Autoridades reagem à operação da PF

Para oposição, ação política. Políticos querem lista de monitorados

Por Ana Paula Marques e Gabriela Gallo

Flávio nega ter sido ajudado pela Abin

A operação da Polícia Federal (PF) “Vigilância Aproximada” gerou repercussão entre autoridades e políticos brasileiros. A PF investiga um suposto esquema de espionagem ilegal da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) contra autoridade e políticos. O alvo da operação é o agora deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), que entre julho de 2019 e março de 2022 foi diretor-geral da Abin durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).

O deputado e sete policiais federais são suspeitos de monitoramento ilegal, que envolvia o uso do software "First Mile", ferramenta de geolocalização que permite identificar as movimentações de pessoas por meio de celulares. Segundo a PF, o esquema monitorou celulares de servidores públicos, políticos, policiais, advogados, jornalistas e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), acusado de ter sido beneficiado pelo esquema de espionagem, negou ter recebido informações da Abin. Em entrevista à CNN, o parlamentar afirmou que a alegação é um "absurdo completo”.

“Jamais recebi isso, eu nunca vi esse suposto relatório, isso não foi usado por mim em momento algum durante toda a minha defesa”, afirmou o senador.

Nesta quinta-feira (25), o senador que assumirá o comando da Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência da Casa, Renan Calheiros (MDB-AL), declarou que irá solicitar a íntegra do inquérito que resultou na operação. O senador Omar Aziz (PSD-AM) afirmou que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), “tem a obrigação” de solicitar a relação de políticos e outras figuras do poder que foram alvos de espionagem pela Abin.

Defesa

Parlamentares de oposição ao governo Lula usaram o antigo Twitter, agora “X”, para se pronunciar sobre a operação da PF. O senador Magno Malta (PL-ES) alegou que a operação se trata de uma “perseguição política implacável contra” o deputado federal e a família dele.

A senadora Damares Alves (Republicanos-DF) também usou suas redes sociais para comentar o caso, relembrando que há menos de uma semana o líder da oposição na Câmara dos Deputados, Carlos Jordy (PL-RJ), também foi alvo de uma operação da PF. “Mais um parlamentar de oposição tem o gabinete revirado por uma operação de busca e apreensão. Novamente, um parlamentar que é pré-candidato nas eleições municipais deste ano. As lideranças do Congresso Nacional precisam reagir a esse tipo de quebra de prerrogativas parlamentares sem precedentes na história do Brasil”, escreveu a senadora.

O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, disse que a operação é uma perseguição ao partido por causa da presença do ex-presidente Jair Bolsonaro na sigla. “Esse negócio de ficar entrando nos gabinetes é uma falta de autoridade do Congresso Nacional. Rodrigo Pacheco [presidente do Congresso] deveria reagir e tomar providências. Isso é pura perseguição e pode acabar elegendo o Ramagem com mais facilidade no Rio de Janeiro”, disse Valdemar.

A declaração de Costa Neto provocou reação de Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que, apesar de não citar nomes, respondeu ao presidente do PL nas redes sociais. “Difícil manter algum tipo de diálogo com quem faz da política um exercício único para ampliar e obter ganhos com o fundo eleitoral e não é capaz de organizar minimamente a oposição para aprovar sequer a limitação de decisões monocráticas do STF”, escreveu o parlamentar.

Escândalo

No outro lado, as autoridades da base governista declaram que a operação deflaga “um dos maiores escândalos da história da República”. A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR) declara que a investigação comprova o envolvimento do ex-presidente Bolsonaro.

“O inquérito da PF e do STF comprova que Jair Bolsonaro e seus cúmplices nunca tiveram limites para grampear, perseguir e usar instituições de estado contra seus adversários. É apenas a ponta de um novelo que envolveu dezenas de milhares de pessoas espionadas pelo pior presidente de todos os tempos”, descreve Hoffmann.

O senador Humberto Costa (PT-PE) defendeu que esse seria o “maior ataque às liberdades individuais que se tem notícia no país desde a ditadura militar” e solicitou um posicionamento do Congresso Nacional.

O ex-ministro da Justiça Flávio Dino, que assumirá o STF em fevereiro, afirmou que "ninguém" tem respaldo jurídico para escolher "arbitrariamente" quem vai ser investigado ou ter a privacidade invadida. Para Dino, quando membros de uma instituição se "apropriam" dela para cometer "ilegalidades", é necessária uma "reprovação".