Lula demite Ana Moser para entregar Esportes ao PP
Silvio Costa deverá ir para Portos e Aeroportos. É o fim da novela ministerial?
É mais um capítulo do feminicídio político. Depois de Daniela Carneiro no Turismo, substituída por Celso Sabino, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva resolveu demitir outra mulher para abrigar políticos do Centrão no primeiro escalão. No final da tarde de ontem, Lula comunicou à ex-campeã de vôlei Ana Moser que ela deixará o Ministério dos Esportes. A intenção de Lula é entregar a pasta ao líder do PP na Câmara, André Fufuca (MA). O final do acerto com o grupo comandado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), visa dar Portos e Aeroportos para o deputado Silvio Costa Filho (Republicanos-PE). O anúncio oficial poderá acontecer hoje.
Apesar da conversa de Lula com Ana Moser, ainda não se pode dizer que tudo esteja acertado. Durante todo o dia, o PP enviou sinais de que poderia no final não aceitar o ministério hoje ocupado por Ana Moser. Sinalizava que considerava a oferta pouca. O PP cobiçava o Ministério do Desenvolvimento Social, e Lula chegou mesmo a considerar entregá-lo, retirando, porém, o Bolsa Família da pasta. Depois, recuou da possibilidade. Iria desprestigiar o ministro Wellington Dias, senador eleito no Piauí, estado que proporcionalmente deu mais votos a Lula. Também acabaria privilegiando o partido presidido pelo maior adversário regional de Wellington, o senador e presidente do PP, Ciro Nogueira.
Com o recuo, Lula passou a negociar os Esportes. Em princípio, parecia que estava tudo certo. A pasta tinha a capilaridade desejada para pulverizar recursos orçamentários pelo país, o principal interesse do Centrão. Mas julgou-se depois que o tamanho total do orçamento seria pequeno. O governo cogita engordá-lo. Mas as informações é de que à noite ainda havia resistências.
Portos e Aeroportos
Se o PP aceitar de fato o Ministério com o feminicídio de Ana Moser, a outra pasta negociada com o Centrão seria Portos e Aeroportos. Não, porém, também sem problemas. O atual ministro, Márcio França, reagiu ontem à fritura. Ex-governador de São Paulo que substituiu no cargo Geraldo Alckmin, foi França o artífice da aproximação do atual vice-presidente com Lula.
Para abrigar Silvio Costa Filho, Lula teria que tirar Márcio França. Cogitou-se desloca-lo para Ciência e Tecnologia, o que geraria um novo feminicídio político, já que a atual ministra é Luciana Santos, do PCdoB. Ou deixar Márcio França sem cargo algum.
Nas reações, Márcio França ainda cobrou o fato de ter sido impedido de disputar o governo de São Paulo no ano passado, que era a sua pretensão. Acertou-se sua saída para apoiar a candidatura do atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad, do PT, que acabou derrotado pelo atual governador, Tarcísio de Freitas. Tarcísio é justamente do Republicanos, o partido que agora ganharia Portos e Aeroportos, defenestrando Márcio França.
Lula teria, então, uma conversa com o próprio Geraldo Alckmin para que o vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio o ajudasse na solução.
Índia
Nenhuma dessas mexidas foi ainda oficialmente confirmada pelo governo. Até porque elas agora dependem de fato da aceitação dos ministros e dos partidos. Embora tudo pareça mais pacífico no Republicanos, há ali também resistências. A mais forte é justamente de Tarcísio de Freitas, que chegou a declarar que sairia do partido caso ele passasse a integrar a base de Lula.
Se Lula conseguir resolver tudo, sua intenção é anunciar oficialmente as trocas ministeriais nesta quarta-feira. Na quinta-feira (7), além do fato de ser feriado, o Dia da Independência, no final do dia Lula embarcará para uma nova viagem internacional. Irá à Índia, para a reunião do G-20, grupo dos 20 países mais ricos do mundo. Politicamente, adiar novamente a reforma para depois de mais uma viagem poderia ser um grande risco.
