Por: Gabriela Gallo

Ato de Bolsonaro mostra força da direita, avaliam especialistas

Ato foi demonstração de força política do ex-presidente | Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

O ato em favor do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), no domingo (25), foi marcado por uma forte participação popular, mas pode ter contribuído na investigação contra ele. Nesta segunda-feira (26), a Polícia Federal disse que vai incluir o discurso de Bolsonaro no inquérito que investiga seu envolvimento em uma tentativa de golpe de Estado.

Na Avenida Paulista, Bolsonaro negou que a “minuta do golpe” – documento que articularia uma tentativa de golpe de Estado caso Lula vencesse as eleições de 2022 – se tratasse de um plano antidemocrático. A minuta propunha a decretação de Estado de Defesa para uma intervenção no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) convocando novas eleições caso Bolsonaro fosse derrotado. O encontro na Avenida Paulista convocado por Jair Bolsonaro e seus aliados foi divulgado na intenção de que ele pudesse se defender publicamente para seus apoiadores.

"Por que continuam me acusando de golpe? Porque agora tem uma minuta de um decreto de Estado de Defesa. Golpe usando a Constituição? Tenham santa paciência. Estado de Sítio começa com o presidente da República convocando os conselhos da República e da Defesa. Apesar de não ser golpe estado de sítio, não foi convocado ninguém dos conselhos”, declarou o ex-presidente. Para a PF, a fala pode reforçar a impressão de que Bolsonaro conhecia previamente a minuta.

Bolsonaro ainda defendeu uma anistia para os que foram presos por participar dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro, em Brasília. Para o ex-presidente, as penas aplicadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) são injustas. “[Peço] uma anistia para aqueles pobres coitados que estão presos em Brasília. Nós não queremos mais que seus filhos sejam órfãos de pais vivos. Nós já anistiamos no passado quem fez barbaridade no Brasil. E quem porventura depredou patrimônio, o que nós não concordamos, que pague. Mas essas penas fogem ao mínimo da razoabilidade”, declarou durante o ato.

Apesar da possibilidade de as falas de Bolsonaro virem a ser aplicadas ao processo da PF, o Líder de Inteligência Política da BMJ Associados, Nicholas Borges, considera que o discurso apresentou uma postura mais moderada do ex-presidente.

“As falas menos incisivas revelam que o ex-presidente buscava evitar maiores conflitos com o Judiciário e afastar eventuais contra-ataques de instâncias superiores da justiça”, afirmou ao Correio da Manhã. Em seu discurso, Bolsonaro não citou nomes de autoridades, mas afirmou que é vítima de “perseguição”.

Força

A reportagem também conversou com o cientista político Tiago Valenciano, que avaliou o ato como “uma resposta e uma manifestação da força política que o próprio Bolsonaro e o bolsonarismo conseguem a partir da direita”.

“Foi um evento que marcou bastante essa força que ainda está presente no Brasil tão polarizado, tão dividido ainda entre direita e esquerda. E mostra que o Bolsonaro é a principal figura que representa o país à direita. Ainda vai demorar para surgir uma outra liderança que consiga trazer pessoas para a direita tão fortemente quanto o Bolsonaro trouxe”, destacou Valenciano.

Nicholas Borges concorda com a avaliação de Valenciano e completou que “com Bolsonaro demonstrando força política, a tendência é de que o ex-presidente busque capitalizar seus cabos eleitorais para prefeituras estratégicas, ao longo do pleito deste ano”.

“Vale reforçar que as eleições municipais obedecem uma lógica diferente de coalizão quando comparamos com as alianças a nível nacional. Por isso, os interesses locais/regionais em alguns locais podem colocar o PL de Bolsonaro na contramão da estratégia do ex-presidente”, completou.

Israel

A manifestação em favor de Bolsonaro contou com uma série de brasileiros usando bandeiras do Brasil e de Israel. E o caso foi notado no exterior. Nesta segunda-feira (26), o ministro de Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, postou uma foto em suas redes sociais agradecendo pelo posicionamento daqueles que estavam presentes. “Muito obrigado ao povo brasileiro por apoiar Israel. Mesmo [o presidente] Luiz Inácio Lula da Silva não conseguirá nos separar”, escreveu Katz em suas redes sociais.

A declaração do ministro israelense aconteceu devido à polêmica envolvendo o presidente brasileiro quando, ao criticar a atuação de Israel contra a Faixa de Gaza, comparou os ataques de Israel ao que “Hitler fez com os judeus”.

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