Investigação sobre Ramagem movimenta mundo político

Deputado da oposição foi diretor-geral da Abin durante a gestão de Jair Bolsonaro

Por Gabriela Gallo

Delegado Ramagem

Após as investigações contra o líder da oposição na Câmara dos Deputados, Carlos Jordy (PL-RJ), parlamentares da oposição acordaram com outro nome sob investigação. Nesta quinta-feira (25), a Polícia Federal (PF) deu início à Operação Vigilância Aproximada, que tem como principal alvo o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ). A operação foi autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.

A nova operação da PF dá continuidade à Operação Última Milha, deflagrada em outubro de 2023, que investigava se a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) teria usado software israelense ‘FirstMile’ para espionar, de maneira ilegal, agentes políticos e jornalistas. A investigação visa comprovar, analisar e descobrir como de fato o aparelho israelense foi utilizado. Ramagem foi diretor-geral da Abin em 2019, durante o governo de Jair Bolsonaro (PL) e é investigado pela polícia se continuou recebendo informações da Abin, mesmo após deixar o cargo.

A PF apreendeu ao menos seis celulares e quatro notebooks nos endereços ligados à Ramagem, em sua residência e seu gabinete. Moraes determinou o afastamento de sete policiais federais suspeitos de colaborar na espionagem, porém, negou o pedido da Polícia em afastar temporariamente do mandado o deputado.

Estrutura paralela

“As provas obtidas a partir das diligências executadas pela Polícia Federal à época indicam que o grupo criminoso criou uma estrutura paralela na Abin e utilizou ferramentas e serviços daquela agência de inteligência do Estado para ações ilícitas, produzindo informações para uso político e midiático, para a obtenção de proveitos pessoais e até mesmo para interferir em investigações”, afirmou a PF por meio de nota.

Dentre as principais autoridades que teriam sido monitoradas pela Abin estão, segundo a Polícia Federal: o ministro da Educação e então governador do Ceará, Camilo Santanna; os ministros do STF Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes; o então presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia, e a então deputada federal Joice Hasselmann, ex-aliada que depois tornou-se opositora de Jair Bolsonaro.

Ainda segundo os agentes federais, quem teria se beneficiado dessa investigação seriam os filhos o ex-presidente o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que supostamente teria um relatório preparado pela Abin para auxilar em sua defesa, e Jair Renan Bolsonaro. Apesar de não estar no campo político, o relatório da PF aponta que o filho mais novo de Bolsonaro teria se aproveitado da Abin para receber informações relacionadas a investigação da PF sobre suposto tráfico de influência que o envolveria.

Ramagem defende-se

Em sua defesa, Ramagem lembra que o o equipamento israelense de monitoramento não foi adquirido por ele, mas antes no governo de Michel Temer. “A tal ferramenta foi adquirida em 2018, portanto antes do governo de Jair Bolsonaro. Lá na aquisição, a ferramenta teve parecer técnico favorável da AGU [Advocacia Geral da União], que é independente. Quando nós ingressamos na ABIN no meio de 2019 fizemos auditoria em todos os contratos. Ainda fizemos correições na corregedoria que é independente, autônoma e avalizada pela CGU [Controladoria-Geral da União]”, reforçou o parlamentar.

A previsão era que Ramagem, que também é pré-candidato à Prefeitura do Rio de Janeiro, prestasse depoimento ainda na quinta-feira na sede da Polícia Federal, em Brasília. Porém, a assessoria de comunicação do parlamentar informou que ele “está se inteirando da investigação e só vai depor e se pronunciar depois que estiver ciente de tudo”.

Em entrevista à Globonews na quinta-feira, o ex-diretor da Abin negou as acusações e reforçou que não foi intimado a prestar depoimento à PF, portanto ele não era obrigado a dar sias explicações. Ele ainda afirmou que a Polícia Federal nunca teve acesso às senhas do sistema israelense e negou a relação direta dele em suposta proteção ao clã Bolsonaro.

“Quando eu tive acesso ao parecer do MP [Ministério Público] e a decisão judicial, o que nós vemos é uma salada de narrativas, inclusive antigas e já superadas, colocadas para imputar criminalmente no nome da gente [oposição] sem qualquer conjunto probatório”, acusou Ramagem.