Por: Ana Paula Marques

Ato de Bolsonaro é aposta para demonstrar força

Expectativa é que ato gere impacto político | Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

A manifestação convocada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que acontece neste domingo (25), é a aposta para demonstrar força politica, apesar de estar inelegível até 2030, em meio ao avanço das investigações da Polícia Federal (PF) sobre suposto plano de golpe de Estado depois das eleições de 2022.

Em um vídeo publicado nas redes sociais, Bolsonaro pediu que seus apoiadores façam uma manifestação “séria, disciplinada e pacífica” no domingo. O ato, segundo o ex-presidente, será em prol da democracia e para se defender de “todas as acusações” que tem sofrido nos últimos meses. Bolsonaro pediu que o movimento se restrinja apenas à avenida Paulista, em São Paulo. Ele também pediu aos apoiadores não doarem dinheiro “para quem quer que seja”.

O ex-presidente declarou que pessoas “mal-intencionadas” andam pedindo dinheiro para o evento. Entretanto, segundo ele, o ato será custeado com recursos próprios do pastor Silas Malafaia, seu apoiador.

Aposta

A aposta de Bolsonaro é se enquadrar como líder popular com o objetivo de constranger as instituições no avanço das investigações, no possível julgamento e condenação. É o que avalia o coordenador de análise política da BMJ Consultores Associados, Lucas Fernandes.

Segundo o analista, o ex-presidente busca sair dessa manifestação demonstrando força, mostrando que ainda consegue mobilizar muitas pessoas. “Ele busca também o respaldo e apoio em níveis institucionais. Então, do ponto de vista de opinião pública, Bolsonaro busca uma foto marcante, de ruas cheias, com muitos apoiadores presentes”, explicou.

Do ponto de vista institucional, Bolsonaro também busca ter uma série de políticos ao seu lado. Entre os nomes confirmados estão o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos); o prefeito da capital paulista, Ricardo Nunes (MDB); os governadores Jorginho Mello (PL), de Santa Catarina, e Ronaldo Caiado (União Brasil), do Goiás.

A expectativa dos organizadores é que mais de 114 políticos compareçam à manifestação. Segundo o analista, as recentes crises do atual governo auxiliam o ex-presidente na sua prerrogativa. “Inicialmente, o Executivo enfrentou a questão da segurança pública que era um assunto onde o Bolsonaro surfava desde o início do governo do PT e que se agravou com a fuga dos presos do presídio de segurança máxima de Mossoró, no Rio Grande do Norte, e agora, com declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra Israel, esse movimento se intensificou”, explica.

Riscos

Um dos riscos que Bolsonaro corre ao chamar o ato político é o de seus apoiadores trazerem um teor golpista como já aconteceu em outras manifestações. Pedirem, por exemplo, intervenção militar ou fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF) ou prisão de ministros. Entre 2019 e 2022, mesmo durante a pandemia de covid-19, o presidente convocou e foi a uma série de protestos pró-governo e com críticas ao Judiciário, principalmente, contra ministros do Supremo Tribunal Federal.

Segundo Lucas Fernandes, faixas pedindo ações antidemocráticas, como o fechamento de instituições ou pedidos para as Forças Armadas assumirem o comando do governo pode ser muito prejudicial. “Isso acabaria por contaminar o ambiente, fazendo com que as investigações corram mais rápido, ou inclusive que uma prisão preventiva possa ser feita, sob argumento de que o Bolsonaro estaria incitando uma nova tentativa de golpe”, explica.

Para o analista, o risco é baixo porque vários parlamentares bolsonaristas têm feito apelo para que as pessoas não levem faixa pedindo fechamento de instituições. “Resta ver se o público vai respeitar”.

Por outro lado, o ministro Alexandre de Moraes não quer solicitar a prisão preventiva do Bolsonaro. De acordo com fontes do Supremo, o ministro tem interesse em que a investigação corra, que Bolsonaro seja eventualmente julgado, que haja o recurso de habeas corpus e que só depois desse recurso julgado ele seja eventualmente preso.

“A estratégia é que Bolsonaro passe por um período maior de exposição midiática com a investigação e julgamento para só depois eventualmente ir para a cadeia. A avaliação é de que prendê-lo antes disso poderia incitar ainda mais a militância e, principalmente, prendê-lo antes das eleições deste ano poderia inclusive aumentar a sua influência política nas eleições municipais. Então, a tendência também é de que não haja prisão de Bolsonaro após essa manifestação”, explica o analista.

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