Venezuela e Guiana se comprometem a manter diálogo
Os países terão nova reunião para discutir as propostas sobre o conflito de Essequibo
A reunião mediada pelo Brasil com os chanceleres de Venezuela e Guiana terminou na sexta-feira (25) após sete horas com o compromisso por parte dos dois países de continuar dialogando. O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, mediador da reunião, conseguiu um avanço: evitar provocações e ameaças em torno do impasse relacionado ao território de Essequibo que pudessem agravar o conflito. Comprometimento feito pelos dois países.
Em nota, o ministro brasileiro declarou que Guiana e Venezuela apresentaram, durante a reunião, suas propostas de agenda para o trabalho da Comissão Conjunta de Chanceleres e Técnicos da República Cooperativa da Guiana e da República Bolivariana da Venezuela.
Após a reunião, o chanceler venezuelano, Ivan Gil, disse que ouviu atentamente as considerações dos vizinhos. “Falamos da necessidade de seguirmos abordando o tema por via diplomática e de garantir que nenhuma parte fará ameaça de usar a força ou envolver terceiras partes”, afirmou.
Reunião
O Brasil recebeu, além dos chanceleres, representantes da Organização das Nações Unidas (ONU) e da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac). Mauro Vieira declarou que as propostas da Venezuela e Guiana para o conflito ficarão para posterior análise “em uma nova reunião que poderá ser realizada novamente no Brasil”.
O ministro brasileiro também afirmou que “a América Latina tem a vontade política e todos os instrumentos necessários para avançar seus projetos de comum desenvolvimento social justo, em um ambiente pacífico e solidário”.
A Guiana está disposta a resolver as controvérsias que o governo venezuelano tem com a decisão de 1988 do tribunal arbitral de que o território pertence ao país, é o que afirmou o chanceler guianense, Hugh Tod. Para os venezuelanos, a atual fronteira foi estabelecida de forma fraudulenta pelo Laudo Arbitral de Paris, que envolveu dois árbitros britânicos, dois norte-americanos.
Apesar de sair contrariada, a Venezuela na época acatou os limites impostos pelo laudo, que favoreciam os britânicos — a Guiana só se tornou um pais independente, em 1966, antes disso, era dominada pelo Reino Unido, desde meados do século XIX. Décadas depois do laudo, a Venezuela decidiu refutar o acerto, e desde então afirma ser a verdadeira proprietária da região.
Em dezembro de 2023, Nicolás Maduro foi além e fez um referendo para anexar o território de Essequibo à Venezuela. Mais de 95% dos eleitores do país votaram a favor.
O território de Essequibo está atualmente localizado na região guianense, em um trecho de 160 quilômetros quadrados que corresponde a cerca de 70% de toda a Guiana e atravessa seis dos dez estados do país. A área é rica em petróleo e em outros recursos naturais.
Recado de Lula
O governo brasileiro mostra uma postura de protagonista no conflito sobre Essequibo — região que faz fronteira com o Brasil — após as gafes das políticas externas nas investidas para chegar a um acordo nos conflitos recentes como o da Ucrânia e Rússia e entre Israel e o Hamas.
Na avaliação de internacionalistas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já deu recado de que a Venezuela não terá apoio brasileiro se insistir em um conflito. Ele aceitou o convite para participar da cúpula da comunidade dos Estados do Caribe (Caricom), que neste ano acontece justamente na Guiana. O Brasil não faz parte do bloco e usará o convite para reforçar as relações com países caribenhos.
