Por: Rudolfo Lago

Em ato, Bolsonaro defende anistia para 8/1

Bolsonaro: imunizado no cartão, não no braço | Foto: Gabriel Silva/Folhapress

Se a intenção do ex-presidente Jair Bolsonaro era obter uma fotografia que demonstrasse o tamanho do apoio popular que ainda possui, essa intenção foi obtida. O ato no domingo (25) na Avenida Paulista, em São Paulo, reuniu milhares de pessoas vestindo camisas verde-amarelas. O tom belicoso de manifestações do passado – como a ocorrida na mesma Avenida Paulista em 2021 quando Bolsonaro disse que não mais obedeceria a decisões do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes – foi abandonado. Os manifestantes obedeceram às orientações de não levar faixas pedindo coisas como “intervenção militar” ou prisão de ministros da Suprema Corte. Os discursos também tiveram tom moderado. Desta vez, o próprio Bolsonaro centrou sua fala numa pregação por “anistia”, na qual os atos do passado fossem esquecidos. O ex-presidente pediu que se passasse “uma borracha no passado”.

“O que peço é a pacificação”, discursou Bolsonaro. “É passar uma borracha no passado. É buscar uma maneira de vivermos em paz, não continuarmos sobressaltados”. Nesse sentido, o ex-presidente pediu ao parlamento que aprove uma “anistia” àqueles que participaram dos atos de 8 de janeiro. Há um projeto nesse sentido do senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS), ex-vice-presidente de Bolsonaro, que não compareceu ao ato. “Por parte do parlamento brasileiro, uma anistia para os pobres coitados que estão presos em Brasília”, disse. “Não queremos que os filhos sejam órfãos de pais vivos”.

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O governador Tarcísio Freitas recebeu as lideranças nacionais no Palácio Bandeirantes, no Morumbi, antes da manifestação. Na mesa, Bolsonaro com o Silas Malafaia, Flávio Bolsonaro, Tarcísio e deputado Sóstenes | Foto: CM

Para Bolsonaro, as punições deveriam se limitar àqueles que efetivamente depredaram os prédios dos três poderes. “Nós já anistiamos no passado quem fez barbaridade no Brasil”, afirmou, referindo-se à anistia concedida em 1979, que perdoou os crimes cometidos durante a ditadura militar, tanto os daqueles à esquerda, que participaram da guerrilha, quanto à direita, os que torturaram, mataram e despareceram com adversários.

Golpe

Neste momento, o próprio Bolsonaro é investigado pelos atos de 8 de janeiro, junto com outros aliados. Operação da Polícia Federal antes do carnaval apontou para a existência do vídeo de uma reunião ministerial onde a possibilidade de uma intervenção para contestar o resultado das eleições caso houvesse derrota de Bolsonaro foi discutida. Já se conhecia o documento chamado de “minuta do golpe”, no qual decretava-se Estado de Defesa para intervir no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e convocar novas eleições. Na sede do PL, nessa operação, foi encontrada também uma minuta de um discurso que mencionava Estado de Sítio”.

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O prefeito de São Paulo Ricardo Nunes e Fábio Wajngarten ladeando o governador Tarcísio Freitas | Foto: CM

Bolsonaro mencionou os dois documentos. “Por que continuam me acusando de golpe? Por que agora tem uma minuta de Estado de Defesa? Golpe usando a Constituição?”, questionou. O argumento de Bolsonaro é que tanto o Estado de Defesa quanto o Estado de Sítio são ferramentas previstas no texto constitucional. No caso do Estado de Sítio, é preciso consultar os Conselhos da República e de Defesa Nacional e obter a autorização do Congresso.

O ato

O ato iniciou-se por volta das 15h. Bolsonaro chegou à Avenida Paulista às 14h40, acompanhado do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). A organização limitou os discursos para que o ato não ultrapassasse duas horas de duração. Tarcísio falou em nome dos governadores presentes (além dele, Ronaldo Caiado, de Goiás; Romeu Zema, de Minas Gerais, e Jorginho Mello, de Santa Catarina). O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, estava presente, mas não discursou.

O ato foi aberto por Michelle Bolsonaro. Com uma camisa com a inscrição “Orai pelo Brasil”, ela faz uma espécie de oração na qual mencionou as “injustiças” contra Bolsonaro. Chegou a se emocionar e chorar. “Eu sei que nosso Deus do alto dos céus irá nos conceder o socorro”, disse ela.

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Jair Bolsonaro no ato da Avenida Paulista, com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas; o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes; o governador de Minas Gerais, Romeu Zema; entre outras autoridades | Foto: Bruno Santos/Folhapress)

Tarcísio, que falou pelos governadores, afirmou que “Bolsonaro nunca pegou algo para si” enquanto foi presidente e que “sempre respeitou Israel” (no caso, uma referência à fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que acusou Israel de genocídio e acusou o país de estar fazendo contra o Hamas o que Adolf Hitler fez contra os judeus).

“Lula fez o Brasil passar vergonha no mundo inteiro”, acusou em seguida o pastor Silas Malafaia, que organizou o evento. Malafaia disse ainda, sem apresentar provas, que Lula sabia que aconteceriam as invasões em 8 de janeiro do ano passado.

A manifestação foi custeada pessoalmente por Malafaia. Segundo ele, o custo ficou em torno de R$ 100 mil. Ele alugou dois trios elétricos para o evento. O maior, onde discursaram Bolsonaro e as demais autoridades, teria custado, segundo o pastor, R$ 55 mil. O outro, utilizado como ponto de apoio, teria sido alugado por R$ 19 mil.

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