O general Gustavo Henrique Dutra declarou que "não houve inércia" do Exército na contenção dos atos golpistas em seu depoimento à CPMI que investiga a invasão e depredação dos prédios da República no dia 8 de janeiro. Dutra era o responsável pela região do Quartel General em Brasília, onde centenas de pessoas ficaram acampadas por cerca de dois meses antes das invasões às sedes dos três poderes.
Perguntado sobre a retirada desses grupo, o general defendeu que em nenhum momento impediu a desmontagem do acampamento e também afirmou que não era da competência do exército afirmar que o acampamento era “legal ou ilegal”.
Dutra usa, em sua defesa, o argumento de que a Justiça não solicitou a remoção dos acampados, por isso então, não poderia desmobilizar a manifestação golpista que vinha acontecendo, sob risco de violar o direito a protestar.
“Não cabia ao Exército fazer qualquer juízo de valor sobre o teor das manifestações ou o controle de legalidade das pautas reivindicadas”, disse Dutra ao falar que as manifestações em frente ao QG eram pacificas e afirmar que a retirada das pessoas que manifestaram foi feita aos poucos e contou com a cooperação das mesmas.
Contradições
O general, que também era comandante do Comando Militar do Planalto, declarou também que as pessoas que chegaram nos ônibus em 7 de janeiro não eram as mesmas que estavam acampadas no Setor Militar Urbano. “As pessoas que estavam no dia 7 não eram as pessoas que estavam durante novembro e dezembro no acampamento”, disse.
A relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama (PSD), rebateu as afirmações do general. Lembrou, por exemplo, que foi no acampamento que George Washington Sousa planejou a colocação de uma bomba em um caminhão próximo ao Aeroporto de Brasília.
Além disso, o general disse que não sabia da presença de militares da reserva no acampamento. A relatora novamente lembrou da existência de um grupo que se autointitulava "boinas vermelhas", que postava imagens nas redes sociais onde circulavam fardados pelo acampamento e discursavam em palcos montados entre as barracas.
Dutra também declarou que a estratégia que o Exército estava seguindo era para impedir a logística e infraestrutura do acampamento. De novo, foi rebatido por Eliziane, que citou que a pedido do Exército foram enviados serviços de coleta de lixo e limpeza do acampamento, e que as pessoas recebiam água e alimentos sem serem impedidos pelos militares.
Braga Neto
A CPMI marcou o depoimento do ex-ministro da Casa Civil do Brasil Walter Braga Netto para a próxima terça-feira (19). A oitiva acontecerá uma semana depois do, ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL), ter seu sigilo telefônico quebrado pela Polícia Federal na investigação sobre a polêmica das joias que envolve várias autoridades próximas ao ex-presidente da república.
No texto de seu requerimento apresentado pela relatora da CPMI, a justificativa da oitiva do militar é sua suposta influência na “tentativa de golpe” e “trama golpista” no dia dos atos antidemocráticos.