Por: Gabriela Gallo e Murilo Adjuto

Secretário americano discorda da visão de Lula sobre Israel

Na conversa, Blinken manifestou discordância com a fala de Lula | Foto: Foto: Ricardo Stuckert / PR

Nas reuniões que teve na quarta-feira (20), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu governo seguiram tentando conter os danos da fala polêmica dita no domingo (18) acerca da guerra no Oriente Médio. Embora não tenham acontecido novas manifestações oficiais, a apuração é de que o secretário de Estado dos Estados Unidos, Anthony Blinken, manifestou discordância com a comparação feita por Lula dos ataques de Israel aos palestinos na Faixa de Gaza ao que “Hitler fez com os judeus”. Houve também reação por parte do líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), que é judeu, e afirmou que a fala “fere sentimentos”.

Nesta quarta-feira (21) aconteceu o primeiro encontro de chanceleres do G20 (grupo dos países mais ricos do mundo) presidida pelo Brasil. O encontro aconteceu em Marina da Glória, no Rio de Janeiro. E o tema da Guerra entre Israel e o Hamas e os ataques na Faixa de Gaza fazem parte dos debates.

Retratação

Em coletiva com a imprensa nesta quarta-feira (21) o presidente do Congresso Nacional, Rodrido Pacheco (PSD-MG), declarou que a fala de Lula comparando os ataques de Israel à Faixa de Gaza com o Holocausto foram declarações inadequadas. No entanto, ele destacou que isso não influenciará a relação pessoal e institucional dele com o presidente. Na véspera, Pacheco chegara a pedir que Lula se retratasse. Um posicionamento que gerou reações, porque não teria sido previamente combinado com os líderes. O senador Omar Aziz (PSD-AM), que é filho de palestinos, reagiu, dizendo não haver outra forma de se referir às ações de Israel se não classificá-las como genocídio contra os palestinos.

“Esta comparação foi uma comparação infeliz, inadequada, mas se for esclarecida e houver uma retratação evitará um problema diplomático. Mas nada abala a minha relação com o presidente Lula, que é de admiração e respeito”, disse Pacheco.

Na mesma linha de Pacheco, o embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, em entrevista ao UOL, disse que a fala de Lula foi “problemática”, mas isso não pode prejudicar a relação entre os dois países. De acordo com o embaixador, Lula e o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu precisam "escolher as palavras com mais cautela" afim de manter as relações diplomáticas entre os países.

G20

Representando o Brasil na reunião do G20, o ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, abriu a sessão reforçando a importância do G20 e destacou que é papel do grupo resolver assumir o papel para resolver crises internacionais.

“Diante do quadro que vivemos, este grupo é possivelmente o forúm mais importante, onde países com visões opostas ainda conseguem se sentar à mesa e ter conversas produtivas sem necessariamente carregar o peso de posições arraigadas e rígidas que tem impedindo os avanços em outros fóruns como o Conselho de Segurança das Nações Unidas”, afirmou.

A declaração do chanceler brasileiro foi realizada no dia seguinte ao terceiro veto dos Estados Unidos no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) para determinar um cessar-fogo imediato na guerra entre Israel e Hamas.

Ainda no encontro, ele destacou que “o Brasil não aceita um mundo em que as diferenças são resolvidas com o uso das forças militares”. Ele ainda criticou o orçamento para forças militares, em especial se comparado aos investimentos com assistência. “Não é minimamente razoável que o mundo ultrapasse a marca de US$ 2 trilhões em gastos militares a cada ano. A título de comparação, os programas de ajuda da Assistência Oficial ao Desenvolvimento permanecem estagnados em torno de US$ 60 bilhões por ano – menos de 3% dos gastos militares", denunciou o ministro.

EUA

Enquanto Mauro Vieira representava o Brasil no G20, o presidente Lula discutiu uma série de medidas com Antony Blinken. O secretário evitou comentar oficialmente sobre o conflito entre Israel e Hamas na Faixa de Gaza. Essa foi a primeira visita que o secretário de Estado na gestão de Joe Biden vem ao Brasil, embora o tema tenha sido mencionado na conversa.

“Foi uma ótima reunião. Sou muito grato ao presidente pelo seu tempo. Os Estados Unidos e o Brasil estão fazendo coisas muito importantes juntos. Estamos trabalhando juntos bilateralmente, regionalmente, mundialmente. É uma parceria muito importante e somos gratos", declarou Blinken ao deixar o Planalto.

O secretário não deu informações detalhadas sobre as pautas discutidas. Porém, o governo americano informou que o secretário deve enfatizar o apoio dos EUA à presidência do Brasil no G20 e destacar a parceria entre os dois países nas áreas de direitos trabalhistas e transição energética.

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