Por: Ana Paula Marques

Sob silêncio, blogueiro negocia delação premiada

Wellington pode negociar uma delação com a CPMI | Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

Wellington Macedo de Souza, blogueiro condenado por colocar uma bomba em caminhão de combustível próximo ao Aeroporto Internacional de Brasília, no final de 2022, decidiu usar seu direito de ficar em silêncio durante a CPMI que investiga os atos antidemocratismos de oito de janeiro, da última quinta-feira (21). Ele, porém, cogita negociar uma delação premiada com a comissão.

Amparado por um habeas corpus obtido junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), Wellington avisou logo no início da oitiva que iria ficar em silêncio e que colaborará com a comissão quando a defesa tiver acesso às investigações contra ele.

A relatora da CPMI, Eliziane Gama (PSD-MG), ofereceu delação premiada ao investigado após assistir ao vídeo apresentado pelo deputado Rogério Correia (PT-MG). Nele, Macedo chora e diz ter sido deixado “para trás” pelos aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), como a deputada Carla Zambelli (PL-SP) e a senadora Damares Alves (Republicanos-DF).

A manobra da base governista foi respondida pela defesa do blogueiro, que diz estar disposta a conversar com os parlamentares sobre a possibilidade na próxima semana. A CPMI tenta investigar possíveis ligações entre Wellington e Jair Bolsonaro.

Caso aconteça, será a primeira vez que uma Comissão Parlamentar de Inquérito fará acordo de delação com um depoente. A possibilidade teve o aval da Advocacia do Senado, em parecer do dia 29 de agosto, caso haja participação e autorização do Ministério Público.

Ao Correio da Manhã, a senadora afirma que a possibilidade só depende de Wellington. “Precisa haver a manifestação do depoente e a devida formalização nesse sentido”, disse.

CPI esvaziada

Já na última reunião da CPI do MST, realizada também na quinta-feira (21), o deputado Ricardo Salles (PL-SP), apresentou seu relatório final, onde pede o indiciamento de 11 nomes membros do movimento e também do ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência, o general Gonçalves Dias. Mas retira o nome do deputado Valmir Assunção (PT-BA), apontado na primeira versão do relatório.

Salles pretendia votar seu relatório, mas o bloco governista pediu vista. O texto agora só será apreciado na próxima terça-feira (26). Apesar da tentativa da oposição de aprovar o parecer com a manobra de retirada do nome do deputado petista, a base do governo avalia ter votos suficientes para rejeitar o relatório final.

Salles critica o movimento no texto ao chamar de “facções criminosas”, além de afirmar que o MST atenta contra produtores rurais e contra os “próprios integrantes — das organizações — lideranças, militantes que abusam e prosperam à custa dos liderados” O deputado declara também que “não há justificativa moral, social ou econômica para tamanho caos instalado no campo, em virtude das invasões de propriedade e seus crimes correlatos”, critica.

A CPI que foi Instalada pela oposição para investigar as invasões do MST, perdeu a maioria oposicionista que tinha no início. Integrantes foram substituídos, dando ao governo maioria, o que abriu margem a base governista para elaborar e até ter a chance de aprovar o relatório paralelo feito pela deputada Sâmia Bonfim (Psol-SP), que vai contra os indiciamentos e defende o MST.