Por: Rudolfo Lago

"Estou quase torcendo para a Argentina", diz Bolsonaro

Aproximação com Bolsonaro é avaliada por Lula | Foto: Reprodução X

Ninguém se espante se nesta terça-feira (21) à noite, o ex-presidente Jair Bolsonaro envergar uma camiseta azul-celeste e branca e torcer pela equipe de Lionel Messi contra o time dirigido por Fernando Diniz que terá o atacante Gabriel Jesus no lugar de Vinicius Jr., que se lesionou na partida anterior. Pelo menos é o que o próprio Bolsonaro disse ao presidente eleito da Argentina, Javier Milei, em conversa por telefone na segunda-feira. “Estou quase torcendo para a Argentina”, disse ele, referindo-se ao jogo que acontecerá à noite no Maracanã contra a seleção brasileira, pelas eliminatórias da Copa do Mundo.

Milei venceu o segundo turno das eleições argentinas do domingo (19), com 55,7% dos votos contra o candidato governista, o ministro da Economia, Sergio Massa, que teve 44,3%. A conversa foi gravada em vídeo por Bolsonaro, que a postou em seu perfil no X, o antigo Twitter. Foi uma videoconferência por celular, da qual participou também o filho do ex-presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP).

“Parabéns!”, disse Bolsonaro vibrando e cerrando o punho em comemoração. “Você tem um trabalho muito grande pela frente. Sua vitória representa muito para nós que somos amantes da liberdade”, afirmou. Milei, então, convidou Bolsonaro para a sua posse como presidente, no dia 10 de dezembro. “Iremos”, respondeu Bolsonaro. “Fantástico”, reagiu Milei.

Direita

O economista Javier Milei, que se classifica como um “anarco-capitalista”, representa a possibilidade de um retorno, para a direita que se viu recentemente derrotada no continente sul-americano, em episódios como a própria derrota de Bolsonaro para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições do ano passado.

Antes majoritária no continente, presidentes de direita agora governarão apenas a Argentina com Milei, o Equador, o Paraguai e o Uruguai. Caso se estenda para toda a América Latina, são de direita também os governantes da Guatemala e da Costa Rica.

Lula

Enquanto Bolsonaro comemora e se prepara para viajar a Buenos Aires para a posse, o presidente Lula preocupa-se. A primeira preocupação de Lula é com o Mercosul. Boa parte da estratégia econômica internacional de Lula baseia-se no fortalecimento de blocos econômicos, como o Mercosul e o Brics. Inicialmente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o bloco foi recentemente ampliado com a entrada da Arábia Saudita, o Egito, os Emirados Árabes Unidos, a Etiópia, o Irã, e a própria Argentina, agora presidida por Milei.

Lula teme que a aversão demonstrada por Milei por esse tipo de associação entre os países atrapalhe esses planos. No caso do Mercosul, mesmo que o novo presidente argentino não consiga romper com o bloco econômico, o governo avalia que ele pode contribuir para atrasar ações, por falta de vontade própria de desenvolvê-las. Depois do Brasil, a Argentina é a principal economia do Mercosul.

Por isso, Lula telefonou na própria segunda-feira para o presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyer, para acelerar o acordo que o bloco europeu pretende firmar com o Mercosul. Lula quer ver o acordo fechado antes da posse de Milei, para que não haja o risco de, depois, ele se mostrar contrário à assinatura. O Brasil ocupa a presidência do Mercosul até o dia 7 de dezembro.

O acordo entre o Mercosul e a União Europeia foi concluído em 2019. Mas ele precisa ser aprovado pelo Parlamento Europeu. Depois, questões políticas precisarão ser ratificadas pelos Congressos dos países tanto do bloco sul-americano quanto do bloco europeu.

Neste primeiro momento, a estratégia do governo brasileiro é evitar ao máximo eventuais provocações que possam vir do novo governo argentino. Não responder e especialmente também evitar qualquer tipo de manifestação política. Por enquanto, essa discrição também vem sendo adotada pelo próprio Milei, que não fez ataques a Lula nem ao governo brasileiro.

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