A procissão da santa vermelha

Registros de performances realizadas entre 2017 e 2024 chegam ao Sesc Niterói na mostra 'Projeto Invasões'

Por

Parte do material exposto resulta de uma série de performances realizadas entre 2017 e 2018, nas quais a dupla de artistas "invadiu" três pontos da Baía de Todos os Santos

Em cartaz no Sesc Niterói, a exposição "Projeto Invasões" apresenta um conjunto de trabalhos — entre vídeos, fotos e objetos — produzidos entre 2017 e 2024 pela dupla baiana de artistas Lucas Feres e Lucas Lago, tensionando a relação entre cidade, memória e poder.

A investigação dos artistas interdisciplinares enquadra a Baía de Todos os Santos, em Salvador, como um território permeado por tensões e disputas, recorrendo ao imaginário das invasões marítimas coloniais para revelar as múltiplas camadas que compõem a região.

A mostra discute as ressonâncias entre o projeto colonial e os atuais processos de especulação, cercamentos, esquecimentos e ocultamentos nessa paisagem. Depois de uma primeira montagem em Salvador, em 2018, o projeto chega a Niterói, estabelecendo um paralelo conceitual e geográfico entre a Baía de Todos os Santos e a Baía de Guanabara.

Parte do material exposto resulta de uma série de performances realizadas entre 2017 e 2018, nas quais a dupla de artistas "invadiu" três pontos da Baía de Todos os Santos: a praia do Museu de Arte Moderna da Bahia, o complexo turístico Bahia Marina e o Forte de São Marcelo. A escolha desses locais considerou o fato de que o acesso a cada um desses espaços estava completamente ou parcialmente vedado à população no momento da execução do trabalho. As invasões foram realizadas pela figura mítica da "santa vermelha", fosse ela encarnada no corpo de um dos artistas, bordada em um estandarte ou ainda como uma escultura em gesso.

Para esta montagem no Sesc Niterói, contemplada pelo edital Sesc Pulsar 2023/2024, a dupla produziu obras inéditas que exploram a articulação entre as baías, com base nas narrativas de origem Tupinambá de ambas.

Segundo a curadoria da exposição, realizada pelos historiadores da arte Joyce Delfim e Nathan Gomes, os artistas inscrevem seus trabalhos no passado colonial das cidades de Salvador e Niterói através do uso do termo invasão, em oposição à ideia de 'descoberta' ou 'encontro'. "Dessa forma, evidenciamos como diferentes camadas de tempo estão presentes nas paisagens da Baía de Todos os Santos e da Baía de Guanabara. O recurso ao imaginário cristão, tanto pela figura da santa vermelha quanto pelas procissões marítimas, ressalta como festividade, humor e ironia são conceitos operatórios utilizados no processo de investigação artística de Feres e Lago", explica Joyce. "Ao mesmo tempo, apontamos para a permanência de estruturas de poder e formas de invasão colonial em territórios originalmente indígenas e nas periferias urbanas, por meio da especulação imobiliária. A curadoria busca abordar os trabalhos de forma a discutir as relações entre paisagem e poder, bem como as formas insubmissas de ocupação do espaço público", complementa Nathan.

SERVIÇO

PROJETO INVASÕES

Galeria de Arte do Sesc Niterói (Rua Padre Anchieta, 56 - São Domingos)

Até 9/11, de terça a sábado (10h às 16h)

Entrada franca