Por Gabriel Rattes
Artista visual e curador Cocco Barçante, criador do Museu do Artesanato do Estado do Rio de Janeiro, estreou no dia 5 de junho, em Lisboa, a exposição coletiva "O DOM da Artesania". A mostra poderá ser visitada até o dia 6 de julho, na Galeria Arte da Graça, e reúne obras de 16 artistas brasileiros e 10 portugueses.
Esta é a quarta vez que Cocco leva sua arte para terras portuguesas. Em exposições anteriores, já abordou temas como territórios afetivos, o elétrico de Lisboa e a liberdade criativa. Agora, a proposta é promover um diálogo entre os dois países por meio do artesanato, com destaque para a diversidade cultural e a troca de inspirações entre os artistas.
Uma ponte entre o Brasil e Portugal
A mostra é uma realização do Museu do Artesanato, com o apoio de instituições brasileiras e portuguesas. Segundo Cocco, essa conexão é especialmente importante em um momento de polarizações e distanciamentos entre nações que sempre mantiveram relações de proximidade. A mostra reafirma a importância do intercâmbio cultural como forma de manter vivas essas pontes simbólicas. Para ele, a estética do artesanato brasileiro e português é "complementar, rica em elementos que se reconhecem e se somam".
Formação em Petrópolis e raízes na arte
A relação de Cocco Barçante com a cidade de Petrópolis é profunda e afetiva. Ele destaca que foi na cidade serrana que deu os primeiros passos no universo das artes. "Minha formação começou em Petrópolis. Em 2027 completo 50 anos de carreira e meu primeiro curso de arte foi aos 12 anos, no Centro de Escultura Raul de Leoni, com uma professora de pintura em tela. Foi ali que tudo começou", conta o artista.
Durante a adolescência, ele vendia suas obras artesanais na feira da Praça dos Expedicionários, em frente ao Museu Imperial e ao Teatro Municipal. A experiência marcou o início de sua trajetória empreendedora.
Cocco afirma que Petrópolis também influenciou sua visão curatorial e estética. "Costumo dizer que o Rio de Janeiro é minha inspiração e Petrópolis é a minha paleta de cores. É uma cidade que traz esse olhar da afetividade, da contemplação. É também considerada uma das cidades mais seguras do Brasil. Isso tudo se reflete no meu trabalho", disse.
O artista defende que Petrópolis tem muito a ganhar apoiando iniciativas culturais como essa, que valorizam a identidade local, promovem o território e atraem novos olhares para a cidade. Ele destaca ainda a importância da arte como ferramenta de transformação social, colaborando com a educação, com a percepção crítica e até mesmo com a pesquisa científica. Um exemplo disso são as ações desenvolvidas em parceria com o Museu do Artesanato em Petrópolis e agora levadas ao exterior.
Projeto DOM
A exposição em Lisboa tem origem na Coleção DOM, criada por Cocco em 2007, em comunidades do Rio de Janeiro. O projeto foi desenvolvido com apoio institucional e buscava fomentar o empreendedorismo cultural. A sigla DOM, criada pela gestora de projetos Márcia Manhães, representa:
D - Dignidade das origens e histórias de vida dos artesãos
O - Ousadia de criar, sonhar e acreditar
M - Maestria nas técnicas e materiais usados
Na atual edição, artistas brasileiros e portugueses apresentam obras que dialogam com essas premissas e celebram as trocas entre os dois países. Do lado brasileiro, há influências de nomes como Bispo do Rosário, Dona Isabel do Vale do Jequitinhonha, o Grupo Bordando o Futuro e o pintor Volpi. Do lado português, destacam-se inspirações como Bordalo Pinheiro, os tradicionais azulejos e o artista Bordalo II.
A exposição se conecta ainda com o mês das Festas dos Santos Populares, tendo o Dom de Santo Antônio e o 13 de junho como inspiração para a narrativa visual da mostra.
Apoio e parceiros
A mostra conta com o apoio da Junta de Freguesia de São Vicente, Galeria Arte Graça, Governo do Estado do Rio de Janeiro / Faeterj Petrópolis, Prefeitura de Três Rios, SEBRAE-RJ, Associação dos Embaixadores de Turismo do Rio de Janeiro e Quipotech. A cor amarela, escolhida como identidade visual da mostra, simboliza a energia vital, o recomeço e a reinvenção.
Oficinas e programação paralela
Durante o período da exposição, foram realizadas uma série de oficinas gratuitas e atividades que aproximam o público da arte e do artesanato:
? 08/06 - 14h: Oficina de papel machê com Joaquim Pinto (Barcelos)
? 14/06 - 15h: Oficina de bordado em papel com Patrícia Martins de Andrade (Lisboa)
? 28/06 - 15h: Oficina de cerâmica com Sara Ribeiro (Lisboa)
? 28/06 - 18h: Exibição do documentário "Cidade Esquecida" (Petrópolis)
? 06/07 - 15h: Oficina de pintura em tecido com Cocco Barçante (Petrópolis)
Artistas participantes
? Do Brasil: Luciano Alves e Zuzu Vieira (RJ), Juan Pablo (RJ), Grupo Marias das Artes (Três Rios), Grupo Bordando o Futuro (Itaperuna), Duda Fingolo Tostes (Miracema), Condomínio da Arte (Piraí), Gloria Correia (Petrópolis), Camilo Moreira (Petrópolis), Carla Andréia (São Francisco de Itabapoana), Katia Angeloff (RJ), Valéria Vidigal (Vitória da Conquista/BA), Miriam Freitas (RJ), Maria Onília (Barra do Piraí), Caca Valente (RJ), Florarte (Rio das Flores).
? De Portugal: Sara Ribeiro, Alberto Castro, Raquel Moita, Joaquim Pinto, Beto Neves, Paulo Valle, Patrícia Martins de Andrade, Paula Eber, Nélia Farto e Norman Ramunni.