Por: Rudolfo Lago -BSB

Bolsonaro comparece, mas se cala em depoimento à PF

Ex-presidente na saída da sede da Polícia Federal | Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Em nova ida à sede da Polícia Federal (PF), em Brasília, para prestar depoimento, o ex-presidente Jair Bolsonaro resolveu se manter em silêncio. Ele é investigado no inquérito sobre um grupo de WhatsApp onde havia troca de mensagens com empresários sobre um golpe de Estado e ruptura democrática. Sua defesa foi feita por escrito e alega que o Supremo Tribunal Federal (STF) não tem atribuição para tratar do caso.

Apesar de a PF não informar com precisão que as mensagens com teor golpista encontradas no celular de um desses empresários teriam sido enviadas pelo então presidente Bolsonaro, ele mesmo assumiu a autoria do texto enviado, em junho de 2022, pelo contato "PR Bolsonaro 8" pedindo que o empresário Meyer Nigri repassasse “ao máximo” textos com acusações contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso, que hoje preside a Corte.

O ex-presidente e seus advogados falaram com a imprensa na saída do prédio da polícia, onde declararam que as conversas eram privadas e que a investigação tinha o objetivo de censurar apoiadores, como o empresário Luciano Hang. “Objetivo do inquérito foi calar e censurar o senhor Luciano Hang, que tinha 10 milhões de seguidores. As eleições foram conduzidas com parcialidade no ano passado”, afirmou Bolsonaro na saída.

Bolsonaro defendeu que a estratégia da defesa é "continuar batendo na tecla da competência do Supremo” para analisar o caso. “A competência não é do STF nesse caso. Advogados entendem que é da primeira instância. Sempre estivemos prontos pra colaborar", continuou.

STF

A acusação tramita na Suprema Corte dentro de outro inquérito, chamado de milícias digitais, aberto desde julho de 2021, que visa investigar ataques às instituições democráticas. O caso começou a ser apurado pelo STF após o vazamento das mensagens em agosto daquele ano. Naquele mesmo mês, o ministro relator do inquérito, Alexandre de Moraes, determinou a busca e apreensão dos celulares dos empresários que faziam parte do grupo.

O ministro chegou a arquivar o caso contra seis empresários do grupo, mas manteve as investigações contra Meyer Nigri e Luciano Hang, que negam os crimes. A investigação sobre os empresários é vista como peça-chave para o desfecho do inquérito das milícias digitais.

Outros inquéritos

É a quinta vez que Bolsonaro comparece à PF para prestar depoimento. Antes, ele foi ouvido nas investigações sobre fraude no cartão de vacina, sobre o escândalo das vendas das joias recebidas em viagens oficiais, no inquérito dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro e pelo suposto plano de golpe de Estado, denunciado pelo senador Marcos do Val (Podemos-ES).

Em todos esses casos, o presidente resguardou seu direito constitucional de se manter em silêncio.

Segundo o advogado criminalista, Luiz Antônio Calháo, por estar em fase investigatória, a polícia no momento tenta colher todas as provas. “É possível que ele possa ser chamado novamente para prestar depoimento para dar a versão dele dos fatos” disse.