?", afirmou o presidente.

Bolsonaro queria demonstrar que seu público é consolidado e tem apoio, segundo a cientista política Stephannie Lopes. "Mas, o ato não vai mudar os rumos da investigação. Contudo, mostrou a força do bolsonarismo, sua capacidade de aglutinação e um grande recado de sua posição no jogo. Vale lembrar que estamos em um ano eleitoral e toda a família Bolsonaro está trabalhando ativamente para emplacar milhares de prefeituras por todo país", explica.

Para a especialista, a justiça não vai relaxar e deve ser ainda mais dura. Apesar do desgaste que uma investigação tem, Bolsonaro mantém sua postura de líder de massas, e, mesmo fugindo de possíveis condenações ao adotar um discurso mais ameno na manifestação, seu público ainda o considera uma vítima política."Ele deixa bem claro em seu último discurso que sofre perseguição política, não atacou as instituições e nem subiu o tom", disse. "Mas, claro, se as investigações mostrarem provas, podemos ter mudanças junto ao eleitorado".

Segundo ato

Outra resposta que deve ser esperada é do movimento antagonista ao de Bolsonaro. Frentes de esquerda que abrigam sindicatos e movimentos sociais anunciaram que irão realizar, no dia 23 de março, manifestações nas 27 capitais para defender a prisão de Bolsonaro.

As manifestações serão organizadas pelos movimentos de esquerda Frente Povo Sem Medo (FPSM) e Frente Brasil Popular. Apesar de se organizar para acontecer em todos os estados, deve haver um esforço de mobilização em São Paulo e em Salvador.

Resta saber se serão tão engajadas quanto a manifestação bolsonarista, onde até mesmo as informações sobre o número de pessoas que participaram divergem. A Secretaria de Segurança Pública (SSP) do governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirma que 600 mil pessoas estiveram na via e, se considerados os presentes na região adjacente à Paulista, a projeção vai a 750 mil. Já o Monitor do Debate Político da Universidade de São Paulo fala na presença de 185 mil pessoas. Porém, os dois índices concordam em uma questão: foi uma das maiores presenças já registradas em uma manifestação política na Paulista.

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