Por: Rudolfo Lago

Ações baseiam-se em documentos que estavam com Cid. Veja detalhes

A não adesão de Freire Gomes é ponto importante | Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

Quando foi encontrada na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres o documento que ficou conhecido como “minuta do golpe”, o ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou que não o conhecia. “Não tomei conhecimento desse documento, dessa minuta”, disse na ocasião Bolsonaro. As 135 páginas da decisão tomada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes à petição 12.100 que levou às ações da Polícia Federal (PF) na quinta-feira (8) reforçam indícios de que Bolsonaro não apenas teve conhecimento da minuta. Ele a teria recebido, a lido, e pedido alterações no texto. E depois reunido os comandantes das Forças Armadas para discuti-la.

A quase totalidade dos documentos que embasaram a decisão de Alexandre de Moraes estavam com o ex-ajudante de Ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, e foram entregues dentro do acordo de colaboração feito por Cid. a versão de que Bolsonaro conhecia o documento é reforçada em diálogos encontrados no aparelho de celular de Cid.

A “minuta de golpe” seria uma proposta de decreto presidencial. Por ele, Bolsonaro, ainda presidente, decretaria Estado de Defesa no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Uma espécie de intervenção no tribunal, sob a alegação de que havia evidências de que a eleição de 2022, vencida pelo atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva, teria sido fraudada. A intervenção, então, anularia as eleições. Uma “Comissão de Regularidade Eleitoral” seria criada para fazer novas eleições.

De acordo com o texto da decisão de Moraes, os diálogos encontrados no celular de Cid mostram que a minuta de decreto teria sido entregue a Bolsonaro por Filipe Martins, então seu assessor, e pelo advogado Amauri Feres Saad. Segundo os diálogos, Bolsonaro recebeu o texto e pediu modificações. Primeiro, pediu que ele fosse enxuto, retirando parte dos “Considerandos” (alegações iniciais que embasam o decreto). E, principalmente, que altere uma parte grave. Entre as ações, seriam determinadas as prisões do presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Moraes; do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e do ministro do STF Gilmar Mendes. Bolsonaro, segundo as conversas, manda retirar Pacheco e Gilmar e manter somente Alexandre de Moraes.

Militares

A sequência mostra diversas ações para envolver militares. O coronel Bernardo Romão Correia Neto, assistente do Comando Militar do Sul, trabalharia para fazer circular uma “Carta ao Comandante do Exército” como forma de pressionar militares a aderir à ação em curso.

E o próprio Bolsonaro fez, depois, uma reunião com os comandantes militares para sondar a adesão ao Estado de Defesa caso fosse decretado. Os relatos apontam que o então comandante do Exército, general Freire Gomes, não aderiu a proposta.

“Cagão”

A não adesão de Freire Gomes parece ser ponto importante. É motivo de um diálogo entre o ex-candidato a vice-presidente general Braga Netto com o Ailton Barros, militar das Forças Especiais. “Meu amigo, infelizmente tenho que dizer que a culpa pelo que está acontecendo (…) é do general Freire Gomes”, disse Braga Neto. Ailton sugere: “Vamos oferecer a cabeça dele aos leões”. O general concorda: “Oferece a cabeça dele. Cagão”.

Entre os documentos, há ainda um vídeo de uma reunião de Bolsonaro com ministros. Nessa reunião, ele pressiona ministros a agirem para denunciar os supostos riscos de fraude nas eleições. A fala mais dura é de Augusto Heleno. “Não vai ter revisão do VAR. Se tiver que dar soco na mesa é antes das eleições. Se tiver que virar a mesa é antes das eleições.

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