As doenças cardiovasculares continuam sendo um dos maiores desafios de saúde pública no Brasil. Embora ainda liderem em mortalidade, os números recentes revelam uma tendência de melhora, mas também mostram fragilidades que exigem atenção imediata.
Em 2022, a estimativa do estudo Carga Global de Doenças apontou que aproximadamente 400 mil brasileiros perderam a vida por doenças cardiovasculares, com infarto do miocárdio e AVC respondendo por 76% desses óbitos. Esse número é muito impactante: comparável ao pior ano da pandemia.
Por outro lado, a taxa de mortalidade padronizada por idade vem caindo firmemente. O índice caiu de 356 mortes por 100 mil habitantes em 1990 para 158 por 100 mil em 2022, uma redução de 55%, superior à média global, que registrou queda de 35% no mesmo período.
O boletim "Estatística Cardiovascular - Brasil 2023" também sustenta esse quadro: entre 1990 e 2021, a taxa de mortalidade por doenças cardiovasculares recuou 53,5%, tendo sido mais marcante entre as mulheres (-56%) do que nos homens (-50,5%). No entanto, o número absoluto de mortes segue elevado — reflexo do envelhecimento populacional e do aumento da expectativa de vida.
A pandemia de COVID 19 provocou um choque nas tendências de queda. De acordo com pesquisa publicada em 2025, entre 2020 e 2022 houve um excesso de mortalidade por doenças cardiovasculares (DCV), incluindo aumento de 8% nos óbitos por doenças cerebrovasculares, 18% por doenças isquêmicas do coração e 23% por outras DCV.
Além disso, as desigualdades regionais continuam expressivas. Estados como Maranhão, Roraima, Amapá, Alagoas, Tocantins e Pernambuco apresentam taxas de mortalidade padronizada significativamente mais altas que Amazonas, Rio Grande do Sul, Bahia e Minas Gerais.
No âmbito da insuficiência cardíaca, dados de 2019 a 2023 indicam 150.243 mortes, principalmente em pacientes com mais de 80 anos, sendo mais frequente entre indivíduos brancos.
Esses números nos ensinam que, mesmo com progresso, as doenças cardiovasculares permanecem como prioridade. A melhora da mortalidade relativa precisa ser reforçada por ações eficazes de prevenção primária: combate à hipertensão, adoção de dieta saudável, atividade física, controle do diabetes, abandono do tabagismo e redução do consumo de sal e alimentos ultraprocessados.
Portanto, quando conversamos sobre o coração do Brasil, não falamos apenas de estatísticas — falamos de vidas que podem ser salvas com informação, cuidados adequados e políticas públicas efetivas. A realidade brasileira indica avanços que devemos fortalecer e desigualdades que precisamos eliminar.
*Dr. Aloisio é cardiologista e vereador de Petrópolis