Por: Ana Paula Marques

Crise de Zambelli com hacker pode atingir o PL

Zambelli afirma que pagou hacker para seu site | Foto: Lula Marques/Agência Brasil

Em depoimento à Polícia Federal na terça-feira (14), a deputada Carla Zambelli (PL-SP) negou ter contratado o hacker Walter Delgatti para invadir e inserir dados falsos no sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) ou para algum outra ação semelhante. Na versão de Zambelli, Delgatti, embora àquela altura fosse já um hacker conhecido, teria sido contratado apenas para prestar serviços de informática, na elaboração de seu site pessoal.

Conhecido como “hacker de Araraquara”, Delgatti é um dos responsáveis pelo vazamento das informações que comprometeram o ex-juiz e hoje senador Sergio Moro (União-PR). O episódio, conhecido como “Vaza Jato”, mostrou conversas de whatsapp nas quais Moro combinaria ações da Operação Lava Jato com procuradores de Curitiba. Apesar de toda essa notoriedade, Zambelli quer convencer os investigadores que ela foi atrás do profissional somente para “mexer” em seu site.

Essa não é a versão do próprio Delgatti. Que admitiu à PF que teria sido contratado pela deputada para tentar invadir o e-mail e o celular do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. Delgatti chegou a produzir um mandato de prisão falso contra Moraes, que inseriu nos sistemas do CNJ. Por essa razão, o hacker foi preso. Delgatti afirma que agiu por ordem de Carla Zambelli. A deputada nega.

Pagamento

Os investigadores encontraram um pagamento de R$ 13,5 mil ao hacker por assessores da deputada, segundo Delgatti, para a invasão de sistemas. Zambelli confirmou somente o pagamento de R$ 3 mil, em novembro, através da empresa de mídia que sublocou o hacker, condenado a 20 anos de cadeia, para poder mexer em seu site. O restante, de acordo com a versão de Zambelli, teria sido a compra de uísque de um assessor dela, de nome Renan. “Já o pagamento de R$10.500 feito pelo meu assessor Renan foi uma transação de uísque entre eles que tem todas as comprovações” disse a deputada.

No site do supermercado Carrefour, uma garrafa de uísque Johnnie Walker 12 anos está custando R$ 115. Ou seja, verdadeira a versão de Zambelli, o hacker teria comprado do assessor dela mais de 86 garrafas da bebida.

Caso confirmado o envolvimento, a deputada pode perder seus direitos políticos e a pode ser condenada a cinco anos de prisão, como explica Anne Cabral, membro da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Politico (Abradep). Para isso, após ser indiciada, Zambelli ainda precisa ser julgada pelo Supremo Tribunal Federal por ter foro politico.

Dano ao PL

Zambelli vem dando dor de cabeça ao PL desde as eleições do ano passado, quando ela foi filmada apontando uma arma e correndo atrás de um homem negro no bairro dos Jardins, em São Paulo. O caso gerou distanciamento da deputada do ex-presidente Jair Bolsonaro, que era então candidato à reeleição. Bolsonaro é hoje o presidente de honra da sigla. Antes do acontecimento, Zambelli era vista como uma grande arrecadadora de votos e uma das mais fieis bolsonaristas. Depois disso, e com o avanço de denúncias contra ela, começou a ser vista como um estorvo.

Segundo o analista político Nauê Bernardo, as investigações contra a deputada se somam ao desgaste que ela já sofria desde as eleições de 2022. “São situações que afetam negativamente, até na tomada de decisão do PL nas vésperas das eleições de 2024. É uma relação abalada, mas Zambelli, que foi a terceira política mais votada do Brasil nas últimas eleições, tem o peso do voto ideológico e não é um quadro político que pode ser descartado”, disse.

Deve ser avaliado tanto de Zambelli quanto de Bolsonaro — que está inelegível até 2030 —, a capacidade de transferir votos, já que mesmo com todas as investigações contra o próprio ex-presidente e seus aliados mais próximos, “isso não parece afastar a base resiliente que segue com ele”, explica o analista.

Oposição

Trabalha ainda pelo enfraquecimento do PL e da oposição as ações do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para atrair nomes conservadores para o seu lado. Esse trabalho é feito a partir das articulações de Lula com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o Centrão. O grupo já conseguiu obter três ministérios e a presidência da Caixa. São indicações de Lira os ministros do Turismo, Celso Sabino; do Esporte, André Fufuca, e dos Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho. E o presidente da Caixa, Carlos Vieira.

O analista político Bernado Negri explica que esse enfraquecimento da oposição, que se aproxima do governo desde o início do mandato, é um movimento para garantir emendas orçamentárias e espeços de poder. “O enfraquecimento da oposição vem no encalço do apoio que o Centrão tem dado ao governo e vem para garantir cargos e influência no governo de modo geral”, disse.

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