Por: Rudolfo Lago

As praias desertas de Lula no réveillon

O acesso à ilha da Marambaia é muito restrito | Foto: A. Galante/Marinha

As lindas praias desertas da ilha da Marambaia têm sido um dos destinos preferidos dos presidentes da República. A ilha na qual o presidente Luiz Inácio Lula da Silva passará o réveillon de 2023 foi, por exemplo, o destino do ex-presidente Jair Bolsonaro no Natal de 2018. O próprio Lula já esteve lá em outras ocasiões, e também o ex-presidente Michel Temer.

E as razões são óbvias. Primeiro, as praias são paradisíacas. Quando, por exemplo, uma telenovela da TV Globo buscou cenários para recriar uma republiqueta de ficção no mar do Caribe em “Kubanacan”, o cenário foi a restinga da Marambaia, com suas praias desertas e casas de estilo colonial. As praias não são apenas paradisíacas. São desertas. Porque o acesso a elas é extremamente restrito, o que garante total segurança aos governantes.

A ilha é uma base naval dentro da Restinga da Marambaia. O território no litoral do Rio de Janeiro é administrado em conjunto pela Marinha, Exército e Aeronáutica. Parte da ilha é ainda mais restrita, pois compõe uma Área de Preservação Ambiental (APA). Um civil pode frequentar a ilha se tiver autorização militar expressa para isso. Mesmo assim, precisa ainda pagar uma taxa de R$ 150.

Tráfico negreiro

A ilha é um centro de adestramento de fuzileiros navais, o Centro de Adestramento da Ilha da Marambaia (Cadim). Além do local onde Lula e a primeira-dama Janja ficarão hospedados, há casas ocupadas pelos militares e construções de uma antiga fazenda do século 19.

Um passado, porém, não tão nobre. A antiga fazenda era um importante entreposto do tráfico negreiro, de pessoas que vinham da África para serem escravizadas no Brasil. O atual hotel de trânsito usado pelos militares na ilha era onde funcionava a antiga senzala da fazenda.

A Marinha adquiriu a antiga fazenda para transformá-la em centro de treinamento no início do século passado, em 1908.

Quilombo

O antigo destino ligado à escravidão gerou os únicos moradores da ilha além dos militares. Descendentes desses africanos escravizados vivem ainda na região em uma comunidade quilombola. Até 2014, a relação desses quilombolas com os militares era conflituosa. Nesse ano, o Ministério Público Federal intercedeu para permitir a permanência da comunidade no local que eles já ocupavam há mais de cem anos.

O Termo de Ajustamento de Conduta estabelecido na época pelo Ministério Público determinou a convivência no local dos militares e dos quilombolas.

O presidente Lula já viajou para a ilha. Ele ficará lá até o dia 3 de janeiro, quando retorna a Brasília.

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