A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os atos antidemocráticos de 8 de janeiro, em Brasília, ouviu nesta terça-feira (26) o depoimento do ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) general Augusto Heleno. Nesta quinta-feira (28), a comissão vai ouvir Alan Diego dos Santos Rodrigues, preso por tentar explodir uma bomba em um caminhão próximo ao aeroporto de Brasília em dezembro de 2022.
Golpe
Em seu depoimento, o depoente chamou o relato feito pelo tenente-coronel Mauro Cid de “fantasia”. O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro declarou, em delação à Polícia Federal de que Augusto Heleno teria presenciado reuniões em que o então presidente, Jair Bolsonaro, e chefes das Forças Armadas trataram da tentativa de um golpe de Estado.
"Não [tive conhecimento]. E eu quero esclarecer que o tenente-coronel Mauro Cid não participava de reuniões. Ele era o ajudante de Ordens do presidente. Não existe essa figura do ajudante de Ordens sentar em uma reunião com os comandantes de força e participar da reunião. Isso é fantasia", declarou o depoente ao ser questionado pela relatora da Comissão, senadora Eliziane Gama (PSD-MA).
A fala de Augusto Heleno acabou confrontada com uma foto exibida por Eliziane. Na foto, acontece uma reunião de Bolsonaro com os comandantes militares, Augusto Heleno e Bolsonaro. Atrás, está Mauro Cid. “Uma foto vale por mil palavras”, conformou-se Heleno.
O general Heleno também declarou que não tinha conhecimento da existência de um documento com diretrizes para o estabelecimento de um golpe de Estado no Brasil, que ficou conhecido como “minuta do golpe”.
" Nunca nem ouvi falar. Eu estou sob juramento. O presidente da República disse várias vezes, na minha presença, que jogaria dentro das quatro linhas da Constituição. E eu não tive a intenção de fazê-lo sair das quatro linhas", disse.
Ele ainda disse que, se tivesse o "desejo de participar de um golpe", teria "tirado" seu time de campo quando ouviu Bolsonaro afirmar que atuaria "dentro das quatro linhas". E na sequência, ele voltou a defender que o Brasil não passou por uma tentativa de golpe.
“Para caracterizar uma tentativa de golpe num país de 8,5 milhões de quilômetros quadrados com mais de 200 milhões de habitantes, é preciso uma estrutura muito bem montada. É preciso haver uma direção, uma cabeça muito preparada para conseguir fazer um golpe que dê certo com meia dúzia de curiosos que fazem umas besteiras”, disse o depoente.
Confusões
Mais uma vez, a sessão da CPMI foi marcada por confusões. Em determinado momento, Augusto Heleno chegou a xingar Eliziane. Ela questionou o general sobre se ele achava ter havido “fraude” nas eleições do ano passado. Heleno respondeu que o resultado das eleições estava consagrado, com o presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, eleito. “O senhor mudou de ideia, então”, comentou Eliziane, para irritação de Heleno. “Ela ficou botando palavras na minha boca! É pra ficar p... P...que p...!”
Em outro momento, o presidente da CPMI, deputado Arthur Maia (União-BA), expulsou da sessão o deputado Abílio Brunini (PL-MT). Brunini foi expulso após interromper a fala da deputada Duda Salabert (PDT-MG). Maia pediu que ele se retirasse, e ele se recusou. O presidente da CPMI viu-se obrigado a suspender a sessão até que Brunini saísse.
Acampamento
Questionado sobre o acampamento montado por apoiadores de Bolsonaro em frente ao Quartel-General do Exército em Brasília, Augusto Heleno disse que considerava o movimento uma "manifestação política e pacífica”.
O general também disse que "jamais tratou de política" com os servidores do Gabinete de Segurança Institucional, pasta que chefiou na gestão do governo Bolsonaro.
CPI do MST
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga a atuação do Movimento dos Sem Terra (MST) adiou a entrega do relatório da comissão para esta quinta-feira (28). A sessão final para a votação do relatório final, de autoria do deputado Ricardo Salles (PL-SP), estava prevista para acontecer nesta terça-feira, mas foi cancelada devido a um pedido de vista. A informação foi divulgada por uma nota oficial da CPI.
O prazo final para entregar o relatório era ontem. A expectativa é que o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), prorrogue até esta quinta-feira (28) os trabalhos da CPI para que o relatório seja votado. O deputado já prorrogou anteriormente o prazo do colegiado, dando uma semana a mais para os deputados concluírem os trabalhos.
Na quinta-feira da semana passada (21), o relator da CPI Ricardo Salles chegou a ler seu relatório final. Porém, parlamentares da base governista pediram vista, ou seja, mais tempo para análise a votação foi adiada. Portanto, se Lira não assinar um novo ato para que a prorrogação entre em vigor, a CPI será encerrada sem nenhum relatório final.